Novo diretor-geral da Polícia Federal, o delegado Rolando Alexandre de Souza já defendeu que políticos corruptos são mais perigosos que “traficantes da esquina” e que sua prioridade na instituição é combater a corrupção. Sua nomeação ocorre depois que Alexandre Ramagem teve indicação suspensa por decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Rolando Alexandre de Souza era considerado o braço direito de Ramagem na Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Ocupava o cargo de secretário de Planejamento e Gestão da instituição. Antes de chegar à Abin, em setembro de 2019, Souza era superintendente regional da PF em Alagoas.
Em entrevista em março de 2018, época de sua nomeação em Alagoas, Souza defendeu a parceria com outras instituições para driblar a falta de servidores na PF. “Questão de efetivo acho que é um problema nacional de todos os órgãos. Realmente nós temos uma carência de efetivo. Mas para tentar suplementar essa carência, a gente conta com as parcerias: Receita, CGU (Controladoria-Geral da União), TCU (Tribunal de Contas da União), as Polícias Civil e Militar. Então é a partir dessas parcerias que a gente pretende potencializar os efeitos das operações da Polícia Federal”, declarou em entrevista à TV Gazeta.
O combate à corrupção era sua prioridade “número um” ao assumir o cargo em Alagoas. “Nós temos vários outros crimes que são atribuições da Polícia Federal e nós devemos combater todos, mas o combate à corrupção é o número um deles”, defendeu Souza, na cerimônia de posse como superintendente.
O delegado também foi chefe do Serviço de Repressão a Desvios de Recursos Públicos (SRDP), situado na sede da PF em Brasília. Em uma palestra em 2017, afirmou que políticos corruptos são mais perigosos que “traficantes da esquina”. “A corrupção mata. Achar que o traficante da esquina é mais perigoso que o político corrupto é uma falácia. Político mata muito mais que bandido”, declarou no Encontro Nacional sobre Cooperação para Prevenção e Combate à Corrupção, realizado pela Rede de Controle da Gestão Pública de Mato Grosso.
Nomeação
Como mostrou o Estado no sábado, 2, a nomeação de Rolando é vista como uma alternativa do presidente para manter a influência de Ramagem, que é próximo à família Bolsonaro, na Polícia Federal. Segundo interlocutores do presidente, o diretor-geral da Abin participou diretamente das decisões sobre o futuro do comando da PF, uma atribuição do ministro da Justiça, André Luiz Mendonça.
Segundo o Estado apurou, o presidente está preocupado com o avanço do inquérito das “fake news”, que pode atingir seus filhos e até mesmo servidores que atuam no chamado “gabinete do ódio”. A investigação já identificou empresários bolsonaristas que estariam financiando ataques contra ministros do Supremo nas redes sociais, conforme revelou o Estado.
Há ainda outro inquérito aberto por determinação do ministro Alexandre de Moraes para apurar “fatos em tese delituosos” envolvendo a organização de atos antidemocráticos, após Bolsonaro participar de protesto em Brasília convocado nas redes sociais com mensagens contra o STF e o Congresso.
Outra apreensão do presidente é a investigação sobre o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) que trata de um esquema de “rachadinha” em seu antigo gabinete, na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro. O caso foi revelado pelo Estado.