Em busca de apoio ao Planalto, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), acenou em busca de uma reconciliação com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e alfinetou o presidente Lula da Silva (PT).
Em entrevista exclusiva a
Terra, o político, que lança nesta sexta-feira (4) a pré-candidatura à presidência, chamou o ex-presidente –que recentemente se tornou réu por tentativa de golpe de Estado– de grande liderança. Já em relação ao petista, Caiado não poupou críticas e o rotulou como incompetente.Assista:
“Reconheço a liderança do Bolsonaro, despertou um sentimento no País todo. É uma grande liderança, mas nem por isso nós temos que concordar em tudo […]. Porque o que adianta também você eleger um presidente da República que amanhã não dá conta de fazer nada. Fica igual esse que está aí. Não resolve. Cada dia o Brasil piora. Ele [Lula] não sabe se ele passeia. Ele não sabe se ele fala bobagem”, disse durante a entrevista.
A estratégia de Caiado é tentar uma reaproximação com Bolsonaro após a relação estremecer durante as eleições municipais de 2024, quando o governador apoiou Sandro União (União Brasil) –que acabou vencedor na capital goiana–, enquanto o ex-presidente ficou do lado de Fred Rodrigues (PL).
Além disso, Caiado adota um tom de um ferrenho opositor ao governo Lula em meio a desconfiança por parte de integrantes do União Brasil e de entusiastas da sua pré-candidatura sobre a capacidade do governador de viabilizar uma candidatura competitiva em 2026. Na avaliação de lideranças políticas do campo conservador, Caiado não tem capital político para representar a direita nem à direita bolsonarista.
“Neste momento de prévia, ninguém aqui está buscando apoio de todos os membros do seu partido. [O União Brasil] é um partido como qualquer outro, onde as pessoas que tiverem a pretensão de disputar podem disputar. Na política, não dá mais para ser o candidato de bolso de colete. Ou seja, eu vou chegar lá no dia 15 de agosto e vou dizer, não, o candidato é tal. Não dá para isso mais. O candidato não é aquele que alguém acha. O candidato é aquele que dá conta de chegar junto à população e ver se tem voto”, enfatizou Caiado ao defender sua pré-candidatura.
Na quinta-feira (3) o nome de Caiado apareceu em um dos cenários estimulados pela pesquisa da Genial/Quaest sobre intenção de votos para a eleição presidencial de 2026. Lula apareceu com 14 pontos de vantagem contra o candidato do União Brasil. Ao todo, 4% se declaram indecisos, e 22% responderam a opção Branco/Nulo/Não vota. A pesquisa foi encomendada pela Genial Investimentos, e ouviu 2.004 pessoas de 16 anos ou mais, entre os dias 27 e 31 de março. A margem de erro é de dois pontos para mais ou para menos. O nível de confiança é de 95%.
Lançamento de pré-candidatura
Embora não tenha o apoio da totalidade de seu partido e sofra com a desconfiança quanto sua competitividade, é esperado para o evento de lançamento de pré-candidatura nesta sexta-feira, 4, que o governador esteja cercado por caciques do União Brasil e integrantes da executiva nacional, como Antônio Rueda (presidente) e ACM Neto (vice-presidente).
Confira abaixo a entrevista de Caiado exclusiva ao Terra
Terra: Por que o senhor escolheu a Bahia para lançar essa pré-candidatura à presidência? Qual a estratégia por trás desse lançamento há mais de 1 ano das eleições?
Caiado: Tem vários motivos para que eu viesse aqui [Salvador] fazer o pré-lançamento da nossa campanha. Primeiro, dada a minha filiação política, sempre foi vinculada à base política também muito forte na Bahia desde o início, em que fui deputado federal pelo PFL e daí foram os anos sucessivos, passando a Democratas, agora a União Brasil. Segundo, porque também recebi esse título do atual prefeito Bruno Reis, quando era deputado estadual. E terceiro, vocês sabem, minha mulher é baiana, de Feira de Santana.
E depois de todos esses fatos também, convergiram para que tivesse essa data agora após o Carnaval, para que nós já iniciássemos o processo. Um processo que precisa ter um período mais longo, porque não pode ser apenas um período de campanha eleitoral, a campanha só dura 40 dias. É por isso que nós vamos, agora, começar a andar o Brasil, vamos começar a caminhar pelos Estados do Nordeste, vamos começar a levar nossas propostas, vamos poder mostrar o que é o nosso governo, as realizações que nós implantamos.
