Estatal russa de energia Gazprom informou que não haverá fornecimento de gás por três dias pelo Nord Stream 1, devido a uma manutenção. Em julho, o gasoduto ficou fora de operação por dez dias para reparos.
A empresa estatal russa de energia Gazprom anunciou nesta última sexta-feira (19) uma nova interrupção no fornecimento de gás para a Europa através do gasoduto Nord Stream 1, que liga a Rússia à Alemanha através do Mar Báltico. Após o anúncio, o preço do gás disparou, chegando a um nível recorde.
Segundo a Gazprom, o gás não será enviado por três dias, de 31 de agosto a 2 de setembro, devido à manutenção do gasoduto.
“É preciso fazer manutenção a cada mil horas [de operação]”, indicou a estatal em comunicado, acrescentando que o trabalho contará com a participação de técnicos da Siemens. Questionada, a Siemens Energy não comentou o assunto.
De acordo com a Gazprom, após a manutenção, 33 milhões de metros cúbicos de gás natural por dia voltarão a ser entregues através do Nord Stream 1 – se não houver problemas técnicos. Isso corresponde a 20% da produção máxima diária, nível para o qual a Rússia reduziu a entrega há algumas semanas alegado problemas técnicos.
O novo anúncio surge em uma altura em que a Europa se depara com problemas energéticos, acusando a Rússia de usar esta fonte como chantagem.
Desde que Putin lançou um ataque à Ucrânia em 24 de fevereiro e o Ocidente respondeu com sanções contra Moscou, a Rússia começou a reduzir seu fornecimento de gás aos países da UE. Putin culpou o Ocidente e as sanções impostas à Rússia por problemas de abastecimento.
Alta nos preços
A dificuldade do bloco europeu em acumular reservas suficientes para poder prescindir das exportações russas durante o inverno fez com que o preço do gás atingisse um valor recorde nesta sexta-feira.
O preço da gasolina já havia subido ao longo do dia na Alemanha. Para analistas, os aumentos também se devem, entre outras coisas, a declarações de Klaus Müller, chefe da agência federal alemã responsável por diferentes redes, como de trens e de gás.
Em entrevista na quinta-feira, ele disse que as metas estabelecidas pelo governo alemão para o enchimento das instalações de armazenamento de gás dificilmente poderão ser alcançadas. Atualmente, está previsto que os reservatórios estejam 85% cheios até 1º de outubro e 95% até 1º de novembro. No entanto, para Müller, alcançar a meta de 85% “já é bastante ambicioso”.
Ele também alertou que os consumidores provavelmente terão que se acostumar com as pressões no mercado de gás de médio ou longo prazo.
“Não se trata de apenas um inverno, mas de pelo menos dois. E o segundo inverno [a partir do final de 2023] pode ser ainda mais difícil. Temos que economizar muito gás por pelo menos mais um ano. Para ser bem direto: serão pelo menos dois invernos de muito estresse”, afirmou Müller.
Na quinta-feira, o chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, anunciou que o governo vai reduzir temporariamente o imposto sobre valor agregado (IVA) do gás, de 19% para 7%, a fim de “desafogar os consumidores” em meio a alta dos preços.
Interrupção em julho
Em julho, o fornecimento de gás pelo Nord Stream 1 ficou interrompido por dez dias, para manutenção anual. O gasoduto é a principal fonte de gás russo para a Alemanha.
Havia o temor de que a Rússia aproveitasse a manutenção periódica para suspender permanentemente o funcionamento do duto, cortando a fornecimento do combustível, o que provocaria uma crise energética no país. A Alemanha acusou o Kremlin de usar a energia como “arma política”.
No ano passado, a Rússia forneceu 40% do gás importado pela UE, por meio do Nord Stream 1 e de outros gasodutos. Além da Alemanha, são abastecidos com gás russo transportado por meio do Nord Stream 1 Bélgica, Dinamarca, Itália, França, Reino Unido e Holanda, entre outros países europeus.
Plano de contingência
Em 26 de julho, a União Europeia aprovou um plano de redução do consumo de gás, com o objetivo de armazenar o combustível para ser usado durante o inverno e diminuir a dependência da Rússia no setor energético. O plano de contingência entrou em vigor no início de agosto.
Na Alemanha, o governo segue analisando maneiras de limitar o consumo de energia, antevendo a situação para o próximo inverno.
Prédios públicos, com exceção de hospitais, por exemplo, serão aquecidos somente a 19 ºC durante os meses frios. Além disso, diversas cidades na Alemanha passaram a reduzir a iluminação noturna de monumentos históricos e prédios públicos.
Em Berlim, cerca de 200 edifícios e marcos históricos, incluindo o prédio da prefeitura, a Ópera Estatal, a Coluna da Vitória e o Palácio de Charlottenburg, começaram a passar por um processo de desligamento gradual de seus holofotes no final de julho, em um processo que levaria quatro semanas.
Hannover, no norte do país, também anunciou seu plano para reduzir o consumo de energia em 15% e se tornou a primeira grande cidade europeia a desligar a água quente em prédios públicos, o que inclui oferecer apenas chuveiros frios em piscinas e centros esportivos.