Potências ocidentais estão ameaçando a Rússia com severas sanções econômicas para tentar impedir a invasão da Ucrânia. E o Reino Unido já anunciou nesta terça-feira (22) sanções contra cinco bancos e três bilionários da Rússia.
O Senado dos EUA está montando uma lista de medidas que chama de “a mãe de todas as sanções” e o presidente americano, Joe Biden, diz que seu colega russo, Vladimir Putin, “nunca viu sanções como as que prometi que seriam impostas”.
Biden assinou uma ordem executiva que proíbe novos investimentos, comércio e financiamento por americanos nas regiões separatistas.
No entanto, diplomatas ocidentais estão se recusando a ser explícitos sobre penalidades específicas, para manter a Rússia na dúvida.
Na noite desta segunda-feira (21), Putin ordenou o envio de tropas a duas regiões controladas por rebeldes no leste da Ucrânia, Luhansk e Donetsk, após Moscou reconhecê-las como Estados independentes.
A Rússia disse que as tropas seriam para “manutenção da paz” nas regiões separatistas, que apoia desde 2014. Mas os EUA disseram que chamá-las de pacificadoras era “absurdo” e acusaram Moscou de criar um pretexto para a guerra.
O presidente da Ucrânia disse que seu país “não tem medo de nada nem de ninguém”.
Sanções britânicas
O premiê britânico Boris Johnson anunciou sanções contra cinco bancos russos e três bilionários. O primeiro-ministro disse que as ações da Rússia equivalem a uma “nova invasão” do país, após a anexação ilegal da Crimeia e Sevastopol em 2014.
Johnson disse aos parlamentares que o Reino Unido agora deve “se preparar para uma crise prolongada” e que a “primeira leva” de sanções será estendida se a situação piorar.
Os bancos russos alvos de sanções britânicas são Rossiya, IS Bank, General Bank, Promsvyazbank e Black Sea Bank. O objetivo das sanções é atingir a economia e o governo russos. Fontes dizem que o Promsvyazbank lida com 70% dos contratos estatais do Ministério da Defesa russo.
Os três indivíduos são Gennady Timchenko, Boris Rotenberg e Igor Rotenberg — todos ligados de alguma forma a Putin. Boris Rotenburg é um amigo de infância do presidente russo.
Boris Rotenberg possui uma fortuna de US$ 1,2 bilhão e seu sobrinho, Igor, US$ 1,1 bilhão. Timchenko é o sexto homem mais rico da Rússia.
Johnson disse que os três indivíduos russos sancionados teriam seus ativos no Reino Unido congelados e seriam impedidos de viajar para o Reino Unido.
Sanção alemã
O chanceler alemão Olaf Scholz disse que vai interromper a certificação do gasoduto Nord Stream 2 entre a Rússia e a Alemanha, que foi concluído em setembro do ano passado, mas ainda não está operando.
“Sem essa certificação, o Nord Stream 2 não pode começar a operar”, disse o chanceler.
O vice-chanceler e ministro da Economia, Robert Habeck, disse que o fornecimento de gás da Alemanha não será comprometido sem o Nord Stream 2. No entanto, ele previu que os preços do gás aumentariam ainda mais no curto prazo.
A Comissão Europeia também disse que o fornecimento de energia da Europa não seria afetado pela mudança porque o gasoduto ainda não estava operando, embora esteja concluído.
A Ucrânia elogiou a atitude alemã.
“Este é um passo moral, politicamente e praticamente correto nas circunstâncias atuais. Verdadeira liderança significa tomar decisões difíceis em tempos difíceis. O movimento da Alemanha prova exatamente isso”, tuitou o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba.
Confira abaixo quais outras sanções o Ocidente pode estar planejando.
1. Restrições financeiras
Uma medida considerada seria excluir a Rússia do sistema conhecido como Swift — um serviço global de mensagens financeiras. É usado por milhares de instituições financeiras em mais de 200 países.
Isso efetivamente tornaria muito difícil para os bancos russos fazer negócios no exterior.
Essa sanção foi usada contra o Irã em 2012 e o país perdeu receitas de petróleo significativas e uma grande parte do comércio exterior.
No entanto, essa sanção teria um custo econômico para países como Estados Unidos e Alemanha, cujos bancos têm vínculos estreitos com instituições financeiras russas.
A Casa Branca diz ser improvável que essa medida seja tomada como uma resposta imediata a uma invasão da Ucrânia pela Rússia.
“Provavelmente, essa medida não estará no pacote de sanções inicial”, disse o vice-conselheiro de segurança nacional dos EUA, Daleep Singh.
2. Operação com dólar
Os EUA poderiam proibir a Rússia de transações financeiras envolvendo dólares americanos. Essencialmente, qualquer empresa ocidental que permitisse que uma instituição russa negociasse em dólares enfrentaria penalidades.
