O presidente Michel Temer conversou na terça-feira (1º) com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sobre a necessidade de unir o centro político e tentar impedir que a atual radicalização entre forças de esquerda e de direita domine o debate eleitoral no país.
Com baixíssima popularidade e sem um candidato que defenda seu legado na ponta das pesquisas, Temer tem medo que uma candidatura governista imploda antes mesmo do início oficial da campanha, em agosto, e imponha uma derrota acachapante para a coalizão que o levou ao poder em 2016.
Segundo a reportagem apurou, este foi o primeiro de uma série de encontros que Temer pretende estabelecer com FHC. A ideia é que o ex-presidente José Sarney (MDB-MA) também participe das discussões -nesta terça, ele estava em Nova York, onde acompanhou sua mulher, a ex-primeira-dama Marly, em uma cirurgia no joelho e, por isso, não poderia comparecer à reunião na casa do presidente, em São Paulo.
A conversa entre Temer e FHC, de acordo com aliados, ainda não traçou um plano objetivo para a sobrevivência do chamado centro político, mas diagnosticou dois de seus principais problemas: a radicalização do cenário eleitoral, da qual o centro tende a não participar diretamente, e a grande quantidade de candidatos que se dizem deste campo, sem proposta única e que disputam entre si.
Além do próprio Temer, que já mostrou desejo de concorrer à reeleição, o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles (MDB) e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), tentam se viabilizar ao Planalto no campo governista -ambos não passam de 2% nas pesquisas-, enquanto o tucano Geraldo Alckmin aparece mais bem colocado, mas, mesmo assim, ainda no segundo pelotão de candidatos. Ele tem apenas 8% das intenções de voto.
Temer e FHC miraram a necessidade de unir este centro fragmentado e evitar que o campo perca apoio expressivo diante da polarização entre a candidatura de Jair Bolsonaro (PSL) e nomes de esquerda, como o do ex-presidente Lula (PT) e o de Ciro Gomes (PDT).
Os três despontam nas pesquisas, mesmo com a possibilidade de o petista ser impedido de concorrer em outubro. Condenado em segunda instância por corrupção passiva e lavagem de dinheiro -e preso em Curitiba-, Lula deve ficar inelegível com base na Lei da Ficha Limpa.
Temer e seus principais assessores ainda relutam em ter Alckmin como o ponto de união do centro -e procuram construir uma alternativa. Uma das opções seria asfixiar a candidatura de Alckmin que, sem conseguir empolgar, obrigaria o PSDB a substitui-lo, por exemplo, pelo ex-prefeito de São Paulo João Doria, mais simpático ao presidente.
O próprio Alckmin também não gosta da ideia de firmar acordo com Temer, um presidente impopular e alvo de investigações por corrupção, mas sua dificuldade em decolar -e o medo de não ser derrotado precocemente- pode forçá-lo a fazer uma escolha mais pragmática.