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sábado 3 de outubro de 2020 às 11:14h

Seria a Covid-19 em Trump a facada de Bolsonaro?

CURIOSIDADES, NOTÍCIAS


Por Victor Del Vecchio

O dia 3 de novembro se aproxima e o mundo inteiro volta olhares para o pleito que nele ocorrerá. Donald Trump concorre a um segundo mandato na presidência dos EUA enfrentando o democrata Joe Biden, naquela que é a corrida eleitoral que mais que mais impacta o mundo.

Trump, que até o início do ano era dado como reeleito pelas pesquisas de intenção de voto, manteve uma posição negacionista frente à gravidade da crise sanitária e necessidade de medidas de isolamento, o que custou um preço alto: ⅔ dos americanos desaprovam sua gestão em relação ao coronavírus. Nessa esteira, somam-se ainda os protestos contra violência policial e pela igualdade racial – Black Lives Matter (BLM) – que incendiaram os ânimos de sua oposição, movendo multidões pelas ruas do país.

Por ironia do destino ou por menosprezar os protocolos de segurança epidemiológica, sobretudo em comícios lotados nas últimas semanas, Trump foi diagnosticado nesta sexta (02) com COVID-19, o que trouxe ainda mais calor à corrida eleitoral. O atual presidente desmarcou uma série de compromissos e informou que iria se isolar junto à primeira-dama, Melania Trump, que também testou positivo.

As especulações sobre um possível agravamento de seu quadro de saúde e os impactos na campanha, agora tão preciosa para Trump, aumentaram quando, após informar que estava apenas com sintomas leves, o republicano foi internado em um hospital de Washington o que, segundo comunicados oficiais da Casa Branca, se deu apenas por excesso de zelo e precaução. Soma-se à estória o fato que o presidente americano nunca permitiu divulgações sobre sua saúde, mesmo antes da pandemia.

Um ponto que merece atenção diante desta situação é o resultado de uma pesquisa realizada pela rede CNN, que transmitiu o debate presidencial na última terça-feira (29), e apurou que para 60% dos espectadores, Biden “venceu” o debate. Ainda estão marcados dois encontros semelhantes, mas que desta vez terão regras mais rígidas para evitar o show de interrupções que prejudicou e até desestabilizou o candidato democrata. Com o diagnóstico médico do republicano, a chance dos debates serem cancelados é grande, o que pode ser visto como um ponto a seu favor na disputa.

É necessário também considerar o fato de a campanha trumpista nas redes ser mais agressiva e até mesmo mais eficaz que a de Biden, o que poderia somar como fator favorável nessa reta final, agora com atividades presenciais prejudicadas e em um cenário onde o republicano luta para reverter as pesquisas que indicam 7 pontos percentuais de desvantagem.

Ao mesmo tempo que a “ironia do destino” pode provocar reflexões no eleitorado sobre a gravidade da pandemia, também surge o fator do “voto de piedade”, no qual o cidadão escolhe um candidato que segue na luta também contra a doença, um fator alheio a sua vontade, e que o coloca em uma disputa desigual.

Traçando um paralelo com o caso brasileiro, em que o à época candidato Jair Bolsonaro tomou uma facada que o deixou hospitalizado e o submeteu a uma cirurgia, o fator do “voto de piedade” foi bastante explorado. Ainda, estar fora dos debates também trouxe um impacto positivo na campanha, o que pode se repetir no caso americano. Porém, devemos considerar que nas eleições dos EUA de 2020, a campanha nas redes não tem o mesmo peso que teve no pleito do Brasil de 2018.

A evolução do quadro clínico do presidente americano e a reação do eleitorado que ainda oscila entre os dois lados lança mais incertezas à disputa. Em uma eleição facultativa, deve-se também considerar se as pessoas que declararam sua intenção de voto, de fato irão ao pleito no dia 03 de novembro, o que tende a não ocorrer com parte do eleitorado não-negacionista da pandemia, que tem maior adesão a Biden, e pode preferir evitar as aglomerações e exposição.

Há ainda de se manter atenção ao fato de que Trump, se em condições, pode estrategicamente modular a exposição de eventual melhora ou piora de saúde, conforme os ventos das pesquisas de intenção de voto soprarem, de maneira semelhante a qual Bolsonaro foi acusado de ter feito para não comparecer aos debates.

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