O eleitor deixou uma pilha de recados para os políticos e para a sociedade brasileira nessas eleições municipais. O primeiro deles é: “por favor, me entenda.” Esse recado precisa ser compreendido principalmente pela esquerda.
Segundo Míriam Leitão, o PT, o partido derrotado à esquerda, está com dificuldade de entender o mundo atual. O partido precisa voltar às ruas, fazer conexões e ligações mais fortes com o eleitorado par entender o que de fato ele deseja. O PT cresceu nesta eleição em relação a 2020, no entanto, o quadro que era muito ruim, permanece ruim. O partido venceu em apenas uma capital e teve derrotas muito importantes e expressivas.
O outro recado que vai para a extrema direita é: “Eu não gosto do kit, sou contra a vacina, dane-se se morrem mulheres – como bradou o candidato à prefeitura de Fortaleza, André Fernandes, que perdeu a eleição- e também não aprovo o desprezo em relação às regras, à democracia”. Esse kit ligado à extrema-direita, portanto, ao discurso de Jair Bolsonaro, perdeu a eleição.
Quando se fala que quem ganhou as eleições municipais foram os partidos de centro e centro-direita, é bom lembrar que essas legendas se filiam a qualquer governo. Por exemplo, MDB e PSD, os dois grandes vencedores dessas eleições, em número de municípios e em número de votos, já fecharam com o governo Lula, e já fecharam com o governo do Bolsonaro e nesse momento estão na base do governo Lula, representando forças mais conservadoras.
O Brasil é muito difícil de entender por causa de todas essas nuances. Às vezes o mesmo partido é de direita em uma parte do país e se posiciona mais ao centro-esquerda ou centro em outra região, o que é curioso.
O recado mais importante é de fato deixado pelos eleitores é : “Por favor me entenda. Eu mudei. O mundo mudou. Eu tenho outros sonhos. Eu quero outras coisas. Vamos conversar melhor.” E aí entra uma outra questão importante: Por que não foi possível conversar direito? Porque teve um ruído muito grande chamado emendas parlamentares. As emendas parlamentares desbalancearam o equilíbrio de Poderes lá em Brasília e nas eleições mostraram que o dinheiro destinado para municípios aumentou, e muito, o continuísmo. Em alguns casos a reeleição foi de fato por aprovação da gestão, em outros, no entanto, foi o uso da máquina ou o uso abusivo dessas emendas.
O volume tanto das emendas quanto do fundo eleitoral é excessivo, num momento em que as campanhas ficaram mais baratas, com o uso de todos os recursos das mídias digitais. O cidadão não quer dar R$ 5 bilhões para uma eleição municipal e a cada pleito esse montante cresce. Esse fundo está ficando extravagante e as emendas parlamentares também chegaram num volume tão alto que elas distorcem o processo eleitoral de hoje e o de amanhã, porque esses prefeitos serão cabos eleitorais dos deputados na próxima eleição. O próximo Congresso, principalmente, a Câmara dos Deputados, vai ser muito definido pelo que aconteceu agora. Claramente, em 2026.
Isso apareceu principalmente na fala do prefeito eleito Ricardo Nunes (MDB) ainda conforme Míriam Leitão, que deixou Jair Bolsonaro de lado, diga-se de passagem, o ex-presidente não esteve mesmo em sua campanha e deu sinais ambíguos. Em seu discurso de vitória, Nunes lançou Tarcísio como candidato à presidência, dizendo que o sobrenome dele é futuro. Além disso, Nunes disse e repetiu que Tarcísio é “o nosso líder maior”. Obviamente esse discurso foi combinado com o governador, já que o prefeito não falaria nada que pudesse constranger seu principal aliado.
O governador Tarcísio de Freitas, no entanto, derrapou na última curva quando levantou uma acusação sem apresentar provas, com as urnas abertas. E aí fica um recado para a Justiça Eleitoral que precisa saber o que fazer quando um candidato ou uma campanha lança uma fake news com as urnas abertas, no último momento. Isso é muito sério e a Justiça Eleitoral hoje não sabe o que fazer. Conversei com autoridades em Brasília e a resposta foi “vamos aprender para a próxima campanha”.