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quarta-feira 1 de maio de 2024 às 10:57h

Sucessão na Câmara gera disputa na bancada evangélica e promessa de superfederação

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Os principais candidatos à presidência da Câmara no ano que vem já começaram a fazer gestos políticos para conquistar votos de duas das mais importantes bancadas da Casa: a evangélica e a ruralista, mobilização que indica o fortalecimento da influência de ambos os grupos no Congresso. Para atrair votos e suceder Arthur Lira (PP-AL), os baianos Elmar Nascimento (União Brasil) e Antônio Brito (PSD), além de Marcos Pereira (Republicanos-SP),  distribuem acenos em pautas caras aos dois movimentos, buscam apoio de lideranças, o que vem gerando atritos internos, e projetam até a criação de uma “superfederação” partidária. A reportagem é de Gabriel Sabóia, do O Globo.

Na disputa por espaço entre evangélicos, Elmar tem feito acenos às lideranças da Assembleia de Deus na Câmara, uma vez que seu principal adversário pelo apoio de Lira, o presidente do Republicanos, Marcos Pereira, é bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus. O deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), próximo ao pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, é hoje o principal opositor da candidatura de Pereira na Casa. Sóstenes, porém, defende nos bastidores o nome do líder da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), Pedro Lupion (PP-PR), como alternativa aos favoritos nesta corrida.

Depois de serem aliados nos anos 90, Malafaia e Edir Macedo, líder da Universal, nutrem uma rivalidade acirrada na última década concorrendo tanto na compra de horários de TV quanto na disputa por espaço político. Durante o governo Bolsonaro, Malafaia fez campanha junto ao ex-presidente para André Mendonça conseguir uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF) para impedir Marcos Pereira de ter cadeira na Corte. Agora, mais uma vez, Malafaia se mexe para vetar que o presidente do Republicanos se cacife para suceder Lira.

Tamanho das bancadas

Ciente da articulação, Elmar já fez chegar a Lupion o recado de que ele teria um “espaço generoso” na mesa diretora, em caso de vitória. Desta forma, Elmar espera rachar a base evangélica, receber apoios da ala da Assembleia de Deus e, ao mesmo tempo, conseguir a adesão da FPA, que conta com 304 parlamentares.

— Sempre recebo acenos de possíveis candidatos, de maneira informal. Nada intensivo. Sou grande amigo dos três — diz Lupion, que nega candidatura.

Elmar vem acenando também ao líder da frente evangélica, Eli Borges (PL-TO). Ele esteve ao lado da bancada há duas semanas, quando a Comissão de Previdência, Assistência Social e Infância aprovou uma moção de apoio ao Conselho Federal de Medicina por proibir um método de aborto em fetos de até 22 semanas. O caso havia virado uma “questão de honra” para os evangélicos.

Ao lado de Lira, Elmar também atuou para enterrar o PL das Redes Sociais, que era alvo de críticas deste segmento. Por fim, ele seguiu a orientação dada à sua bancada e votou contra a manutenção da prisão do deputado Domingos Brazão, apontado como um dos mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco. O posicionamento era defendido pela bancada bolsonarista, que é maioria tanto na frente evangélica quanto na ruralista.

A frente evangélica tem representantes de várias correntes e possui dissidências, mas mantém, na maioria dos casos, uma atuação uniforme. No total, são 212 parlamentares, com cerca de 150 que devem fechar questão em torno de um nome para a sucessão de Lira.

Do mesmo partido que Bolsonaro, o PL, Eli Borges não crava apoio a nenhum dos nomes:

— A frente evangélica ainda não fechou questão neste sentido. Teremos um nome no segundo semestre. Mas é importante ter um histórico de alinhamento às nossas pautas, como a luta contra o aborto, a não-doutrinação ideológica, a luta contra as drogas e a luta pela liberdade. Os três candidatos têm sido muito simpáticos.

Em comum entre as frentes evangélica e da agropecuária está o fato de que ambas têm maioria das suas cadeiras ocupadas por bolsonaristas. Marcos Pereira, que acumulou desavenças com Jair Bolsonaro nos últimos anos, foi ao ex-presidente no último mês em busca de uma “pacificação”. Apesar da relação estreita entre Bolsonaro e Malafaia, Pereira ouviu que não haveria resistência a seu nome na bancada bolsonarista.

Pensando em constituir uma unidade na bancada evangélica, Pereira conseguiu avançar no Congresso com a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) das Igrejas, que isenta templos de impostos de consumo e amplia a imunidade sobre as organizações assistenciais. O texto, que é de autoria de um dos seus principais escudeiros, o deputado Marcelo Crivella (Republicanos-RJ), aguarda para ir ao plenário da Câmara.

Os acenos à bancada ruralista vêm por meio de orientações para importantes votações. O Republicanos orientou de maneira favorável a um requerimento de urgência pautado por Lira, em meio à nova temporada de invasões do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). O objeto da deliberação era um texto que prevê sanções administrativas e restrições a invasores. O partido também se mostrou favorável à aprovação na Comissão de Constituição e Justiça de um projeto que prevê que proprietários possam retomar terras invadidas por “sua própria força” ou com a polícia.

Pereira também atua para neutralizar Elmar. Como informou o colunista Lauro Jardim , ele condicionou a concretização da federação entre o PP e o Republicanos ao apoio de Lira à sua sucessão. Sem entendimento com o União de Elmar, a federação deve ocorrer somente entre as duas siglas.

Apoio do governo

O cenário também pressiona o governo, já que o Planalto enfrenta dificuldades para desarticular as pautas de costumes no Legislativo. Desde o início do mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, o petista não tem obtido sucesso ao tentar ampliar a penetração nesses segmentos.

Considerado o principal nome na disputa com potencial de apoio pelo governo, Antônio Brito acena aos dois segmentos de maneira mais discreta. Neste mês, o parlamentar — que se declara católico — participou de um culto evangélico organizado pela bancada religiosa. O deputado também é coautor do requerimento que pede a criação do Dia do Evangélico.

Para acenar ao agro, o líder do PSD também esteve em eventos da FPA em Goiás. Na ocasião, ele esteve acompanhado do governador Ronaldo Caiado (União) e do ministro da agricultura, Carlos Fávaro. Próximo aos governistas, ele se reuniu na última semana com o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e repostou uma foto entre os dois. Na conversa, Brito ouviu que não haveria oposição à sua candidatura.

— Minha esposa é evangélica, sempre frequentei cultos com ela. Me casei em uma cerimônia ecumênica e vou mais à frente evangélica do que muitos que se declaram com a religião — diz Antônio Brito.

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