Nos perfis dos 513 deputados federais e 81 senadores nas redes sociais, a repercussão do retorno do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ao Brasil ficou restrita à base bolsonarista. Um levantamento da coluna Sonar, do O Globo, com base em dados do Facebook, aponta que esse grupo concentrou 77% das 110 postagens feitas por parlamentares sobre o assunto entre 5h e 17h de quinta-feira.
No período, sete em cada dez deputados e senadores que fizeram postagens sobre o tema são bolsonaristas. Os dados indicam que, assim como o governo, boa parte dos parlamentares governistas aderiu à estratégia de evitar o tema para não amplificar o retorno de Bolsonaro.
Da lista, os deputados Carla Zambelli (PL-SP), Gustavo Gayer (PL-GO) e Hélio Lopes (PL-RJ) e o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) alcançaram o maior número de visualizações e compartilhamentos. Juntos, atingiram 1,08 milhão de visualizações com transmissões ao vivo sobre a chegada do ex-presidente ao país.
Já os poucos parlamentares de oposição que abordaram ao assunto buscaram apontar que a recepção a Bolsonaro ficou esvaziada ou relembraram o caso das joias recebidas pelo ex-presidente do regime da Arábia Saudita. Nessa linha, quem mais teve destaque foi o deputado federal Guilherme Boulos. O parlamentar compartilhou um vídeo com imagens do evento na sede do PL, em Brasília. Na legenda, ironizou: “Multidão recebe Bolsonaro em Brasília”. A postagem teve menos engajamento, na comparação com parlamentares bolsonaristas, e somou 15 mil visualizações.
Professor de Estudos de Mídia da Universidade da Virgínia e estudioso da mobilização bolsonarista em aplicativos de mensagens, David Nemer afirma que o retorno de Bolsonaro gerou baixo engajamento nos grupos que monitora. Ele vê como um dos fatores para a pouca atenção a postura do ex-presidente, mais contida e mais distante do estilo bélico observado durante seu governo. A estratégia, avalia, remete ao comportamento do ex-presidente dos EUA Donald Trump após sua derrota eleitoral.
— Os grupos não estavam engajados. Bolsonaro volta ao Brasil pisando em ovos, com questões que têm que lidar, o caso das joias, sua potencial participação no 8 de janeiro. Ele busca menos atenção, principalmente das autoridades. Sem poder agir com o comportamento que instiga sua base e sem ter a máquina, Bolsonaro terá que reconstruir sua performance.