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sexta-feira 21 de julho de 2023 às 06:36h

Ucrânia virou ‘trágico laboratório’ para tecnologia de guerra, diz ministro britânico

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A Ucrânia se transformou num “trágico laboratório” para tecnologias de guerra, mas as lições aprendidas servem como informação para o futuro das Forças Armadas britânicas, disse o ministro da Defesa do Reino Unido, Ben Wallace.

Wallace discursou durante o lançamento de um relatório atualizado sobre o cenário militar. A versão anterior do documento havia sido publicada pelo governo britânico antes do início da guerra.

Segundo o ministro, a eficácia das armas enviadas pelos aliados a Kiev influenciou fortemente o cenário atual.

“Seríamos muito tolos se ignorássemos essas lições e não as importássemos para nossas próprias Forças Armadas”, disse ele.

O documento atualizado define como o Reino Unido investirá 2,5 bilhões de libras (R$ 15,5 bilhões) adicionais em gastos com defesa. Wallace disse que o governo não planejava lançar uma nova versão do relatório tão cedo, mas o mundo mudou e se tornou mais volátil.

Wallace, que planeja deixar o cargo de ministro da Defesa na próxima reforma de gabinete, após quatro anos no cargo, disse: “A guerra na Ucrânia concentrou as atenções porque há um adversário muito real sendo muito agressivo, quebrando todas as regras no continente europeu e travando uma guerra destinada a destruir um país”.

“Isso nos fez perceber que seria melhor arriscar menos do que quando fizemos este relatório originalmente”, afirmou. “Originalmente, tínhamos tirado algumas coisas de serviço, prevendo uma pequena lacuna no meio da década, para então adquirir novo equipamento. Isso é algo que não quero mais arriscar.”

A experiência das Forças Armadas ucranianas e a forma como os aliados foram capazes de ajudar — incluindo adaptações rápidas de equipamentos existentes para atender às necessidades de Kiev — é o fio condutor de grande parte do documento publicado na terça-feira (18/7).

Segundo o relatório, uma das lições aprendidas com a guerra é de que o ritmo de inovação está ficando mais rápido — e não pode ser atendido pelos programas tradicionais, muitas vezes de décadas, para obter equipamentos. Em vez disso, os equipamentos devem ser projetados com a possibilidade de fazer atualizações rápidas.

O parecer também destaca a necessidade de aproveitar a tecnologia mais recente — incluindo IA e computação quântica — para tornar as Forças Armadas britânicas mais ágeis e adaptáveis.

“Novas tecnologias não são truques, elas são fundamentais para lutar em uma guerra moderna”, disse Wallace.

Ele acrescentou que analisar as estratégias em jogo na Ucrânia ajudaria a “garantir que possamos estar preparados para qualquer conflito futuro”.

O documento também estabelece planos para que mais pessoas desenvolvam uma carreira em “zigue-zague” — o que pode incluir deixar o Exército para ganhar experiência em outro lugar e depois ingressar novamente.

Os jovens “preveem carreiras flexíveis e se veem trabalhando em várias profissões diferentes, em vez de progredirem dentro de uma única organização”, diz o documento. Dessa forma, o governo vai abraçar “maior oportunidade de mobilidade profissional entre empregos na defesa e qualquer outro emprego que gostariam de buscar em outro lugar”.

O relatório prevê ainda 400 milhões de libras para a modernização das acomodações destinadas às famílias de oficiais em serviço. Esse gasto já estava previsto no orçamento de Defesa, mas foi realocado.

A atualização do documento não inclui cortes no tamanho do Exército — isso já foi anunciado em uma revisão em 2021, com um plano de reduzir o Exército para 72.500 soldados até 2025.

Defesa com drones e artilharia

Outra lição da guerra na Ucrânia é o “poder da guerra eletrônica”, disse Wallace, explicando: “O uso da guerra [eletrônica] para atuar como isca ou como defesa está se tornando muito importante, por isso sobe na lista de prioridades.”

Ele disse que a guerra na Ucrânia também levou à priorização do uso de artilharia de “fogo profundo” e informou a decisão de retirar os antigos canhões de 155 mm e trazer novos substitutos.

“Vimos uma mudança geracional nos alcances da artilharia de ‘fogo profundo'”, disse ele. “O canhão de 155mm teve aproximadamente um alcance de 22 a 25 km por cerca de 50 anos.”

“Com a nova geração, podemos obter alcances de 60 km no futuro. Portanto, tomei a decisão de eliminar gradualmente o antigo 155 mm [para] o Archer 1 sueco.”

A artilharia desempenhou um papel significativo para ambos os lados na Ucrânia. As forças armadas da Grã-Bretanha, no entanto, reduziram suas forças de artilharia desde o fim da Guerra Fria.

Wallace disse: “No final da Segunda Guerra Mundial, 35% do Exército era de artilharia. Agora, é cerca de 8%. O ‘fogo profundo’ é algo que precisamos reequilibrar. Essas são as lições.”

O Partido Trabalhista disse que o plano foi “impulsionado por custos, não por ameaças” e também questionou se resistiria ao teste do tempo, com Wallace prestes a renunciar.

“Como seu próprio futuro agora é curto, quanto tempo dura a vida útil de seu plano?” perguntou o secretário de defesa do Partido Trabalhista, que faz oposição ao governo, John Healey.

“Os líderes industriais e militares não podem ter certeza de que seu sucessor concordará com suas decisões, aceitará seus ordens e agirá de acordo com sua abordagem.”

Falando na Câmara dos Comuns depois que Wallace expôs seu plano, Healey também criticou o tempo levado para atualizar o relatório, dizendo: “Por que esse plano foi tão adiado? Já se passaram 510 dias desde que Putin destruiu a segurança europeia”.

Legado de 24 bilhões de libras

Ex-militar, Wallace desempenhou um papel fundamental na resposta do Reino Unido à invasão russa da Ucrânia.

Falando sobre a marca que esperava deixar no Ministério da Defesa, Wallace disse à BBC que o primeiro-ministro Rishi Sunak deu a seu departamento um “enorme legado de 24 bilhões de libras”.

“Eu entrei e tivemos um aumento real em nossos gastos com defesa”, disse.

Ele também alertou que o conflito na Ucrânia serviu como um lembrete de que “existem pessoas más por aí querendo fazer coisas ruins à Grã-Bretanha e a seus aliados”.

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