Terra: Governador, embora o senhor esteja se adiantando com o anúncio da pré-candidatura, na avaliação de integrantes do União Brasil, o senhor não tem capital político para representar a direita e, portanto, viabilizar uma candidatura competitiva em 2026. Como o senhor reage a isso e a já prevista ausência de algumas lideranças do seu partido no lançamento da sua pré-candidatura?
Caiado: É importante que seja dito, uma coisa só. Neste momento de prévia, ninguém aqui está buscando apoio de todos os membros do seu partido. É um partido, como qualquer outro, onde as pessoas que tiverem a pretensão de disputar podem disputar também. Ou seja, a política não dá mais para ser o candidato de bolso de colete. Eu vou chegar lá no dia 15 de agosto e vou dizer, não, o candidato é tal. Não dá para isso mais. O candidato não é aquele que alguém acha, não. O candidato é aquele que dá conta de chegar junto à população e ver se tem voto. Ver se aquilo que ele está propondo tem fundamento. Ver se realmente ele é um homem cumpridor de palavra. Ver se realmente ele tem capacidade de entregar o que ele propõe.
O que adianta você eleger um presidente da República que amanhã não dá conta de fazer nada. Fica igual esse que está aí. Não resolve. Cada dia o Brasil piora. Ele não sabe se ele passeia. Ele não sabe se ele fala bobagem. E o que resolve o Brasil? Nada. Inflação voltando. Ninguém consegue botar uma cesta básica para a sua família poder se alimentar dignamente. A violência toma conta.
Desde ontem que eu estou aqui em Salvador, eu estou impressionado. Eu venho de um Estado onde você anda por tudo quanto é lugar. Você anda com o telefone celular, com bicicleta, moto, de carro, a pé. Você vai pegar o ônibus. Você vai para qualquer lugar. Aqui [na Bahia] todo mundo está tenso. Eu não posso chegar lá no metrô. Se eu não pegar alguém que vai me levar para me acompanhar. Eu não posso entrar nesse bairro. Porque a facção do bairro não deixa. Porque eu sou de outro bairro. Eu nunca vi isso na minha vida. Então quem é que tem coragem de mudar isso? Quem é que tem coragem de fazer essa mudança? Eu não fico no discurso.
Você vai lá em Goiás, você vai ver. Você pode andar com o seu celular onde você quiser. Qualquer hora do dia, da noite. Você pode ir para qualquer propriedade rural. Você pode ir para qualquer cidade. Você lá transita com total tranquilidade. Então o que é importante é as pessoas pararem de rotular quem deve ser. Deve ser por quê? Ele é seu amigo? Ele vai manter as mamatas suas lá no governo? Ele vai continuar com a estrutura de governo para governar para alguns? Ou ele vai governar para o povo brasileiro? Para quem ele vai governar? É isso que você precisa saber. Agora, eu não faço isso de discurso. Eu faço isso de prática. Em qualquer item desse aí que é atuação de governo, você vai no meu estado eu sou o primeiro lugar em todos eles no país.
Terra: Como transformar esses feitos que o senhor cita em apoio político e voto? Uma aliança do União Brasil com o PP pode atrapalhar seus planos de disputar a presidência? O presidente do PP, Ciro Nogueira, já disse que caso a formação da federação avance, o apoio do grupo em 2026 será para Bolsonaro ou para o nome indicado por ele.
Caiado: Difícil falar sobre isso porque nem aconteceu. O União Brasil não precisa emprestar hoje a importância dele ser o terceiro maior partido e nem o PP. São dois partidos independentes. Para que você vai criar conflito? Aqui na Bahia, o PP e o União Brasil estão todos acertadinhos? Não tem atrito nenhum? Está tudo pacificado? Então você acha que nos outros Estados também alguém vai se subordinar ao outro?
A gente tem que ver quais são os interesses de alguém, mas se isso é compatível com a realidade ou com a vida como ela é lá naquele Estado. O Estado, nessa hora, não cumpre ordem porque o partido nacionalmente determinou não. Cada político tem a sua independência. O que é preciso colocar é que o si ainda não aconteceu. Não tem porquê trabalhar com isso quando você começa a identificar os Estados. Como é que a vontade de uma pessoa sobrepõe-se a todas as posições partidárias? Pode ser essa decisão dentro do PP. Agora, dentro do União Brasil, isso é decidido em convenção nacional. Não é a decisão de uma pessoa. É a decisão em convenção nacional. Tem deputado, tem senador, tem governador, governador das capitais, membros do diretório que respondem na nacional.
