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terça-feira 16 de abril de 2024 às 09:15h

Quando ser político na Alemanha representa risco de vida

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Não é fácil ser prefeito e ter que enfrentar a ultradireita na Alemanha: consulta indica que mais de 40% já sofreram ofensas, ameaças ou até agressões. Mas o país está se armando para defender a democracia. A Alemanha conta quase 11 mil prefeitos, a maioria dos quais trabalhando em regime não remunerado. E o fato de serem o rosto da política in loco não impede que sofram constantemente agressões graves. Ao ponto de, em 11 de abril, o presidente Frank-Walter Steinmeier convocar mais de 80 líderes municipais honorários para escutar seus problemas e ansiedades.

O chefe de Estado alemão advertiu: “Quando prefeitos e conselheiros municipais não podem mais abordar certos temas sensíveis, quando fecham as próprias contas nas redes sociais ou até renunciam ao cargo ou mandato a fim de proteger sua família de hostilidades, quando indivíduos que gostariam de se candidatar desistem para não ser alvo de ódio, aí quem é democrata não pode simplesmente dar de ombros e aceitar.”

Coorganizadora do encontro, a Fundação Köbler encomendou uma consulta representativa ao instituto de pesquisa de opinião Forsa. Ela revelou que 40% dos políticos locais ou pessoas próximas deles já foram ofendidos, ameaçados ou mesmo agredidos fisicamente devido a sua função. Por essas experiências, mais de um quarto dos prefeitos honorários indagados já considerou retirar-se da política, temendo pela própria segurança. Além disso, quase dois terços registram descontentamento e insatisfação crescentes entre os cidadãos de suas comunidades.

Para 35%, nos próximos anos o extremismo de direita será um grande desafio em sua cidade. Quase um quinto relata sobre o avanço de tendências antidemocráticas – no Leste essa proporção chega a um quarto. Esse resultado preocupa sobretudo em face das três eleições estaduais no território da antiga Alemanha comunista, em setembro.

Das ofensas ao assassinato

Em fevereiro, o social-democrata Michael Müller vivenciou de perto esse risco, em sua cidade natal, Waltershausen, no estado da Turíngia, quando alguém incendiou seu carro, e o fogo se espalhou para a fachada da casa. O político comunal havia fornecido abrigo a uma família com duas crianças, que felizmente pôde se salvar. Segundo a perícia, tratou-se uma tentativa de assassinato intencional, que agora está sob investigação policial.

Müller não acredita que foi acaso ele ter convocado, dias antes, uma manifestação contra o extremismo de direita. Tais agressões o preocupam seriamente, pois “muitos se perguntam se ‘vale a pena sacrificar o meu tempo livre por essa sociedade que, em contrapartida, me ameaça?’” Ele teme que em algum momento “vai haver cada vez menos gente que sacrifica seu lazer e trabalha como conselheiro municipal, comunal, prefeito honorário”: “Aí eles vão preferir fazer algo divertido com a família.”

Uma pesquisa representativa realizada no âmbito da iniciativa Rede de Competência contra o Ódio na Rede confirma uma tendência semelhante nos debates dentro do espaço digital: quanto mais eles se brutalizam, mais internautas se retiram da discussão online.

A prefeita de Colônia, Henriette Reker, escapou por pouco da morte em 2015: um dia antes da eleição, um radical de direita fanático a esfaqueou na garganta. Andreas Hollstein, prefeito da cidadezinha de Altena, na Renânia do Norte-Vestfália, foi também apunhalado na garganta dois anos mais tarde, por um inimigo dos refugiados.

O assassinato do governador de Kassel Walter Lübcke, por um neonazista, abalou grande parte do país em 2019. Pouco a pouco chega ao grande público o que sofrem alguns políticos locais no exercício de seu cargo: forcas postadas em frente de casa, cadáveres de animais na caixa de correio, cartas de ódio em que se afirma saber onde os filhos estudam.

O motor da democracia não pode engasgar

Para aguentar, só estando tão convicta do próprio trabalho político quanto a prefeita da cidade de Zossen, em Brandemburgo, Wiebke Şahin-Schwarzweller. Já durante sua campanha eleitoral, em 2019, ela sofria ameaças: “Também o meu marido, que é de descendência turca, foi alvo de calúnias voltadas contra mim.”

Porém a deputada liberal se defende, e tornou-se um dos políticos que desde 2018 o presidente Steinmeier consulta sobre o assunto. Pois, ao contrário das figuras de ponta, os representantes comunais não são devidamente protegidos por limusines blindadas, guarda-costas nem leis.

Por isso lutam para estar pelo menos bem conectados em rede e informados, a fim de poder se defender. Um dos endereços é o portal Stark im Amt (Fortes no cargo), que oferece suporte a políticos locais. Promotores, policiais e autoridades estão sensibilizados sobre o assunto.

Em março de 2022, o governo federal alemão apresentou dez medidas de um plano de ação contra o extremismo de direita, entre as quais consta a proteção de mandatários. Para tal, em meados de 2024 será criada uma nova central federal para os políticos comunais sob ameaça.

O responsável pela implementação é Marcus Kober, do Fórum Alemão para Prevenção Criminal (DFK), que explica: “Um primeiro passo muito importante é combater a sensação de estar sozinho para lidar com a situação.” O segundo é esclarecer se se trata de um delito, qual órgão é responsável, e identificar as ofertas num sistema de assistência que hoje é bastante desenvolvido.

Kober está convicto de que os representantes comunais precisam urgentemente de proteção, pois são quem responde por todas as decisões nos níveis estadual ou federal. Para ele, trata-se do motor essencial do sistema democrático: quando ele engasga, a democracia está em perigo.

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