O acidente envolvendo um avião, em Barcelos, no Amazonas, na tarde deste último sábado (16), vitimou segundo Aline Brito e Mariana Saraiva , do Correio Braziliense, o médico Roland Montenegro Costa. Aposentado do Hospital de Base de Brasília, Roland era cirurgião do aparelho digestivo, pioneiro dos transplantes em Brasília, atuava em consultório particular e operava em diversos hospitais da cidade.
Ao longo dos 45 anos de atuação médica, Roland se tornou referência na capital e inovou a medicina com técnicas para tratar pacientes com tumores no fígado e pâncreas. Em 2006, por exemplo, utilizou uma técnica incomum para extrair um tumor do fígado de uma mulher, de 52 anos, que havia sido desenganada por outros médicos.
As habilidades de Roland renderam à medicina uma nova técnica para cirurgia no pâncreas, que levou o sobrenome dele. A técnica de Montenegro para anastomose pancreato gástrica foi descrita em 2005 e apresentada no Congresso Europeu da Sociedade Internacional de Cirurgia Hepato-Pancreatobiliar, em Heidelberg, na Alemanha.
Nos casos de retirada de tumor no pâncreas, a reconstrução do órgão após o procedimento envolve diversas dificuldades. Cerca de 25% dos pacientes apresentam complicações, mas, com a técnica desenvolvida por Roland, essa estatística diminuiu drasticamente. “Pela técnica de Montenegro essa reconstrução do pâncreas passou a apresentar cerca de 5% de complicações”, disse Lúcio.
Pacientes se tornaram amigos
A jornalista Gláucia Guimarães, de 51 anos, conta que conheceu o médico há 10 anos, em um momento difícil da vida. “Eu descobri um nódulo na cauda do pâncreas. Na época, consultei vários médicos e todos indicaram Roland. Ouvi de muitos profissionais da saúde que se eles próprios tivessem qualquer problema no pâncreas, não teriam dúvidas, procurariam o Dr. Roland”, relatou.
Gláucia operou com Roland e depois a relação entre médico e paciente virou uma grande amizade. “Trocávamos mensagens por aplicativo de mensagem, conversávamos de política, mas principalmente do que a gente gostava muito de fazer. Ele amava pescar e eu amo praia”, detalhou.
A amiga de longa data lamentou a partida precoce de Roland. “Era um cara muito importante na minha vida, sempre vou me lembrar do carinho dele comigo, do cuidado com o paciente, do telefone dele à disposição, dos elogios que ele me fazia quando eu estava trabalhando na TV”, relembrou.
Lúcio também chorou a morte do parceiro de trabalho, com o qual trabalhou por 24 anos. “Pra mim, ele foi um dos cirurgiões mais importantes que já passou por Brasília, ele tinha uma capacidade única e inovadora”, contou.
Lúcio revelou que Roland foi um dos primeiros cirurgiões do Brasil a ir buscar especialização em transplantes fora do país. O cirurgião se aperfeiçoou na profissão em temporadas na Alemanha e nos Estados Unidos. Em 1987, ele foi estagiário em Cirurgia Geral no Hospital Klinikum Steglitz, da Universidade Livre de Berlim, na Alemanha e, anos mais tarde, entre 1991 e 1993, fez fellow em transplante de órgãos abdominais pela Universidade de Pittsburgh, na Pensilvânia, nos Estados Unidos.
“Ele era uma pessoa muito especial e vou lembrar dele como uma pessoa de extrema habilidade, sempre foi uma pessoa com muito conhecimento, sempre ajudou os profissionais mais novos”, contou Lúcio, com a voz embargada.
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