Morte de líderes do Hamas e Hezbollah gera apreensão quanto a escalada e possibilidade de um conflito regional. Grupos apoiados pelo Irã prometem retaliar. Israel se diz preparada para uma guerra “em todas as frentes”.A medida que cresce o temor de uma escalada nos conflitos no Oriente Médio, países como França, Alemanha, Estados Unidos, Reino Unido, México, Itália e Suíça pediram que seus cidadãos deixem o Líbano. A Suécia foi além e anunciou o fechamento de sua embaixada em Beirute, capital libanesa.
“Encorajamos as pessoas que querem deixar o Líbano a comprar qualquer bilhete disponível, mesmo que o voo não parta imediatamente ou não siga a sua rota preferida”, diz um comunicado da embaixada dos Estados Unidos em Beirute.
Paralelamente, em um contexto de ameaças massivas, as forças de segurança de Israel disseram que estão em alerta máximo e preparados para uma guerra em todas as frentes.
O temor é que além dos grupos radicais islâmicos Hamas e Hezbollah, outros grupos armados com o apoio de Teerã participem de uma agressão contra Israel, entre eles os Houthis do Iêmen e as milícias leais ao Irã no Iraque e na Síria.
Israel discute possíveis respostas a um ataque concentrado deste tipo. De acordo com a emissora israelense de TV Canal 12, elas incluiriam “a vontade de entrar numa guerra total neste contexto”.
Embora ainda não esteja claro quando estes ataques em grande escala poderiam ocorrer, as declarações de Teerã e do Hezbollah mencionam repetidamente os “próximos dias”.
Caso isso aconteça e Israel seja atacado por vários grupos, poderá contar com o apoio de seu principal aliado: os Estados Unidos, que já se comprometeram a reforçar as suas capacidades de defesa na região. Navios de guerra e caças adicionais seriam enviados para proteger as forças dos EUA e defender Israel, informou o Pentágono.
Na noite deste sábado (03/08), Israel foi alvo de mísseis lançados pelo Hezbollah, em uma retaliação a ataques israelenses a aldeias como Kafr Kila e Deir Siriane, no sul do Líbano, nos quais civis ficaram feridos.
De acordo com fontes de segurança libanesas, cerca de 50 foguetes foram disparados contra o norte de Israel a partir do sul do Líbano. Segundo a mídia israelense, muitos foguetes foram interceptados pelo sistema de defesa Domo de Ferro.
Ataques em Teerã e Beirute aumentam tensões
O cenário de uma guerra regional no Oriente Médio eclodiu após a morte de importantes líderes do Hamas e do Hezbollah na semana passada.
Na noite de quarta-feira, uma explosão em um prédio que pertence ao governo de Teerã, no Irã, matou um dos líderes do Hamas no exílio,Ismail Haniyeh. Algumas horas antes, o comandante sênior do Hezbollah, Fouad Shukur, havia sido morto num ataque aéreo em Beirute.
Israel assumiu a responsabilidade pelo ataque a Shukur, mas não reivindicou o ataque que matou Haniyeh. O Irã e o Hamas culpam os israelenses pelos assassinatos.
Israel afirma que Shukur orquestrou o ataque nas Colinas de Golã que matou 12 crianças isralenses no último fim de semana. Shukur também era um veterano do Hezbollah que teve envolvimento nos ataques terroristas que provocaram a morte de quase 300 soldados americanos e franceses no Líbano em 1983.
Já Haniyeh é apontado pelo governo israelense como o nome por trás da ofensiva terrorista lançada pelo Hamas em 7 de outubro em Israel, no qual cerca de 1.200 pessoas foram mortas e 250 feitas reféns, e que acabou por desencadear a atual guerra na Faixa de Gaza.
Morte de Haniyeh atrapalham negociações de cessar-fogo
O presidente dos EUA, Joe Biden, e outros membros do governo americano veem como chave para frear a eclosão de um possível conflito regional um acordo de cessar-fogo entre Israel e o Hamas. No entanto, o próprio Biden já disse que a morte de Haniyeh complicou esse cenário.
De acordo com o jornal The New York Times, Biden disse a um jornalista que “isso não ajudou”.
Num telefonema com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, o presidente americano comentou que o assassinato de Haniyeh ocorreu num momento inoportuno, noticiou o jornal, citando uma autoridade americana.
A morte ocorreu exatamente no momento em que os EUA esperavam concluir negociações sobre um cessar-fogo entre Israel e o Hamas. Além disso, Biden expressou receios de que a realização da operação em Teerã pudesse desencadear uma guerra regional maior, que ele tentou evitar.
Há meses, as negociações indiretas, que tem EUA, Egito e Catar como mediadores, estão estagnadas. A última rodada de negociações com participantes israelenses no Cairo, neste sábado, não trouxe nenhum progresso, informou a mídia israelense.
Protestos em Israel
Paralelamente, protestos ocorrem neste sábado em cidades como Tel Aviv, Jerusalém, Haifa. Os manifestantes pressionam por um acordo para libertar os reféns e acusam Netanyahu de bloquear um acordo em Gaza.
Milhares de israelenses marcharam em frente à residência do primeiro-ministro em Jerusalém. “Chegou a hora de um acordo e chegou a hora de eleições [antecipadas]”, gritou o ex-diplomata Eran Etzion à multidão, informou o Times of Israel. Segundo ele, o acordo está em cima da mesa e Netanyahu, que o bloquearia “por razões políticas, pessoais e criminais”.
Netanyahu voltou ao poder no final de 2022, em uma coligação com parceiros ultra-religiosos e extremistas de direita que são estritamente contra concessões ao Hamas. A oposição acusa Netanyahu de se apegar aos seus parceiros de coligação para não perder novas eleições o que, se ocorresse, aceleraria o processo de casos de corrupção nos quais o primeiro-ministro estaria implicado.
A guerra na Faixa de Gaza já dura quase dez meses. Foi desencadeada pelo grande ataque sem precedentes a Israel perpetrado pelo Hamas em 7 de outubro que, segundo dados israelenses, deixou cerca de 1.200 pessoas mortas. Em resposta, Israel empreendeu ações militares massivas na Faixa de Gaza, que, de acordo com o Ministério da Saúde controlado pelo Hamas, já deixaram 39,5 mil mortos. Além de Israel, o Hamas também é classificado como organização terrorista pelos EUA e pela União Europeia, entre outros.