Chanceler federal alemão e ministra das Relações Exteriores, Annalena Baerbock, se juntaram a milhares de pessoas em ato contra plano ultradireitista de expulsar imigrantes da Alemanha.O chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, e a ministra alemã das Relações Exteriores, Annalena Baerbock, participaram neste domingo (14) de um protesto contra o extremismo de direita em Potsdam, ao lado de outras milhares de pessoas.
A manifestação foi convocada pelo social-democrata Mike Schubert, presidente da câmara de Potsdam, capital do estado de Brandemburgo, após uma semana política conturbada no país devido às notícias que vieram à tona sobre uma reunião de ultradireitistas nos arredores da cidade, na qual foi abordada a expulsão de imigrantes.
À cadeia de televisão regional RBB, Schubert estimou a participação de 10 mil pessoas no ato. A polícia disse que foram 2 mil. Os manifestantes empunharam cartazes com dizeres como “Potsdam é colorida” e “Estamos unidos”.
“Estou aqui como um dos milhares de residentes de Potsdam que defendem a democracia e são contra o velho e o novo fascismo”, disse Baerbock à agência de notícias alemã DPA.
Assim como Baerbock, Scholz também mora na cidade de Potsdam e tem lá seu eleitorado. Ambos usavam lenços cor de vinho com a inscrição “Potsdam mostra suas cores”.
Outros membros do Partido Social Democrata (SPD) de Scholz e dos Verdes de Baerbock, além de representantes da União Democrata Cristã (CDU) de Angel Merkel e do partido A Esquerda, também estiveram presentes.
Berlim também registrou protestos. Segundo a polícia, foram “vários milhares de pessoas”. De acordo com o movimento ambientalista Fridays for Future, que convocou o ato, foram 25 mil manifestantes em frente ao Portão de Brandemburgo.
Plano de expulsão de imigrantes choca o país
Na quarta-feira, o grupo de jornalismo investigativo Correctiv publicou uma reportagem revelando que, em novembro de 2023, políticos do partido de ultradireita Alternativa para Alemanha (AfD) participaram nos arredores de Potsdam de uma reunião organizada por figuras influentes da extrema-direita, na qual foram discutidos planos para expulsar milhões de estrangeiros do país.
No centro do evento esteve o austríaco Martin Sellner, considerado um dos líderes do Movimento Identitário da extrema-direita europeia, que apresentou um “plano” para alcançar o que certas facções extremistas chamam de “remigração”, ou seja, a expulsão de cidadãos estrangeiros, sobretudo os “não assimilados”.
Roland Hartwig, conselheiro da colíder da AfD Alice Weidel, foi um participantes do evento, assim como Gerrit Huy, um membro da AfD com assento no Bundestag, a câmara baixa do parlamento alemão. No nível estadual, segundo o Correctiv, teria comparecido ao encontro Ulrich Siegmund, colíder da bancada da AfD no parlamento de Saxônia-Anhalt. Dois membros da CDU também teriam estado presentes à reunião.
Siegmund confirmou que esteve no evento, mas destacou que estava na reunião como pessoa física e não na qualidade de membro do parlamento estadual pelo partido ultradireitista.
A AfD também confirmou que Hartwig esteve presente no encontro, mas apenas para apresentar um projeto de mídia social e que não tinha conhecimento prévio de que o tema seria tratado.
A sigla de ultradireita sublinhou que Hartwig não “trouxe as ideias de Sellner sobre políticas de migração” para o partido e acrescentou que “não mudaria as suas políticas de imigração com base nas ideias individuais de uma pessoa presente na reunião”. A AfD também ressaltou que não era a organizadora do evento, que tinha caráter privado.
Scholz condena o ato
Um dia após a reportagem vir à tona, Scholz condenou severamente o plano de expulsão de imigrantes e disse que a Alemanha não permitirá que ninguém que viva no país seja julgado com base no fato de ter raízes estrangeiras.
“Protegemos a todos – independentemente da origem, da cor da pele ou de quanto alguém é desconfortável para fanáticos com fantasias de assimilação”, escreveu no X, antigo Twitter.
Desde a revelação da reunião em Potsdam, vozes emergiram no debate público exigindo que a AfD seja banida. Segundo pesquisas de opinião, metade dos alemães apoia a ideia.
Apenas a Corte Constitucional Federal da Alemanha pode banir um partido político. A última vez que isso aconteceu foi em 1956, com o comunista KPD. Segundo a Constituição, um partido só é considerado inconstitucional se puser em risco a existência da República Federal da Alemanha ou tentar explicitamente eliminar a ordem liberal-democrática.
A AfD atualmente figura como o segundo partido mais popular nas pesquisas nacionais, com mais de 20% das intenções de votos. Sondagens em três estados que terão eleições em setembro deste ano – Turíngia, Saxônia e Brandemburgo, os três no leste do país – chegam até mesmo a mostrar a AfD como favorita, apoiada por mais de 30% dos eleitores.