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domingo 3 de setembro de 2023 às 16:43h

Sem mandato, políticos batem ponto no Congresso como consultores

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Deputado federal por quatro mandatos, Vanderlei Macris voltou a Brasília na semana passada para percorrer gabinetes de ex-colegas de Congresso. Mais do que rever velhos amigos, as visitas tinham como objetivo conforme reportagem de Camila Turtelli , do jornal O Globo, tratar de projetos em discussão no Legislativo que afetam empresas de transporte. Após 40 anos na vida pública, o ex-congressista não conseguiu se reeleger no ano passado, mas não ficou sem emprego: foi contratado como consultor da Confederação Nacional dos Transportes (CNT).

A exemplo de Macris, políticos com vasto currículo na vida pública aproveitam o conhecimento adquirido com a ajuda de votos e, quando são derrotados nas urnas, passam a defender interesses do setor privado no Congresso. Em geral, esses ex-congressistas oferecem o serviço de consultoria ou de relações governamentais. Os termos muitas vezes são usado como eufemismo para a prática do lobby, que costuma carregar conotação negativa pela falta de regulamentação no Brasil, embora seja comum em outros países. O mercado é vasto. Profissionais da área estimam que uma consultoria com um nome de peso da política pode chegar a faturar até R$ 3 milhões por ano.

— Nós temos mais abertura e facilidade para conversar com os parlamentares, fazer pedido de audiência pública, além de termos a experiência legislativa — gaba-se o ex-deputado Marcelo Ramos, que, após não se reeleger, passou a prestar serviço à Petrobras.

Um dos mais bem-sucedidos na função, o ex-ministro Romero Jucá é um dos que rejeitam o rótulo de “lobista”. Após 24 anos no Senado, onde foi líder de todos os governos desde a redemocratização, exceto o de José Sarney, ele abriu a Blue Solution Government Inteligence. “Acumulei anos de experiência como economista e senador da República. Hoje, coloco esse know-how à disposição de empresas e organizações que buscam informações mais seguras para direcionar seus investimentos no Brasil”, diz ele no seu perfil no LinkedIn.

— É um trabalho muito sério e organizado. Entregamos material todos os dias (para os clientes), e vou ao Congresso eventualmente. Me reúno com governo e parlamentares quando é preciso — afirmou Jucá. — Lobista não faz análise, cenários, entre outros. O que fazemos é outra coisa — acrescentou.

Circulação livre

Mesmo sem mandato, os políticos têm uma vantagem ante aos demais profissionais que atuam na área. Tanto o regimento da Câmara quanto o do Senado permitem que ex-parlamentares circulem livremente pelos corredores do Congresso e tenham acesso aos plenários. Além disso, após anos ali dentro, conhecem bem os trâmites do Legislativo e os atalhos usados para aprovar projetos de seus interesses.

Iniciante neste tipo de atividade, o ex-senador e ex-ministro da Integração Nacional Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE) avalia que a procura por políticos experientes se dá pelo conhecimento que têm sobre o funcionamento da máquina pública.

— Tem muita demanda e muito trabalho. Há uma parte de clientes que busca avaliação de cenários políticos. É muito da experiência nossa, pelos cargos que exercemos, sobre os desdobramentos de políticas públicas — afirmou Bezerra, que em fevereiro abriu a Vale Soluções.

Entre seus clientes estão a Eletrobras, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e a Confederação Nacional de Seguros. Com as discussões da reforma tributária, tem cumprido agenda de parlamentar e ido semanalmente a Brasília. Nestes dias, costuma se reunir com deputados e senadores, como o relator da reforma na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), e o no Senado, Eduardo Braga (MDB-AM), com quem até dezembro dividia discursos e projetos.

Ex-presidente da Câmara

Outro ex-colega de Jucá e Bezerra Coelho que abriu uma consultoria foi Cássio Cunha Lima, ex-governador da Paraíba e ex-vice-presidente do Senado. Ele montou a Advice Brasil após perder a eleição em 2018. A interlocutores, diz não ter pretensão de voltar à política e estar satisfeito com a nova atividade.

Em alguns casos, ex-parlamentares foram contratados diretamente por entidades que representam setores para atuar dentro do Congresso. É o caso, por exemplo, de Rodrigo Maia, ex-presidente da Câmara, Casa que comandou entre 2016 a 2021. Hoje, ele é presidente da Confederação Nacional das Instituições Financeiras (CNF).

— Meu papel é dialogar com a sociedade e com os órgãos públicos, principalmente, em Brasília. Congresso, governo e Judiciário — resume.

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