Isso significaria que a Rússia seria extremamente limitada no que poderia comprar e vender em todo o mundo.
Isso pode ter um enorme impacto na economia da Rússia, já que a maior parte de suas vendas de petróleo e gás são liquidadas em dólares.
3. Dívida soberana
As potências ocidentais poderiam tomar medidas para bloquear ainda mais o acesso da Rússia aos mercados internacionais de dívida.
A capacidade das instituições e bancos ocidentais de comprar títulos russos já está restrita — essas restrições podem ser reforçadas.
Isso privaria o país do acesso ao financiamento de que precisa para que sua economia cresça. O custo dos empréstimos do país pode aumentar e o valor do rublo, a moeda russa, pode cair.
A Rússia preparou-se para isso reduzindo o montante da dívida detida por investidores estrangeiros.
4. Bancos na mira
Os EUA poderiam simplesmente colocar na chamada lista negra (blacklist, em inglês) alguns bancos russos e tornar quase impossível para qualquer pessoa no mundo realizar transações com eles.
Moscou teria que socorrer os bancos e fazer o que pudesse para evitar o aumento da inflação e a queda da renda.
No entanto, isso teria um grande impacto negativo para os investidores ocidentais com dinheiro nesses bancos russos.
5. Controles de exportação direcionados
O Ocidente poderia restringir a exportação de commodities-chave para a Rússia.
Os EUA poderiam, por exemplo, impedir que empresas vendessem quaisquer produtos que contenham tecnologia, software ou equipamento americano.
Isso poderia envolver, em particular, microchips semicondutores, usados em tudo – carros, celulares, máquinas e eletrônicos em geral.
Isso teria como alvo não apenas os setores de defesa e aeroespacial da Rússia, mas grandes setores de sua economia.
6. Restrições de energia
A economia da Rússia é extremamente dependente da venda de gás e petróleo no exterior. As vendas são uma grande fonte de receita para o Kremlin.
O Ocidente pode tornar ilegal que países e empresas comprem petróleo dos grandes gigantes russos da energia, como Gazprom ou Rosneft.
Os EUA poderiam usar sua força diplomática para impedir que um novo gasoduto sob o Mar Báltico da Rússia à Alemanha — chamado Nord Stream 2 — entre em operação. Ele já foi construído, mas ainda está aguardando aprovação regulatória.
O presidente Biden disse: “Prometo que seremos capazes de fazer isso”
Mas qualquer restrição ao gás russo aumentaria os preços em toda a Europa, muitos dos quais dependem da energia do leste.
7. Indivíduos como alvo
Novas sanções podem ser direcionadas a indivíduos, incluindo não apenas associados de Vladimir Putin, mas também o próprio presidente russo.
Isso provavelmente envolveria punir atos de hostilidade contra a Ucrânia ou ameaçar sua soberania ou integridade territorial.
Congelamentos de ativos e banimentos de viagens são as opções mais prováveis. Mas muitas dessas sanções já estão em vigor e ainda não tiveram o impacto esperado no comportamento dos russos.
A esperança das potências norte-americanas e europeias é que a elite russa pressione Putin se eles não puderem acessar sua riqueza em países estrangeiros e educar seus filhos em escolas e universidades ocidentais.
8. Restrições em Londres
Algumas sanções podem ser impostas para restringir a capacidade dos russos de investir e viver em Londres.
Tal é a escala do dinheiro russo em bancos e propriedades no Reino Unido que a capital foi apelidada de “Londongrad” (algo como “Londresgrado”, em tradução livre).
O governo do Reino Unido afirma que está lidando com esse problema ao exigir que as pessoas informem a origem do dinheiro.
Algumas organizações dos EUA querem que a Casa Branca pressione o Reino Unido mais fortemente.
Dificuldades para o Ocidente
Os países ocidentais traçaram planos para sanções coordenadas e severas se a Rússia lançar uma invasão total da Ucrânia.
Mas e se Moscou fizer apenas uma “pequena incursão”, nas palavras de Joe Biden?
Há também a possibilidade de que a Rússia possa manter suas tropas cercando a Ucrânia por meses a fio para ameaçá-la, enquanto lança ataques cibernéticos para enfraquecê-la.
Diplomatas americanos e europeus dizem que os países ocidentais estão menos unidos em como responder a esses cenários.
Alguns países que têm relações mais estreitas com a Rússia — como Hungria, Itália e Áustria — podem não estar dispostos a implementar sanções, exceto após um ataque total.
A Rússia também poderia mitigar o impacto das sanções ocidentais ao buscar apoio na China e em outros aliados.
A conclusão é que as sanções econômicas mais eficazes geralmente têm um preço alto para aqueles que as impõem. Nem todos no Ocidente estão dispostos a tomá-las.