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segunda-feira 23 de março de 2020 às 15:23h

Suspensão de contratos sem pagar salários tinha resistência no Congresso

NOTÍCIAS, POLÍTICA


Antes do recuo do presidente Jair Bolsonaro nesta segunda-feira, 23, o trecho da Medida Provisória que permitia a suspensão dos contratos de trabalho por quatro meses, sem pagamento de salários, como forma de combater os efeitos causados pela pandemia do novo coronavírus, enfrentava abertamente resistência de líderes no Congresso. O trecho da MP 927 (artigo 18) teve a sua revogação anunciada pelo presidente no Twitter, Uma nova regulamentação está sendo preparada pelo governo.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que o projeto era “capenga” por não prever nenhum tipo de compensação para o trabalhador e cobrou o envio de um novo texto. O governo havia anunciado que a MP permitiria a redução da jornada em até 50%, com redução do salário, mas com o pagamento de 25% do valor do seguro-desemprego ao empregado – o governo entraria com R$ 10 bilhões para garantir esse benefício. “Em algum lugar da burocracia tiraram parte da MP. O que nós conversamos com a equipe econômica sobre essa Medida Provisória diverge daquilo que está publicado. Tratar de suspensão de contrato de trabalho precisa estar vinculado a uma solução”, disse Maia.

O presidente da Câmara se referiu à possibilidade já anunciada pelo governo de permitir que as empresas reduzam à metade a jornada e o salário dos funcionários no período de calamidade pública. Essa previsão, porém, não está no texto da MP que foi publicado. Em outro trecho da entrevista, Maia disse que a medida gerou “insegurança” na sociedade. “Tenho certeza que a gente tem de construir rapidamente, junto com a equipe econômica, outra medida provisória, ou uma sinalização clara de que estamos preocupados com solucionar a manutenção dos emprego. Da forma como ficou, gerou uma insegurança”, afirmou.

Antes da manifestação do presidente da Câmara dos Deputados, uma ala do Congresso se articulava, nos bastidores, para que Maia e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP) devolvessem a MP ao Planalto sem que o texto fosse sequer analisado.

Esta postura encontrou resistência entre um grupo de parlamentares, que pregava o diálogo entre Legislativo e as equipes dos ministros Paulo Guedes (Economia) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo). O Congresso reivindicava que o governo garantisse o pagamento do seguro-desemprego, chamado de “auxílio-Covid”, aos trabalhadores afetados pela MP.

“Por que vamos insistir no atrito, no desgaste com o Executivo, se podemos pegar o telefone e dialogar com o ministro Ramos, com o ministro Paulo Guedes, e sugerir alterações na proposta? Suspender contrato antes de garantir renda mínima é uma insensibilidade social muito grande. Se ouvirmos do governo que haverá uma nova MP que corrija os pontos que reivindicamos, como seguro-desemprego, mande para o Congresso que aprovaremos as duas em conjunto. Há espaço fiscal para isso, o decreto de calamidade pública sustenta essa manobras, e é isso que vamos buscar”, disse a VEJA o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE).

“A MP teve uma repercussão muito ruim na Câmara, porque os líderes têm a percepção de que ela iria na contramão de tudo o que os líderes de Estado pelo mundo vinham adotando. Em linhas gerais, havia a preocupação em garantir renda, e a MP retirava. O presidente precisa encaminhar uma nova MP assegurando que, quando houver suspensão de contrato, existirá o pagamento do seguro-desemprego”, disse a VEJA o deputado Marcelo Ramos (PL-AM).

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