A primeira afirmação que se pode fazer a respeito dos supercomputadores é que são equipamentos colossais. A máquina é capaz de realizar milhões de instruções simultâneas e bilhões de cálculos complexos em pouquíssimos segundos. Têm uma capacidade enorme porque os seus inúmeros processadores agem de forma coordenada em busca de um mesmo objetivo. Em outras palavras, são aparelhos centenas de milhares de vezes mais eficientes que os PCs que usamos em casa ou no trabalho. O domínio dessa tecnologia foi dos EUA desde a década de 1970, mas nos últimos anos os chineses assumiram a dianteira nessa corrida. Agora, porém, os norte-americanos voltaram ao topo da supercomputação.
A medição foi feita pelo ranking Top 500, dirigido por um grupo composto por membros de universidades e institutos de pesquisa de todo o mundo. Eles avaliaram que a capacidade do supercomputador Frontier, produzido pela empresa Hewlett-Packard (HP) com chips da AMD, o transforma na máquina que executa o maior número de tarefas em menos tempo, entre os 500 principais supercomputadores de todo o mundo. Nos testes, o Frontier teve o desempenho de um quintilhão de operações por segundo. “Isso significa que ele é capaz de contar as estrelas da Via Láctea em apenas um segundo”, afirma Angelo Zanini, coordenador de Engenharia da Computação do Instituto Mauá de Tecnologia. Os EUA se sobressaíram na contenda tecnológica com os chineses porque o Departamento de Energia do país fez um aporte de US$ 1,8 bilhão ao setor durante longo período, o que propiciou a movimentação necessária no mercado para a construção de três sistemas computacionais magníficos – até o surgimento do Frontier, instalado em um laboratório no Tennessee.
Nos últimos levantamentos, o Brasil tem mantido duas ou três máquinas na lista das mais potentes do mundo. O maior supercomputador brasileiro hoje é o Dragão, da Petrobras. A máquina é a maior da América Latina: pesa vinte toneladas e tem 34 metros de comprimento. A empresa informa que a capacidade de processamento do Dragão equivale a de quatro milhões de smartphones ou cem mil laptops de última geração. O novo equipamento será utilizado para processar dados geofísicos e operacionais, além de dar apoio a projetos estratégicos da Petrobras.
Assim como o seu sofisticado sistema operacional, suas proporções também são impressionantes. O Frontier tem o tamanho de quatro geladeiras juntas e consome uma quantidade absurda de eletricidade, além de requerer um raro conhecimento especializado para o seu manuseio. “Sua utilização se dá em meios industriais e em âmbito de Estado”, diz Zanini. Ele explica que um supercomputador pode melhorar a capacidade de produção de medicamentos e vacinas, além de contribuir para decifrar códigos, acelerar a concepção de grandes projetos de engenharia e contribuir no desenvolvimento de modelos climáticos. Nesse caso, o uso dos supercomputadores é de vital importância, dado que os eventos extremos da natureza se acentuam. Em outras palavras, dominar esse conhecimento representa deter uma supremacia estratégica em muitas áreas.
“Esse século será marcado pela disputa entre EUA e a China em segmentos como esse”, afirma Leonardo Trevisan, professor de Geoeconomia Internacional da ESPM. Ele explica que os norte-americanos devem continuar em vantagem, pois as maiores empresas científicas estão sediadas no país. “Além das companhias, as principais universidades dedicadas à ciência também são americanas”, diz. Outro ponto importante em relação à rivalidade é que a China está em situação de inferioridade na produção dos semicondutores. “A China passa por um momento de letargia tecnológica devido ao fato de a produção de chips estar em Taiwan”, diz. Diante desse cenário, portanto, a China ainda vai demorar para equilibrar essa disputa entre as potências.