Um dos primeiros líderes políticos a defender segundo o Estado de S. Paulo, a criação de uma frente de esquerda no Brasil, ainda em 2016, o ex-ministro e ex-governador do Rio Grande do Sul Tarso Genro (PT) vai buscar pontos de convergência entre nomes como Ciro Gomes (PDT), Fernando Haddad (PT), Guilherme Boulos (PSOL), Flávio Dino (PCdoB) e Marina Silva (Rede), entre outros, com vistas a construir a unidade do campo progressista nas eleições presidenciais de 2022.
A ideia, segundo Tarso, é seguir a metodologia usada pela esquerda portuguesa para construir a Geringonça, nome dado à inusitada aliança entre o Partido Socialista, Partido Comunista e Bloco de Esquerda, que há décadas disputavam a hegemonia do campo e se uniram para vencer as eleições de 2015 e governar o país ibérico.
Na série de entrevistas República e Democracia: o futuro não espera, que começa com Ciro, no dia 18, Tarso vai buscar os pontos de afinidade entre as principais lideranças da esquerda brasileira. Além dos nomes citados acima, aceitaram participar do debate Luiza Erundina (PSOL), Manuela D’Ávila (PCdoB), José Dirceu (PT), Aloizio Mercadante (PT) e Roberto Requião (MDB).
Na pauta das entrevistas, o ex-ministro vai explorar temas como economia, democracia e principalmente medidas para combater a pandemia do novo coronavírus, diante da política negacionista do governo Jair Bolsonaro.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, apontado como possível candidato em 2022 – embora esteja barrado pela Lei da Ficha Limpa, não vai participar dos diálogos, ao menos no primeiro momento. Tarso quer tirar a questão da sucessão da pauta para não contaminar as conversas. “Vamos usar uma metodologia semelhante à da Geringonça. O objetivo é buscar afinidades em vez das divergências, retirando da pauta a sucessão de 2022”, disse ele.
O ex-ministro tem defendido a necessidade de união desde o impeachment da presidente Dilma Rousseff, em 2016, quando criou o ‘think tank’ Instituto Novos Paradigmas (IDP), do qual fazem parte nomes importantes da esquerda brasileira e estrangeira, como o sociólogo português Boaventura de Souza Santos e o ex-juiz espanhol Baltasar Garzón.
Tarso não tem ilusões em relação às grandes diferenças que separam, por exemplo, Ciro do PT. Ele avalia que a “unidade não supõe uma candidatura só”, mas trabalha para a construção de um espaço de diálogo que possa manter os diferentes projetos unidos em um possível segundo turno contra o bolsonarismo.
“A construção de uma frente única de esquerda é algo que não pode ser avaliado antes do final deste ano. Pode ser que até lá amadureça. Hoje, temos duas ou três opções de enfrentamento ao bolsonarismo que devem se apresentar em separado, mas tem que ter desde o começo uma identidade em comum. A ideia é construirmos essa identidade e dar insumos para a discussão interna nos partidos”, disse ele.
Segundo o ex-ministro, os entrevistados foram avisados de que o objetivo é buscar convergências, não divergências. Nenhum tema, fora a sucessão de Bolsonaro, foi excluído da pauta, mas a abordagem das perguntas será no sentido de direcionar a unidade.
De acordo com Tarso, a série de entrevistas não deslegitima nem disputa espaço com outras iniciativas semelhantes como o fórum Direitos Já – que também inclui nomes da centro-direita – nem impede a ampliação do diálogo com outros campos da oposição a Bolsonaro.
“Esta é uma discussão interior do campo da esquerda. A ampliação é um passo paralelo e o debate entre grandes lideranças como ex-presidentes (como Lula e Fernando Henrique Cardoso) vai ficar para outro momento”, disse o ex-ministro.