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Fernando Haddad, ministro da Fazenda Douglas Magno/AFP
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sexta-feira 13 de janeiro de 2023 às 09:05h

Qual a régua para os juros

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Gente de peso anda reivindicando publicamente que o juro deve ceder. Afinal, lugar nenhum do planeta anda remunerando como aqui. “Só o Brasil garante ao rentista taxa real perto de 8% ao ano sem risco e com liquidez imediata”, escreveu no apagar de 2022 o economista André Lara Resende, que fez parte do time de transição do novo governo. Meia dúzia de dias depois, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reforçou o coro. “Você tem aqui uma inflação menor que EUA e Europa, só que a taxa de juros real é a maior do planeta”, afirmou. “Olha o paradoxo. É uma situação completamente anômala.”

Falar de uma taxa de juro que remunera ferozmente detentores de títulos públicos num país pobre e desigual torna o argumento por sua derrubada difícil de desconstruir. Como escreveu Lara Resende, quase a totalidade dos papéis está nas mãos de instituições financeiras, fundos de todo tipo e 9% na mão de estrangeiros. Com retorno na casa dos 8%, qualquer empresário pensaria duas vezes entre colocar dinheiro para rendimento garantido ou investir numa economia incerta. O ministro Haddad diz que “é uma taxa de juros real fora de propósito para uma economia que já vem desacelerando”.

Tudo certo, se fosse apenas isto: pagar rentista. O que André Lara Resende e Fernando Haddad não falam, segundo outros economistas especializados no assunto, é a partir da segunda página do tema. “Demonizar o rentista é bobagem. Ele é um cara que emprestou dinheiro ao governo porque o governo precisou. Fez besteira e precisou”, disse João Mascolo, dono da Macro Consultoria. A conta, afirma ele, é simples. Juro real sobe porque existe a percepção de risco em relação ao tomador do crédito (o governo). Motivo: a situação fiscal.

VanDyck Silveira, economista, fundador da EducPay e colunista da revista IstoÉ Dinheiro concorda. “É pura demagogia do Haddad”, afirmou. “Problema de juro no Brasil tem dois fatores internos sérios. A inflação, que estourou novamente em 2022 e estouraria mais não fosse a segurada no preço dos combustíveis, e o risco fiscal gigantesco.” No ambiente externo, ele diz que os Estados Unidos manterão o juro elevado porque apesar de a inflação ter caído ela ainda está longe da meta de 2%. Taxa alta com inflação menor igual a juro real maior. “O que torna o FedFund muito mais atraente que o título pago com juro real brasileiro, devido ao risco político e econômico daqui.” Por esse motivo, segundo os dois economistas, comparar a taxa de juro real americana ou europeia com a brasileira é descabido. Mascolo é definitivo: “Se você for presentear alguém com uma caixa de dólares ou de reais o que a pessoa vai preferir?”.

METAS Os dois economistas jogam luz também no papel da Selic sobre o índice de preços. E nesse campo, o Brasil não é bom aluno. Metas de inflação foram utilizadas pela primeira vez em 1990, na Nova Zelândia. Na sequência, o mundo todo percebeu que se tratava de ferramenta importante para a condução da política macroeconômica e ela se espalhou — Austrália, Canadá, Chile, Coreia do Sul, Espanha, Israel, México, Reino Unido, Suécia… Todos estabeleceram as suas. O Brasil passou a usá-la em 1999. O problema é que nestes 24 anos a gente só atingiu a meta duas vezes (2000 e 2007). Na maioria absoluta (18 em 24) a gente falhou: em 12 anos ficamos acima da meta, e em seis estouramos até mesmo o teto (2021 e 2022 inclusos). Pior. De acordo com todas as projeções do mercado, em 2023 a gente novamente não conseguirá domar os preços.

Aqui a atuação do Banco Central, comandado por Roberto Campos Neto, tem sido deliberadamente boicotada com a criação de receitas sem qualquer lastro de origem de recursos ou discussão relacionada a controle de gastos e endividamento. Para VanDyck Silveira, a independência do BC é decisiva nesse cenário de pressão. “E não existe a menor chance de mudar taxa de juro para baixo”, disse. “Por isso é preciso acabar com essa demagogia de querer fazer no grito, como no governo Dilma.” João Mascolo vai na mesma linha. “Tentar baixar na canetada, no limite do absurdo, fará a taxa longa saltar lá na ponta”, afirmou. “Quer baixar juro real? Faça ajuste fiscal.” Ou isso ou voltamos à Constituição de 1988, que nasceu tabelando juro — ideia que de tão absurda foi anos depois exterminada do texto.

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