Um ano depois dos ataques de 8 de janeiro aos Três Poderes, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Alexandre de Moraes, disse que um dos planos dos golpistas era prendê-lo e enforcá-lo. Em entrevista ao jornal “O Globo” publicada nesta quinta-feira (4), Moraes afirmou que o governo Luiz Inácio Lula da Silva acertou ao optar por uma intervenção federal e por não decretar uma GLO (Garantia da Lei e da Ordem), e disse que a rápida reação dos Poderes evitou um “efeito dominó” em outros Estados, barrando a eventual adesão de governadores e forças policiais ao movimento dos golpistas.
Relator das investigações sobre a investida golpista no Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro afirmou que os bolsonaristas radicais tinham três planos contra ele. Um previa que as Forças Especiais do Exército o prenderiam e o levariam para Goiânia. Outro plano era de matá-lo e se “livrar” do corpo a caminho da capital goiana. O terceiro, defendido por bolsonaristas mais exaltados, era de ele ser preso e enforcado publicamente, na Praça dos Três Poderes.
No dia dos ataques, o ministro estava em Paris com sua família. Moraes afirmou ter conversado com o presidente Lula e com o ministro da Justiça, Flávio Dino, e relatou ter indicado a possibilidade de o governo fazer uma intervenção federal só na área da segurança – e não uma GLO.
Ao relembrar da tentativa de golpe no dia 8 de janeiro de 2023, Moraes citou três decisões que tomou: as prisões do então secretário (Anderson Torres) e do comandante geral da Polícia Militar (Fábio Augusto Vieira), “para evitar efeito dominó em outros estados”; o afastamento do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, “para evitar que pudesse ocorrer algo extremista em outros Estados, eventualmente outro governador apoiar movimento golpista”; a determinação de prisão em flagrante imediata de quem permanecesse em frente a quartéis pedindo golpe.
Na entrevista, o ministro do Supremo afirmou que reforçou a segurança de seus familiares depois dos atos golpistas, e relatou que suas filhas são as principais vítimas das ameaças de bolsonaristas radicais. “Esses golpistas são extremamente corajosos virtualmente e muito covardes pessoalmente. Chegam muitas ameaças, principalmente contra minhas filhas, porque até nisso eles são misóginos. Preferem ameaçar as meninas e sempre com mensagens de cunho sexual”, afirmou Moraes. “É um povo doente.”
O magistrado defendeu a prisão dos envolvidos nos atos golpistas. “Os presos são de classe média, principalmente do interior, e acham que a prisão é só para os pobres”, disse ao jornal “O Globo”. “A Justiça tem que ser igual para todos”.
Moraes defendeu a regulamentação das redes digitais e disse que essa será uma bandeira do TSE neste ano. O magistrado avaliou que se houvesse uma regulamentação, “dificilmente” os atos golpistas teriam ocorrido de forma tão massiva. “Na parte criminal eleitoral, todos os políticos, quando houver comprovação de participação, devem ser alijados da vida política, além da responsabilidade penal. Quem não acredita na democracia não deve participar da vida política do país.”