O potencial do Brasil para ser um grande player do mercado náutico não é novidade. Além de uma costa com de mais de 7 mil km, o País tem um interior com volume extraordinário de rios navegáveis, lagos e represas. Essa característica vem impulsionando o setor de embarcações, que movimentou R$ 2 bilhões em 2021, segundo a Acobar (Associação Brasileira dos Construtores de Barcos e seus Implementos). Desde o início da pandemia, os estaleiros têm encontrado novos compradores e aumentado as vendas de maneira acentuada. E o interesse pelas embarcações brasileiras não se limita ao mercado interno. Com seu maior polo de fabricação localizado em Santa Catarina, o Brasil também mostra capacidade de se tornar um importante exportador de toda a cadeia do segmento náutico. Entre janeiro e novembro de 2022 foram US$ 56,37 milhões gerados com exportação de plataformas, embarcações e outras estruturas flutuantes, de acordo com o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços.
Entre os fabricantes nacionais que buscam clientes além-mar está a novata Okean, cuja primeira embarcação foi vendida há apenas seis anos. O estaleiro reserva 90% de sua produção para exportação e já entregou mais de R$ 350 milhões em iates para diversos países. “A Okean Yachts é uma marca 100% brasileira com grande aceitação e nichos de mercado abertos em várias partes do mundo. Já possuímos cerca de 35 unidades navegando em diferentes países”, afirmou o CEO do Grupo Okean, Roberto Paião.
A companhia foi criada em Itajaí (SC) pelo empresário paulista Nércio Fernandes, um entusiasta do mundo náutico que ao longo da vida conciliou suas atividades de empreendedor e navegador. Fundador da Linx, líder brasileira em software de gestão, com 45,6% de participação no concorrido mercado de soluções para o varejo segundo o IDC, ele foi aos poucos transmitindo à família toda a paixão pelo oceano. Até decidir transformar o hobby em negócio e se aventurar na construção de embarcações. Desde o modelo inicial, o mercado externo já estava em vista. Tanto que seu primeiro barco foi vendido nos Estados Unidos — hoje o principal país comprador de iates nacionais, com 54% de tudo que o Brasil exporta no setor. Uma das razões para isso é que o mercado náutico por lá movimenta quase US$ 50 bilhões anualmente, com um público consumidor estimado em 100 milhões de pessoas. Os dados são da Associação Nacional de Fabricantes Marítimos (NMMA, em inglês). Depois de fazer a América, a ambição da Okean para 2023 é diversificar os destinos de exportação, chegando a mais países da Europa, ao México e Canadá.
Mesmo que ainda não atraque de forma tão frequente nesses píers, a Okean cresce com velocidade. A produção de embarcações em 2022 foi 50% maior que a do ano anterior, chegando a 20 unidades. Há 11 contratos em execução, com apenas duas unidades disponíveis para o final de 2023. Esse aumento de demanda resultou em um faturamento projetado para este ano de R$ 150 milhões, 30% a mais que em 2021. Para dar conta da produção, a empresa tem investido na ampliação de sua fábrica. Nos últimos cinco anos, R$ 200 milhões foram direcionados ao espaço e para os próximos cinco anos, está prevista a expansão em mais 10 mil m² de área construída para a verticalização de produção de fibra e movelaria.
DESIGN ITALIANO
Atualmente, o modelo top da fabricante é o Okean 80, com 24 metros e preço estimado em R$ 30 milhões.Para alcançar a meta de 30% a mais na produção em 2023, uma das apostas é o novo modelo de entrada, o Okean 52, com 15 metros de comprimento. Com projeto do designer italiano Paolo Ferragni, que assina todos os modelos Okean, a embarcação reúne tudo o que não pode faltar em iates de luxo no aspecto tecnológico, em beleza e espaço. Ele acompanha as tendências já adotadas por estaleiros mundo afora, caso das soluções para integrar as áreas internas por meio de janelas que permitem visão 360° e ampliação do espaço de convivência.
É equipado com abas laterais com acionamento elétrico, aumentando a praça de popa, e uma plataforma deslizante, que proporciona mais contato com o mar, mesmo dentro do iate. Um flybridge com 16 m2 abriga a área gourmet. Tudo isso por um terço do preço de seu irmão maior, já que o Okean 52 custa R$ 10 milhões.