Terra: Governador, no campo político que o senhor representa, que é a direita, o maior representante hoje, sem dúvida, é o ex-presidente Jair Bolsonaro. Como está a relação do senhor com o ex-presidente? Nós acompanhamos que essa relação ficou estremecida nas eleições de 2024, onde o senhor apoiou o atual prefeito de Goiânia contra o candidato do presidente. De lá para cá, vocês se acertaram? Recentemente o senhor se alinhou a ele na defesa da anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro. Isso é uma sinalização que o senhor quer se reconciliar com o ex-presidente?
Caiado: Bom, você sabe que eu sempre fui um político totalmente independente. Tenho minhas convicções. Tenho uma história de vida. Não comecei na política agora nem caí de paraquedas na política. Em 1988, em 1989, eu fui candidato a presidente da República. Eu era o mais jovem candidato e o único que defendia a direita, o produtor rural, economia de mercado e direito de propriedade. Reconheço a liderança do Bolsonaro, despertou um sentimento no País todo. É uma grande liderança, mas nem por isso nós temos que concordar em tudo.
Uma coisa é você ter princípios. Agora, dentro do momento, você tem teses que são divergentes, como essa que você citou. Por exemplo, lá em Goiânia, ele resolveu lançar um candidato. Eu lancei o meu, ganhei. Em relação a Covid, ele era contra a vacinação, eu era a favor. Eu tenho posição. Sou uma pessoa que estudo. Eu sou uma pessoa que tento me embasar naquilo que é melhor para se fazer para o meu Estado. Tanto é que o Estado cresceu exatamente dentro de uma política de apoio a pessoas técnicas qualificadas em cada uma das suas secretarias. Então, sou uma pessoa que eu acredito na ciência. Eu acredito no estudo. Então, é isso que eu enxergo para o Brasil.
Terra: Governador, falamos um pouco do passado, agora vamos falar um pouco do presente para já projetar o futuro. Sobre o atual governo, como o senhor vê a queda da popularidade do presidente Lula? Isso te favorece?
Caiado: Não, não é questão que me favorece ou favorece aos outros. Isso é uma notícia extremamente triste porque quem está sofrendo é o povo brasileiro. Veja bem. O cidadão hoje, com a inflação com uma taxa de juros de 14,25%. O cidadão hoje não consegue mais se alimentar, está fazendo hoje o carrinho no supermercado e está escolhendo o produto. O que o presidente diz? ‘Ah, não, está caro, você não compra’. Se não compra, como é que você vai viver? Como é que você vai comer? Veja a saída dele. Não, ‘se está caro, você não compra’. Não, espera aí. Você que deveria cuidar, presidente. Você que está inflacionando o Brasil. Você que deveria cuidar da sua política que é responsabilidade sua. Não é culpa do cidadão que não pode na gôndola lá do supermercado pegar um produto não. Você que está provocando isso. Depois você falava que era o Roberto Campos que fazia isso quando era presidente do Banco Central. Agora, o presidente do Banco Central é aliado seu. Continua o pior.
Terra: O senhor foi candidato nas eleições de 1989, primeira eleição direta do país após a redemocratização. Naquela eleição o senhor teve um desempenho muito aquém. Qual a similaridade que o senhor vê daquela eleição para essa? E por fim, quais serão os pilares que o senhor pretende defender ao longo de sua campanha? Objetivamente, quais os problemas nacionais mais urgentes que o senhor pretende enfrentar? Quais soluções o senhor propõe?
Caiado: É bom esse comparativo. Naquela época todo mundo tinha um olhar para a agricultura, que não enxergava o potencial que tinha. Eu já enxerguei naquela época. O Lula, naquele momento, eu dizia, olha aprendam bem: a esquerda no governo é um zero à esquerda. Se o Lula for fazer uma construção no deserto do Saara vai faltar areia tamanha a incompetência dele, mas a pessoa não acreditou. Hoje, a realidade é outra. Todo mundo está no discurso do Caiado. Você está vendo a livre iniciativa, é o direito de propriedade, de querer ter minha bicicleta, minha chacrinha, meu emprego ou de ser empreendedor. A juventude quer ter o direito de expandir o seu potencial. Enfim, hoje, é uma outra realidade que nós desenhávamos há 36 anos. Então, hoje, eu estou numa posição extremamente confortável. O meu discurso é muito mais compatível com aquilo que eu defendi em 1989, sendo o mais jovem candidato a presidente da República. Fui o único que defendia economia de mercado, direito de propriedade e também a liberdade econômica e que, hoje em dia, depois de passar 36 anos, eu tenho a condição de voltar e falar.