Uma dura e pouco usual manifestação de servidores está mexendo com os bastidores da diplomacia brasileira.
Na semana passada, 5 vice-cônsules do Consulado-Geral do Brasil no México – são oficiais e assistentes de chancelaria – assinaram uma carta com pesadas críticas a embaixadora Wanja Campos da Nóbrega, que é a cônsul-geral. E enviaram cópias às principais autoridades do Itamaraty, à Corregedoria e também ao sindicato dos servidores.
No texto, de 60 linhas, a que a coluna Radar diz que teve acesso, eles se queixam do comportamento da embaixadora, a acusam de não se empenhar no atendimento e dificultar a repatriação de brasileiros que estão naquele país e tentam voltar ao Brasil por conta do coronavírus. E pedem respeito.
É relatado um episódio específico, ocorrido no aeroporto do México, no último dia 17.
“Não se pode admitir o comportamento de Vossa Excelência, com relação ao vice-cônsul Alexandre Rigueira Bueno dos Santos, que lá compareceu mesmo sem ter sido convocado, para levar Autorizações de Retorno ao Brasil que tinha autorizado para permitir o embarque de brasileiros no voo de repatriação, bem como presar eventual auxílio a cidadãos brasileiros com quem tinha mantido pelo telefone de plantão”, diz a carta dos vice-cônsules.
Rigueira teria sido desrespeitado pela embaixadora.
“Servidores públicos têm de ser tratados com respeito por seus superiores, principalmente quando no exercício de seus deveres funcionais”, complementa a nota sobre esse episódio.
Os cinco signatários reclamam de suposta falta de empenho de Wanja Nóbrega para obter recursos para o atendimento de brasileiros e que essa ajuda e assistência tem sido prestadas nesses últimos três anos à custa de recursos privados de servidores e funcionários do consulado.
E falam das dificuldades em trazer brasileiros neste momento.
“A maioria já está sem condições financeiras de pagar sequer alojamento e comida. Muitos com crianças e sem condições de retornar ao Brasil”.
Num voo do México para o Brasil, a embaixadora teria impedido o embarque de um brasileiro menor de idade com o argumento de que não tinha autorização dos pais. Mas ele, o menor, tinha autorização dos pais para viajar, diz o texto.
Os cinco vice-cônsules colocaram esse título e posto à disposição. Eles são funcionários de carreira do Itamaraty e informam que continuarão exercendo o dever funcional. No final, voltam a criticar a embaixadora.
“Deixe, por favor, que seus subordinados trabalhem em paz”.
Os cinco vice-cônsules que assinam a carta são: Alexandre Rigueira dos Santos, Carlos Thadeu da Franca, Marcos Torres de Oliveira, Maria Paula Aranha de Oliveira e Neide Ribeiro Gonçalves Mol.
A embaixadora e o Itamaraty foram procurados pelo Radar.
O ministério informou que tem ciência da situação e que está tomando as providências cabíveis, seguindo a lei que trata dos servidores públicos civis a União. E que o sigilo, inicial é determinado por lei.
Wanja Nóbrega evitou comentar o episódio neste momento. A embaixadora comentou que, embora dirigida a ela, a carta foi enviada a todas as embaixadas do Brasil, para todos os funcionários do serviço exterior e também para a imprensa.
“Antes mesmo que os canais apropriados do Itamaraty, através dos órgãos competentes institucionais, possam devidamente apurar os fatos ocorridos”.
E completou:
“Tendo em conta o dever de ofício de guardar o sigilo apropriado sobre o tema, permito-me guardar o direito de me pronunciar tão logo o Ministério das Relações Exteriores estabeleça os fatos”.
A embaixadora aproveitou e contou que obteve autorização da chancelaria mexicana para o desembarque dos 88 tripulantes brasileiros do navio Koningsdam. E que a empresa do cruzeiro Princess Cruises confirmava o embarque dos brasileiros na sexta-feira.
“Estou muito contente com o resultado feliz após longas negociações em prol desses brasileiros”.