domingo 28 de abril de 2024
Procurador-geral de Nova York concluiu que Trump e sua empresa enganaram bancos, seguradoras e outros — Foto: AP Photo/Alex Brandon
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sábado 23 de março de 2024 às 17:32h

Trump corre contra o tempo para proteger sua fortuna da Justiça dos EUA

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No espaço de apenas alguns dias, a posição financeira de Donald Trump passou de aparentemente terrível — risco de confisco de bens imóveis valiosos se não conseguir o dinheiro para uma grande caução —, para potencialmente deslumbrante, com as revelações de que sua companhia de rede social poderá lhe render mais de US$ 3 bilhões.

Isso não é nenhuma novidade para um homem que há muito anda na montanha-russa da sorte, adquirindo e perdendo ativos valiosos repetidamente. Quando sua posição financeira parece estar mais ameaçada, ele sempre encontra um meio de se livrar do problema e ressurgir revigorado, conforme reportagem de Peter Grant e John McCormick e Corinne Ramey, da Dow Jones.

A grande questão é se essa sorte inesperada chegará a tempo de socorrê-lo mais uma vez.

O ex-presidente enfrenta, antes de mais nada, um julgamento de US$ 454 milhões em um caso de fraude civil em que um juiz considerou que ele inflou seu patrimônio durante anos para obter ganhos financeiros. A menos que um tribunal de recursos decida logo a favor de Trump, a procuradora-geral de Nova York Letitia James, uma democrata que abriu o caso, poderá começar a tentar confiscar seus bens a partir de segunda-feira (26).

Também nesta segunda, a controladora da empresa de rede social de Trump — a Truth Social — poderá passar a ter suas ações negociadas publicamente sob o código “DJT” (as iniciais do nome do ex-presidente) na Bolsa de Nova York. Em razão de sua participação acionária, isso poderia essencialmente dobrar o seu patrimônio líquido estimado. Mas ele não pode vender as ações ou contrair empréstimos usando os papéis como garantia por seis meses, a menos que obtenha uma isenção da empresa usada para abrir o capital da Truth Social.

Essas somas são muito maiores do que o buraco financeiro que ele enfrenta como presumível candidato republicano à presidência dos EUA. Trump está começando a corrida eleitoral de 2024 em desvantagem financeira, com alguns doadores ainda receosos em contribuir. Assessores de Trump acreditam que têm muito tempo para diminuir essa diferença em relação ao presidente Joe Biden.

Relatórios de arrecadação de fundos divulgados na quarta-feira (21) mostraram que a campanha de Biden e os comitês aliados tinham mais de US$ 155 milhões no fim de fevereiro, comparado a apenas US$ 74,4 milhões da campanha de Trump e seus comitês aliados. O total do ex-presidente, que não inclui um comitê adicional, que apresentará seu relatório somente no mês que vem, foi drenado em mais de US$ 53 milhões em despesas jurídicas desde o começo de 2023.

A corrida para a captação de recursos de campanha ainda se encontra nos estágios iniciais e Trump tem novas fontes de dinheiro à sua disposição, agora que é o suposto candidato. Além disso, a enorme cobertura midiática gratuita que ele obtém com suas declarações polêmicas, poderá mais do que compensar qualquer lacuna na captação de recursos em relação a Biden. Em 2016, a campanha de Hillary Clinton gastou quase o dobro da de Trump e ainda assim ela perdeu.

No entanto, seus problemas financeiros mais imediatos estão no sistema jurídico. Se conseguir uma caução, Trump poderá impedir James de tomar seus bens enquanto recorre no tribunal de apelação. Mas seus advogados consideraram isso uma “impossibilidade prática” em razão da magnitude da caução.

Na quarta (21) e quinta-feira (22), a campanha do ex-presidente enviou pelo menos quatro solicitações de captação de recursos focadas no julgamento do tribunal de Nova York. As linhas de assunto do e-mail eram “Tirem as mãos da Trump Tower!”, “Tirem suas mãos sujas da Trump Tower” e “A Trump Tower é minha!”.

Somando-se à pressão sobre seus recursos está uma caução de US$ 92 milhões que Trump obteve este mês para garantir seu recurso em um caso de difamação, em que um júri concluiu que ele deve US$ 83,3 milhões à escritora E. Jean Carroll por danos à sua reputação, quando ele negou as acusações dela de estupro.

Trump ainda poderá contornar esses obstáculos financeiros, tanto pessoais como políticos, como já fez no passado. Ele pediu a um tribunal de apelações que o isentasse da exigência de apresentar uma caução, argumentando que seus negócios seriam prejudicados de forma irreparável se ele for forçado a fazer isso. “Eu seria forçado a hipotecar ou vender grandes ativos, talvez a preços muito baixos, e se e quando eu vencer o recurso, eles estariam perdidos”, escreveu Trump esta semana nas redes sociais.

