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sábado 2 de abril de 2022 às 07:14h

Rui Costa sela paz com Jaques Wagner e articula frente para Lula na Bahia

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Depois de semanas de atritos na base aliada, o governador da Bahia, Rui Costa (PT), selou a paz com o senador Jaques Wagner (PT) e deu uma demonstração de unidade no grupo liderado pelo PT na corrida pelo governo baiano.

Ao contrário dos seis governadores que renunciam nesta semana para concorrer a outros cargos, Rui Costa decidiu cumprir o seu mandato até o final para conduzir a sucessão, seu desejo era ser senador da República, mas agora estaria pensando em ser ministro de Lula. Com a decisão, repete o gesto do próprio Jaques Wagner há oito anos

Nesta quinta-feira (31), no ato de lançamento da candidatura de Jerônimo Rodrigues ao governo baiano com a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o governador fez uma deferência a Wagner no palco e chorou nos braços de seu antigo padrinho político.

“Desde que eu tomei posse, galego, aqueles que não acreditam em projeto coletivo, em amizade duradoura, em lealdade, em gratidão, todos esses ao longo dos sete anos e três meses tentaram plantar intrigas e fofocas. Mas eu quero reafirmar para a Bahia que este aqui é um amigo de 40 anos”, afirmou.

A relação entre Rui Costa e Wagner estremeceu em meio à implosão do palanque tido, até então, como um dos mais sólidos para a campanha do ex-presidente Lula.

A desistência de Jaques Wagner em concorrer ao governo baiano e a negativa do também senador Otto Alencar (PSD) em disputar o cargo fizeram com que o PT buscasse uma saída caseira e escolhesse o ex-secretário estadual de Educação Jerônimo Rodrigues como candidato ao governo.

No processo de escolha, Rui Costa prevaleceu sobre Wagner, que preferia o nome da prefeita de Lauro de Freitas e ex-deputada federal Moema Gramacho (PT) para concorrer ao cargo.

Por outro lado, o governador teve que abrir mão de disputar uma vaga no Senado, movimento que resultou no rompimento do PP do vice-governador João Leão, que era aliado aos petistas na Bahia há 13 anos.

Com os seus dois principais líderes políticos na Bahia fora das urnas, o PT terá como missão alavancar a candidatura do desconhecido Jerônimo Rodrigues ao governo do estado e trabalhar para turbinar votação de Lula no estado.​

No ato desta quinta-feira, Rui Costa prometeu a Lula uma larga margem de votos no estado: “Você terá na Bahia mais de 70% dos votos no primeiro turno. O Lula precisa da Bahia, a Bahia precisa do Lula”.

Para atingir tal patamar, contudo, Lula precisará dos votos de parte dos eleitores do ex-prefeito de Salvador e pré-candidato a governador ACM Neto (União Brasil), encarado como favorito na disputa na Bahia.

Em seu discurso no estado, o ex-presidente evitou fustigar o ex-prefeito de Salvador, com quem tem um largo histórico de brigas e críticas mútuas: “Eu vou evitar falar mal dos outros. Eu vou falar bem de nós”, disse o ex-presidente.

A postura de Lula vai ao encontro com estratégia de ACM Neto, que entra na disputa sem apoiar nenhum presidenciável, tem evitado críticas a Lula e terá apoiadores do petista em sua coligação.

Com Lula no estilo “paz e amor”, coube ao governador Rui Costa assumir o lugar de franco-atirador e disparar críticas a ACM Neto, o vice-governador João Leão e o presidente Jair Bolsonaro (PL).

A principal estratégia tem sido associar ACM Neto ao governo Bolsonaro, que é impopular no Nordeste.

Os petistas também buscam construir uma dicotomia entre Jerônimo Rodrigues, professor que nunca ocupou cargo eletivo, e o ex-prefeito de Salvador, que vem de um dos principais clãs políticos da Bahia e é neto do ex-governador Antônio Carlos Magalhães (1937-2007).

“Por mais que alguns que têm sobrenome famoso insistam em achar que a Bahia tem dono, a Bahia não tem dono. A Bahia é dos baianos”, disparou o governador Rui Costa no ato desta quinta.

Outro alvo recente é João Leão, que após romper com o PT será candidato ao Senado na chapa de ACM Neto.

Rui Costa e João Leão tiveram uma relação cordial ao longo dos dois mandatos, mas chegam à sucessão em palanques opostos e com interesses conflitantes.

Candidato ao Senado, Leão não poderá assumir o governo da Bahia nos próximos seis meses para não ficar inelegível. Mas não renunciará ao posto para o qual foi eleito em 2018 e segue despachando no mesmo prédio da Governadoria.

Aliados de Rui Costa tentam colar em Leão a pecha de traidor, por ter deixado a base aliada nas vésperas das eleições. Também trabalham pelo apoio firme de Lula à reeleição do senador Otto Alencar.

O próprio governador subiu o tom em relação a Leão. Em um discurso durante no interior da Bahia, Rui Costa disse que ninguém pode colocar “a faca no pescoço” para que ele renunciasse ao seu mandato, em uma referência ao vice.

Na semana passada, voltou a fustigar o vice após este fazer críticas à gestão da educação da Bahia: “Acho que não fica bonito ele estar criticando o almoço que ele acabou de comer, prefiro deixar que a população julgue”.

Leão, por sua vez, se diz traído após o não cumprimento do acordo no qual assumiria o governo da Bahia. Mas evita ataques ao governador.

“Não vou baixar o nível, não é do meu feito sair atirando. Não quero briga, quero proposições para a Bahia”, diz Leão.

A subida de tom dos petistas resvalou na eleição nacional. Em meio à estratégia de ACM Neto de afastar-se do bolsonarismo e disputar a eleição estadual com palanque aberto, sem uma candidatura eleição nacional, Leão afirmou dias após o rompimento que apoiaria Lula para presidente.

Após a reação do PT da Bahia, que tem buscado o associar a Jair Bolsonaro, o vice-governador mudou o tom e diz que vai decidir sobre o pleito nacional mais para frente: “Não vou brigar nem com Lula nem com Bolsonaro, quero ser o senador de todos os baianos”.

Ao mesmo tempo em que mira adversários, Rui Costa tem trabalhado para atrair novos partidos para a base, neutralizar a debandada de aliados e turbinar a pré-candidatura de Jerônimo Rodrigues.

Nesta quarta-feira (30), o PT selou uma aliança com MDB do ex-ministro Geddel Vieira Lima, que está em liberdade condicional da pena que cumpre por lavagem de dinheiro após a descoberta pela Polícia Federal de um bunker com R$ 51 milhões em Salvador.

Geddel não possui cargo de comando no MDB, mas segue como figura influente nas decisões do partido. Ele estava presente no anúncio da parceria na sede do MDB da Bahia, mas ficou longe dos holofotes.

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