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quarta-feira 29 de maio de 2024 às 11:25h

‘Quem sair do lugar é atingido por drones’: palestinos relatam pânico em Rafah em meio à ofensiva de Israel

MUNDO, NOTÍCIAS


As forças israelenses chegaram na terça-feira (28) ao centro da cidade de Rafah, no sul de Gaza, e tomaram uma colina estrategicamente importante com vista para a fronteira com o Egito, localizada nas proximidades.

Testemunhas e jornalistas locais disseram que havia tanques estacionados na rotatória de Al Awda, considerada um ponto de referência importante, onde se encontram os principais bancos e instituições governamentais.

Segundo eles também havia tanques na Colina de Zoroub, o que dá efetivamente a Israel o controle do chamado corredor Filadélfia, uma estreita faixa de terra que se estende ao longo da fronteira até o mar.

Fortes bombardeios foram ouvidos nos bairros a oeste da cidade na noite de segunda-feira, no dia seguinte ao ataque aéreo israelense que matou 45 palestinos – muitos deles mulheres, idosos e crianças – em um acampamento para pessoas desalojadas no domingo (26).

“As pessoas estão agora dentro de suas casas porque qualquer um que saia do lugar que está é atingido por drones israelenses”, afirmou Abdel Khatib, morador local, à agência de notícias AFP.

“A situação é muito perigosa”, acrescentou Faten Chouda, uma vizinha de 30 anos.

“Não dormimos a noite toda. Houve bombardeios aleatórios de todas as direções, incluindo bombardeios de artilharia e aéreos, assim como disparos de aviões.”

“Nós também vamos agora para Al Mawasi porque tememos pelas nossas vidas”, acrescentou, se referindo a uma região costeira próxima que Israel declarou como uma “zona humanitária segura”.

O Ministério da Saúde do território palestino, controlado pelo Hamas, disse que não tem capacidade para lidar com as consequências do ataque israelense de domingo em Rafah, especialmente depois que seus hospitais foram desativados.

Dezenas de milhares de palestinos haviam fugido diante do início das operações militares israelenses em Rafah, no início deste mês, para esta região, que Israel havia classificado como “humanitária e segura”, de acordo com mapas e folhetos distribuídos há poucos dias.

“As pessoas estão se refugiando em acampamentos. Atacaram as tendas com pessoas dentro, todas crianças inocentes, não havia combatentes, nada. Todos eram crianças”, afirmou uma testemunha à BBC enquanto ajudava em um hospital.

Segundo fontes palestinas, aviões de guerra israelenses bombardearam na tarde de domingo as tendas do acampamento para pessoas desalojadas perto das instalações da agência das Nações Unidas para refugiados palestinos, provocando um incêndio.

A Defesa Civil de Gaza afirmou que o fogo consumiu os corpos de dezenas de pessoas.

E algumas das vítimas que sobreviveram ao bombardeio tiveram membros amputados.

Israel disse que o ataque teve como alvo e matou dois líderes do Hamas, e que acredita que o incêndio resultante pode ter sido causado por uma explosão em um depósito de armas do Hamas nas proximidades.

“Não há nenhuma criança, idoso ou mulher seguro. Aqui está um homem e sua esposa martirizados, deixando para trás crianças inocentes. Que culpa tinham essas crianças para se tornarem órfãs?”, declarou outra testemunha.

Os palestinos disseram que o último ataque ocorreu em meio ao intenso bombardeio aéreo israelense sobre Rafah, assim como às suas incursões terrestres nas regiões leste e sul desta cidade na fronteira.

“A situação é muito grave. A ocupação israelense ataca deliberadamente civis em qualquer lugar. A ocupação israelense a declarou como uma zona segura e humanitária, e ainda assim bombardeou civis, crianças e mulheres. Este é o Exército de ocupação israelense”, afirmou à BBC Marwan al Hams, diretor do hospital Al Najar.

O chefe da agência das Nações Unidas para refugiados palestinos, Philippe Lazzarini, afirmou na segunda-feira que as imagens do dia do ataque eram “um testemunho de como Rafah se tornou um inferno na Terra”.

Operação em Rafah não ultrapassa limites dos EUA, diz Casa Branca

Enquanto isso, o porta-voz da Casa Branca, John Kirby, afirmou na terça-feira que os EUA não acreditam que Israel tenha lançado uma invasão em grande escala em Rafah.

