segunda-feira 29 de abril de 2024
Ao lado do presidente americano, Joe Biden, no salão oval da Casa Branca, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que os ataques antidemocráticos vivenciados nos Estados Unidos em janeiro de 2021 e no Brasil em 8 de janeiro deste ano não podem se repetir -  Foto: Andrew Harrer/EFE
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domingo 12 de fevereiro de 2023 às 07:05h

Qual o saldo do encontro de Lula com Biden?

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou na última sexta-feira (10) em Washington, de seu primeiro encontro com o presidente americano Joe Biden após a vitória nas eleições de 2022. Os dois líderes apresentaram um discurso alinhado em defesa da democracia e de uma governança global para a questão climática.

O encontro resultou em um comunicado emitido pelo Itamaraty, em que os dois países pedem uma “paz justa e duradoura” em relação à invasão russa à Ucrânia e citam a urgência da crise climática e do combate ao extremismo e à violência política após os atos antidemocráticos ocorridos no Brasil, em 08 de janeiro, e no Capitólio, nos EUA, há cerca de dois anos. Os americanos ainda sinalizaram um “apoio inicial” ao Fundo Amazônia.

Confira as análises:

William Waack, do Estadão: ‘O que Lula disse sobre geopolítica em Washington não tem chances de ser levado a sério’

No momento em que Lula propunha a Biden em Washington um “grupo” de países para falar de paz”, o comandante de um batalhão de defesa territorial ucraniano podia reportar que Bakhmut “continua com a bandeira da Ucrânia”. Essa pequena cidade é o foco da principal ofensiva russa no momento, e o objetivo é tomar a partir dali todo o território do Donbass.

A tática russa, disse o comandante ucraniano, continua a mesma. Um grande número de soldados mal treinados e mal equipados é enviado com precária cobertura de artilharia e aviação, e cerca de 100 são mortos por dia. Mas massa tem importância em operações militares, e os russos estão concentrando uma enorme massa de soldados para uma grande ofensiva que, na prática, já começou.

Vladimir Putin não recuou um só milímetro do maximalismo de suas posições em relação a Ucrânia, que ele pretende fazer deixar de existir ou controlar totalmente. Não importa o preço em sangue e material. A Rússia cometeu uma agressão brutal que Lula tratou em Washington por “equivoco”.

Biden está liderando uma coalizão de países europeus e asiáticos cuja coesão e determinação em ajudar a Ucrânia a sobreviver e ganhar a guerra surpreenderam principalmente russos e chineses. Países que eram neutros, como a Suécia, querem agora entrar na Otan. A Alemanha abandona décadas de pacifismo para enviar tanques pesados a Ucrânia, entre outros armamentos. O Reino Unido começa a treinar pilotos de combate ucranianos em jatos modernos.

As platitudes de Lula sobre “é preciso parar de atirar” está em forte contraste com a noção, compartilhada pelos chefes de governo e Estado ocidentais, de que a guerra na Ucrânia é uma luta por valores fundamentais contra a brutalidade de autocratas, como Putin, que preza apenas o emprego da violência. Mas essa é ordem internacional que começou, deixando para trás o mundo das observância das regras.

Nesse novo mundo, o que Lula disse sobre geopolítica em Washington não tem chances de ser levado a sério.

Eliane Cantanhêde: Lula usa encontro com Biden para ir além das questões bilaterais

O presidente Lula usou seu primeiro encontro com Joe Biden para ir muito além das questões bilaterais de interesse do Brasil e dos EUA. Lula usou essa viagem como trampolim para se recolocar e recolocar o Brasil em uma espécie de liderança internacional. A política externa do presidente sempre foi muito audaciosa para o que pretende para o Brasil e para ele próprio.

Quando foi à Argentina, em sua primeira viagem internacional, já se colocou como líder regional. Líder do Cone Sul, do Mercosul, da América do Sul, e, como o céu é o limite, da América Latina.

É a mesma coisa que acontece agora. Todos os temas importantes de Lula com Biden, e a entrevista após o encontro, foram temas de grande relevância internacional. Não diretamente Brasil-Estados Unidos, mas muito além das fronteiras bilaterais.

Lula coloca a ideia de um grupo não diretamente envolvido com a guerra da Ucrânia para tentar um cessar fogo e a construção da paz ente Ucrânia e Rússia. Também coloca a relação do Brasil na África, onde o País perdeu relevância para a China. Lula quer recuperar isso.

Ele também coloca o Fundo da Amazônia, não apenas para o Brasil, mas para os países ricos que têm forte biodiversidade. Por fim, se apresenta ao lado do Biden como uma espécie de líder da democracia internacional.

Rubens Barbosa: Brasil e Estados Unidos falam uma mesma língua em muitas áreas

O encontro Lula-Biden marca a volta das relações institucionais entre os governos do Brasil e dos Estados Unidos, depois do que se viu no relacionamento pessoal entre Bolsonaro e Trump. Cercada de forte simbolismo, a reunião procurou acentuar as convergências na defesa da democracia e dos direitos humanos, e contra a extrema direita, depois das experiências traumáticas com a invasão do Congresso norte-americano e da Praça dos Três Poderes, exemplos da divisão política existente nos dois países.

Além desses temas políticos, foi ressaltada a coincidência de percepções nas questões de meio ambiente e mudança de clima. Lula insistiu na governança global e na cooperação internacional para ajudar o governo brasileiro no combate aos ilícitos na Amazônia. Não foi surpresa a intenção de Biden de passar a contribuir para o fundo amazônico.

Na conversa também foram mencionados temas em que não há convergência, como Cuba e Venezuela, a Organização Mundial de Comércio (OMC) e a guerra da Ucrânia. Nesse particular, não avançou a proposta do presidente Lula de criação de um grupo para conversar com os presidentes da Rússia e da Ucrânia visando a alcançar a paz na guerra, que já passa de um ano.

Em resumo, a visita foi importante politicamente, mostrando que há muitas áreas em que os dois países falam a mesma língua e que os pontos em que não há coincidência não deverão influir no desenvolvimento normal das relações entre o Brasil e os EUA.

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