A detenção de 49 crianças brasileiras em abrigos nos EUA, separadas de seus pais, será tema prioritário no encontro entre o vice-presidente americano, Mike Pence, e o presidente Michel Temer, que ocorrerá terça-feira (26) em Brasília.
O governo brasileiro espera, que a questão esteja resolvida até lá, mas acha improvável.
Segundo publicado no jornal Folha de SP, Temer deve manifestar profunda preocupação e pressionar pela rápida liberação das crianças, cujos pais foram mandados para prisões federais após tentarem entrar com as famílias ilegalmente no país.
“Recebemos com alívio a decisão do governo Trump de reverter a política de separar famílias, mas isso não basta, precisamos ver quanto tempo vai levar para essas crianças reencontrarem seus pais”, diz o embaixador do Brasil em Washington, Sérgio Amaral.
Em abril, o governo Trump implementou sua política de tolerância zero para imigração ilegal e passou a processar criminalmente estrangeiros detidos ao entrarem sem documentos, enviando-os a presídios federais. Os menores estão em abrigos, sem os pais.
Em nota, o Itamaraty classificou a política de “cruel”.
Apesar da pauta delicada, o governo brasileiro afirma que a conversa será produtiva, sobretudo porque Pence e Temer têm “química” – um interesse comum por responsabilidade fiscal e personalidades mais compatíveis do que a do brasileiro, circunspecto, com o efusivo Donald Trump.
Segundo relatos, Pence se interessou pelo corte de gastos implementado pelo governo brasileiro e abordou o assunto em telefonema Temer. Quando era governador de Indiana, Pence fez do corte de gastos sua principal bandeira.
Já o governo americano deve abordar a crise na Venezuela e o êxodo de venezuelanos. Washington calcula que cerca de 1 milhão de venezuelanos deverão deixar seu país em 2018 – de 2015 a 2018, foi 1,5 milhão, segundo a ONU.
A possibilidade de acirramento das tensões na fronteira da Colômbia, que recebe a imensa maioria dos refugiados, e o consequente aumento do fluxo venezuelano para o Brasil preocupa os EUA.
Os americanos devem voltar a pedir que o governo brasileiro eleve a pressão sobre o regime de Nicolás Maduro, talvez com sanções à cúpula.
Mas o Brasil deve reafirmar a oposição a sanções unilaterais e lembrar que exerce pressão com a suspensão do país do Mercosul, cancelamento de créditos, condenação das eleições e gestões na Organização dos Estados Americanos, mas que precisa manter o canal de interlocução dados os interesses no país vizinho.
Pence se reúne terça no Planalto com Temer e os ministros Aloysio Nunes (Relações Exteriores), Eliseu Padilha (Casa Civil) e Sergio Etchegoyen (Segurança Institucional). No mesmo dia, almoça no Itamaraty, e na quarta (27), vai a Manaus, onde visita um abrigo para venezuelanos.
O governo brasileiro quer abrir um canal de comunicação de alto nível com o governo Trump. Desde a posse do republicano, em janeiro de 2017, o Brasil foi preterido nas visitas do presidente e seu primeiro escalão à região, e o Planalto se ressente.
O governo brasileiro também tratará na reunião da negociação do acordo de salvaguardas tecnológicas com os EUA, exigência dos americanos para alugar a base de lançamento de foguetes em Alcântara (MA), negócio cuja receita anual pode chegar a US$ 1,5 bilhão (R$5,8 bilhões).