Ainda assim, a crise financeira de Trump cria um espetáculo de ano eleitoral de um candidato cuja identidade está ligada à sua reputação de bilionário que agora luta para angariar dinheiro.

“Uma caução desse tamanho não tem precedentes e simplesmente não está disponível no mercado comercial sob essas circunstâncias”, diz Eric Trump, vice-presidente-executivo da Trump Organization e filho do ex-presidente.

A crise financeira também lança uma nova luz sobre o desempenho da Trump Organization nos últimos anos, ao mesmo tempo que levanta uma dúvida: o que fará se tiver que produzir centenas de milhões de dólares muito em breve para evitar que a promotoria de Nova York confisque seus ativos?

Os primeiros passos da procuradora-geral de Nova York Letitia James poderão envolver buscaracesso às suas contas em instituições financeiras, segundo disseram advogados, seguidos de esforços para confiscar propriedades. James já registrou a decisão no condado de Westchester, onde fica a extensa propriedade de Trump em Seven Springs, o que é uma etapa processual antes do confisco de bens.

Trump provavelmente apresentará contestações legais a essas tentativas, levando a novas batalhas nos tribunais e à uma cobertura constante da mídia enquanto ele faz campanha. Advogados sugerem que ele poderia bloquear uma ação de James por meio de um pedido de falência, mas Trump relutaria em tomar tal medida por causa do possível dano à sua imagem e uma fonte próxima dele confirmou que isso não está sendo considerado no momento.

Uma empresa privada como a Trump Organization necessitaria de US$ 1 bilhão em ativos líquidos para obter uma caução e gerir o negócio, segundo disse em um documento protocolado no tribunal, um corretor de seguros contratado por Trump.

Trump certamente não tem US$ 1 bilhão em dinheiro disponível imediatamente. Em um depoimento no segundo trimestre do ano passado, ele estimou sua posição de caixa em “mais de US$ 400 milhões”. Seu patrimônio líquido é estimado em cerca de US$ 3 bilhões.

Mas grande parte de sua riqueza está ligada a hotéis, resorts, campos de golfe e propriedades em Nova York que ele provavelmente só venderia como último recurso. Seus ativos incluem a marca Trump e contratos de gestão no exterior que seriam muito difíceis de comercializar.

Entretanto, com a campanha presidencial esquentando, Trump terá inúmeras formas de captar recursos. Há muito um mestre em atrair pequenas doações de apoiadores pela internet, recentemente ele vem telefonando pessoalmente para doadores, inclusive para alguns que fizeram doações aos seus principais adversários republicanos nas primárias, segundo disseram fontes a par de suas atividades. Trump afastou alguns possíveis doadores em janeiro quando afirmou para que aqueles que fizessem contribuições para Nikki Haley seriam “permanentemente barrados” de seu movimento político.

O ex-presidente até agora não emitiu nenhum grande sinal de que pretende unir um partido dividido, após a desistência, neste mês, de Haley, ex-governadora da Carolina do Sul e embaixadora dos EUA na ONU, que foi o último grande desafiante de Trump nas primárias republicanas.

Art Pope, importante doador republicano e magnata do varejo da Carolina do Norte, que apoiou a campanha de Haley, disse não ter planos imediatos de contribuir para a campanha de Trump. Ele também poderá não votar nele, ao contrário de 2016 e 2020.

“Não votarei em Biden. Estou esperando para ver o que Trump vai fazer”, disse ele. “Continuo apoiando o Partido Republicano, mas não farei doações diretas para a campanha de Trump.”

Pope, que diz apoiar “o livre comércio entre os países livres”, é contra os apelos de Trump por aumento nas tarifas. Ele pretende concentrar suas contribuições de campanha no apoio a republicanos que concorrerem à Câmara dos Deputados e ao Senado e que se alinham melhor às suas visões políticas, do que em Trump.

Ele não descarta a possibilidade de fazer doações a Trump mais para o final do ano, mas disse que isso vai depender de quem ele escolher como companheiro de chapa, de como ele se posicionar em questões políticas e “do tom geral adotado nas eleições de novembro”.

Outro doador de Haley, que falou em “off”, disse que também está atento a quem Trump vai escolher como vice, para decidir se vai contribuir. Se um republicano mais tradicional for escolhido, ele disse que estará mais propenso a fazer uma doação.

Outros acreditam que alguns doadores que apoiaram outros candidatos republicanos nas primárias acabarão por mudar de ideia. “Com o campo republicano limpo e o presidente Biden atrás nas pesquisas de intenção de voto, alguns doadores republicanos que antes estavam congelados, estão começando a descongelar”, diz Ken Spain, um consultor republicano que presta assessoria à comunidade empresarial.

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