sexta-feira 22 de novembro de 2024
Home / POLÍTICA / ‘Será menor a capacidade do governo de atrair talentos’, diz Maílson da Nóbrega
segunda-feira 17 de junho de 2019 às 10:55h

‘Será menor a capacidade do governo de atrair talentos’, diz Maílson da Nóbrega

POLÍTICA


A demissão pública e humilhante do presidente do BNDES, Joaquim Levy, emite muitos sinais negativos. Em primeiro lugar, não é assim que governos dispensam servidores que se tornam inconvenientes ou desnecessários. O processo costuma incluir um contato pessoal entre o superior e o subordinado, ainda que por telefone. E em muitos casos é seguido de uma carta protocolar em que se exaltam as qualidades do demitido.

Além de agir por impulso e afirmar que estava “por aqui” com Levy, o presidente Jair Bolsonaro aludiu à nomeação, que o incomodou, de Marcos Pinto para uma posição de destaque no BNDES. O pecado dele teria sido o exercício do cargo do chefe de gabinete quanto Demian Fioca era o presidente do banco, em governo do PT. O presidente parece imaginar que são petistas todos os que serviram aos governos de Lula e Dilma. O cargo é exercido obrigatoriamente por funcionários da carreira do banco.

Sorte tem o Brasil de contar com um amplo conjunto de pessoas de elevada capacidade profissional e disposição de aceitar convites para integrar os quadros profissionais do governo. Eles assim o fazem movidos pelo dever de servir e/ou pelo prazer de fazer parte dos quadros dirigentes da administração pública (salvo os que buscam a posição por razões nada republicanas). Raramente estão filiados a partidos políticos. Profissionais de alta qualificação serviram ao governo no regime militar e novamente na democracia. Nem por isso foram malvistos pela opinião pública.

Economistas de alto conceito na academia e no mercado financeiro participaram do governo Lula, de que são exemplos marcantes Murilo Portugal, Marcos Lisboa e o próprio Joaquim Levy, que integraram a equipe do Ministério da Fazenda sob a liderança do ministro Antonio Palocci, no primeiro mandato de Lula. Nenhum deles é petista.

Fala-se que Paulo Guedes não andava satisfeito com resistências de Joaquim Levy a determinações do ministro, como em demora na devolução de recursos ao Tesouro. Mesmo que fosse assim, o natural teria sido uma conversa entre os dois, até porque são amigos, para pôr tudo em pratos limpos e, se fosse o caso, decidir pela saída de Levy.

A forma impulsiva, pública e extravagante com que Bolsonaro se referiu a Levy não lhe deixou alternativa: de forma digna, pediu demissão ao ministro da Economia. O episódio pode ter criado insegurança no mercado financeiro – que assiste a mais uma demonstração de imprevisibilidade do presidente –, na equipe de governo (quem pode ser o próximo?) e no universo dos que se dispõem a integrar a administração pública federal.

Em resumo, o governo perde a capacidade de atrair talentos. Os que doravante forem convidados serão obrigados a avaliar os riscos de passar pelo constrangimento imposto a Joaquim Levy. Claro, muitos aceitarão correr o risco. Não se quer dizer que haverá uma escassez de talentos prontos para aceitar convites, mas por certo o universo dos que assim o fazem deve diminuir.

Veja também

Débora Regis está na Europa conhecendo projetos para implantar em Lauro de Freitas

Os prefeitos das 14 cidades acima de 200 mil habitantes eleitos pelo União Brasil estão …

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

error: Content is protected !!