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Vazamento de gás no gasoduto Nord Stream 2 em vista aérea por F-16 dinamarquês. Ritzau Scanpix/via REUTERS
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quinta-feira 29 de setembro de 2022 às 18:07h

Quem pode estar por trás de vazamentos em gasodutos russos?

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Autoridades europeias e americanas foram rápidas em culpar a Rússia pelos danos detectados recentemente nos gasodutos Nord Stream 1 e 2, no Mar Báltico. Mas o que Moscou ganharia com isso? E o que dizem as evidências?Nesta semana, a Agência Dinamarquesa de Energia disse que encontrou dois vazamentos no gasoduto Nord Stream 1, em um trecho localizado a nordeste da ilha de Bornholm, no Mar Báltico, e outros dois no Nord Stream 2, em águas suecas a sudeste da mesma ilha. “Não são pequenas rachaduras, são buracos realmente grandes”, afirmou a empresa pública.

Enquanto isso, o Centro Sismológico Nacional da Suécia detectou duas explosões no Mar Báltico, além de explosões mais próximas à Finlândia.

Os vazamentos estão bombeando gás natural para a superfície do mar, o que levou à imposição de uma zona de exclusão de cinco milhas náuticas (cerca de nove quilômetros) para embarcações ao redor de Bornholm. Aeronaves voando a menos de mil metros de altitude também foram proibidas na área.

Os Nord Stream 1 e 2 ligam a Rússia à Alemanha atravessando o Mar Báltico. Embora nenhum dos dois esteja em operação atualmente, os gasodutos são mantidos cheios devido à pressão.

Culpa da Rússia?

Os vazamentos não parecem ter sido causados por acidente. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse ter se tratado de “sabotagem”, enquanto a primeira-ministra da Dinamarca, Mette Frederiksen, falou em “atos deliberados”.

O primeiro-ministro da Polônia, Mateusz Morawiecki, disse que os vazamentos “provavelmente marcam o próximo passo da escalada da situação na Ucrânia”. O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, conversou com o ministro dinamarquês do Exterior, Jeppe Kofod, sobre a “aparente sabotagem” nos gasodutos.

Enquanto isso, a Finlândia mantém diálogos urgentes com quatro dos oito países da região do Mar Báltico, disse à DW o ministro finlandês do Exterior, Pekka Haavisto. “Sabotagem não pode ser descartada, mas isso precisa ser investigado como uma questão criminal”, afirma.

“O timing dos vazamentos, enquanto a Polônia inaugura seu gasoduto Baltic Pipe [para transportar gás da Noruega aos mercados dinamarquês e polonês], é um lembrete – se foi feito de propósito – de quão cuidadosos precisamos ser e quão vulneráveis somos”, completa Haavisto, às margens de uma conferência da Comissão Europeia na cidade finlandesa de Lappeenranta, a 30 quilômetros da fronteira russa.

Já o embaixador da Alemanha na Finlândia, Konrad Helmut Arz von Straussenburg, diz que não se deve tirar conclusões precipitadas. “[Os vazamentos] podem significar um colapso completo do gasoduto, ou uma suspensão parcial. Não sabemos ainda. Cálculos racionais e cabeça fria são necessários”, afirmou à DW.

Mas nem todos seguem essa premissa.

“Infelizmente, nosso parceiro oriental está constantemente seguindo um curso político agressivo”, disse o vice-ministro do Exterior da Polônia, Marcin Przydacz, em referência à Rússia. “Se é capaz de um curso militar agressivo na Ucrânia, então é evidente que atos de provocação na Europa Ocidental também não podem ser descartados.”

O que Moscou ganharia

Não só parte da comunidade internacional, mas também vários especialistas culpam a Rússia pelos vazamentos. Mas ninguém tem provas disso até agora – e pode ser que nunca tenham.

“É claro que há suspeita de sabotagem, pois todas as evidências apontam para isso”, diz Anna Mikulska, especialista em energia da Universidade Rice, nos Estados Unidos, em entrevista à DW. “E a maioria das análises aponta para sabotagem russa.”

Mas se foi Moscou quem provocou os vazamentos, quais seriam os benefícios para o país?

“Uma incapacidade de ativar os gasodutos reduz qualquer influência russa sobre a Europa, se esta, a algum momento, estiver em uma situação crítica no que diz respeito ao fornecimento de gás, especialmente neste inverno e especialmente se o inverno for rigoroso”, afirma Mikulska.

Criar um caos pode ser um fator motivador para Moscou, avalia Grzegorz Poznanski, diretor-geral da Secretaria Permanente do Conselho dos Estados do Mar Báltico (CBSS, na sigla em inglês). “É claro que isso pode ser outra maneira de a Rússia executar uma guerra híbrida”, afirma.

Mikulska concorda. “Esta pode ser uma medida para introduzir caos e incerteza no momento em que os mercados de gás europeus se acalmaram um pouco, depois que o armazenamento atingiu níveis mais altos do que o esperado antes do inverno.”

Os dois gasodutos são propriedade da empresa Nord Stream AG, controlada pela estatal russa Gazprom. A Rússia alega ser incapaz de reparar os gasodutos devido às sanções impostas pelo Ocidente em resposta à guerra, embora a Alemanha diga que as sanções em vigor não afetam as operações de reparo.

Segundo o Centro Alemão de Pesquisas em Geociências (GFZ), os Nord Stream 1 e 2 também sofreram quedas dramáticas de pressão que coincidiram com os vazamentos, o que pode indicar má conduta por parte de Moscou na ponta russa dos gasodutos.

“Rupturas de gasodutos são extremamente raras”, disseram autoridades dinamarquesas em comunicado.

Os Nord Stream 1 e 2 vão da Rússia até a Alemanha a uma profundidade de 70 a 90 metros. O tubo de aço tem uma parede de 4,1 centímetros de espessura e é revestido com concreto armado de até 11 centímetros de espessura.

“Certamente parece muito suspeito, e nada que a Rússia faça me surpreenderia”, afirma Joanna Przedrzymirska, vice-diretora do Instituto de Oceanologia da Academia Polonesa de Ciências, à DW.

Outros apontados por responsabilidade

Mas há quem aponte outros culpados pelos vazamentos. Arnold Dupuy, diretor da organização de ciência e tecnologia STO, da Otan, afirmou que os danos podem ter sido causados por um grupo anti-Kremlin da Ucrânia.

Já o eurodeputado polonês Radoslaw Sikorski sugeriu que os Estados Unidos podem ter deliberadamente causado os danos aos gasodutos. No Twitter, ele escreveu “Obrigado, EUA”, junto a uma imagem da superfície do Mar Báltico.

“Os casos são realmente incompreensíveis”, avalia a especialista em energia Mikulska. “Parece que ninguém realmente se beneficiaria deles, pois nenhum dos gasodutos está fornecendo gás para a Europa, enquanto o custo ambiental do incidente é realmente horrível.”

Enquanto isso, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, pediu uma investigação imediata, descrevendo os vazamentos como “muito preocupantes” e dizendo que “nenhuma opção pode ser descartada no momento”, incluindo sabotagem.

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