Ele falou com jornalistas horas depois que as forças israelenses chegaram ao centro da cidade e supostamente tomaram uma colina estrategicamente importante com visão para a fronteira próxima com o Egito.

O presidente dos EUA, Joe Biden, havia dito neste mês que limitaria o fornecimento de armas a Israel se as tropas israelenses entrassem nos “centros populacionais” de Rafah, onde acredita-se que centenas de milhares de civis ainda estejam refugiados.

Kirby também foi questionado sobre o ataque israelense que deixou dezenas de mortos em um acampamento para palestinos desalojados no domingo. Ele descreveu as imagens do local como “desoladoras” e “terríveis”.

“Não deveria haver nenhuma vida inocente perdida como resultado deste conflito”, acrescentou.

O Departamento de Estado dos EUA disse que estava observando de perto os militares israelenses para conduzir uma investigação rápida e minuciosa sobre o ataque.

Quando o porta-voz da Casa Branca foi questionado se o ataque havia violado os limites previamente estabelecidos pelo presidente Biden, ele disse que “não havia nenhuma mudança de política para comentar”.

“Não apoiamos e não apoiaremos uma grande operação terrestre em Rafah”, disse Kirby.

“O presidente disse que, caso isso aconteça, poderá ter que tomar decisões diferentes em termos de apoio.”

“Não vimos isso acontecer neste momento.”

“Não os vimos entrar com grandes unidades, um grande número de tropas, em colunas e formações, em algum tipo de manobra coordenada contra múltiplos alvos no terreno”, completou.

Israel insiste que não será capaz de sair vitorioso da guerra de sete meses contra o Hamas, em Gaza, sem tomar Rafah — e tem rejeitado os alertas de consequências humanitárias catastróficas.

As Forças de Defesa de Israel (FDI) iniciaram o que chamaram de operações terrestres “direcionadas” contra combatentes e infraestruturas do Hamas no leste de Rafah, em 6 de maio.

Desde então, tanques e tropas avançaram gradualmente para áreas urbanas a leste e no centro, ao mesmo tempo que se deslocaram para o norte ao longo da fronteira de 13 quilômetros com o Egito.

Em entrevista à rede CNN em 8 de maio, Biden disse ter deixado claro ao primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que “se eles entrarem em Rafah, não fornecerei as armas que têm sido usadas historicamente para lidar com Rafah, para lidar com as cidades, para lidar com esse problema”.

Ele disse que não havia suspendido o fornecimento de armas naquele momento porque Israel ainda não havia “entrado nos centros populacionais” de Rafah, e que as suas operações haviam ocorrido “bem na fronteira”.

O presidente americano enfrenta apelos cada vez mais fortes internamente para fazer mais pressão sobre o governo israelense para garantir que seja feito de tudo para minimizar o impacto humanitário do conflito.

Em discurso ao Parlamento israelense na segunda-feira, Netanyahu disse que o ataque de domingo foi um “acidente trágico”, mas prometeu continuar com a operação em Rafah.

Sam Rose, porta-voz da agência humanitária da ONU para refugiados palestinos (UNRWA, na sigla em inglês), disse à BBC News na terça-feira:

“O que testemunhamos nas últimas 24 horas é uma intensificação dos bombardeios em Rafah e das operações militares [que estão] avançando mais a oeste, no bairro de Tal al-Sultan da cidade.”

“Isso inclui o acampamento de tendas que foi atingido há algumas noites. Inclui também uma grande base logística da UNRWA e o Centro de Saúde da UNRWA, que é essencialmente o coração da operação humanitária em Rafah, e tem sido assim há vários meses.”

“Estas partes da cidade ficaram praticamente vazias nas últimas 24 horas. Portanto, há uma preocupação real, um torpor real, um medo real entre a população neste momento.”

A escalada das operações israelenses ocorreu dois dias após a Corte Internacional de Justiça (CIJ) ter determinado que Israel suspendesse imediatamente sua ofensiva militar em Rafah.

Israel lançou sua campanha militar em Gaza para destruir o Hamas em resposta ao ataque do grupo palestino ao sul de Israel em 7 de outubro, no qual cerca de 1,2 mil pessoas morreram e outras 252 foram feitas reféns.

Pelo menos 36.050 pessoas foram mortas em Gaza desde então, de acordo com o Ministério da Saúde do território, administrado pelo Hamas.

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