Com as maiores bancadas no Congresso, PT e PL traçam estratégias para tentar se tornar também potências locais e reduzir o domínio de siglas de centro nas grandes cidades do país. PSD, MDB, PSDB e PP comandam atualmente duas de cada três localidades com mais de 200 mil eleitores — grupo que, pela primeira vez na história de acordo com Alice Cravo e Jeniffer Gularte, do O Globo, passará de cem municípios. Conquistar o comando dessas prefeituras neste ano é considerado crucial pelos partidos pelo reflexo no potencial eleitoral e nas alianças para 2026.
Em reunião nesta segunda-feira, por exemplo, o PT bateu o martelo em mais cinco cidades que pretende lançar nomes próprios, chegando a 48 o número de pré-candidatos no chamado “G100” das eleições deste ano. O PSD, que hoje ultrapassou o MDB como partido com mais prefeituras no país, por exemplo, até agora prevê que encabeçará a chapa em 22 cidades desse grupo, com prioridade para a reeleição de seus prefeitos.
Três dos municípios definidos ontem pelo PT ficam no interior de São Paulo — Limeira, Piracicaba e Taubaté —, região onde o partido costuma ter maus resultados eleitorais e que será um dos focos da legenda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas disputas deste ano. Além disso, haverá prioridade a municípios do estado que já foram governadores pela sigla, como Osasco, onde a ideia é lançar o ex-prefeito Emídio de Souza.
Pelas regras eleitorais, apenas cidades com mais de 200 mil habitantes podem ter segundo turno caso nenhum dos candidatos atinja mais da metade dos votos. O cenário faz com que as siglas deem um tratamento especial para esses municípios, onde a exposição de seus nomes é maior.
De olho em 2026
O senador Humberto Costa (PE), que comanda a estratégia do PT nesta eleição, afirma que o partido pretende associar as ações do governo federal às campanhas nas cidades maiores. Além disso, o plano é usar as candidaturas a prefeito para alavancar a eleição de vereadores.
— Acredito que a eleição terá uma mescla temática nacional e os temas específicos das cidades. Existem outros objetivos: queremos fazer bancadas de vereadores mais fortes. Isso interfere na quantidade de parlamentares federais que vamos eleger em 2026 — diz Costa.
O partido, porém, abriu mão de lançar candidaturas em algumas capitais, como São Paulo, São Luís e Recife, em favor de alianças com partidos que compõem a base do governo. Na capital paulista, por exemplo, a Executiva Nacional do PT confirmou na semana passada que apoiará Guilherme Boulos (PSOL). A sigla de Lula caminha para fazer o mesmo no Rio, com apoio à reeleição de Eduardo Paes (PSD).
Um dos partidos aliados ao governo federal que tenta se beneficiar da estratégia petista é o PSB, que focará em conquistar capitais e, para isso, conta com o apoio dos petistas. Além de São Luís e Recife, a legenda também terá nomes em Palmas, Vitória e Curitiba. Em São Paulo, onde lançou a deputada federal Tabata Amaral, já sabe que não contará com o PT na chapa.
— O que dá o tom político da vitória e da derrota é de quem ganhou politicamente as capitais. Há algo que a própria classe política e a esquerda não quer ver: há um voto de opinião hoje mais concentrado em valores do que em desempenho administrativo — avalia o presidente do PSB, Carlos Siqueira.
Também aliado do PT na esfera nacional, o MDB pretende lançar nomes em pelo menos 25 das 100 maiores cidades do país. A legenda que lidera o ranking de mais prefeitos eleitos nos últimos 30 anos decidiu focar nas capitais — em especial em São Paulo, com Ricardo Nunes, e Porto Alegre, com Sebastião Melo. Nas duas, terá como adversários nomes defendidos pela gestão Lula.
Do outro lado, o PL, do ex-presidente Jair Bolsonaro, pretende concentrar quase metade dos seus candidatos nas grandes cidades do Sudeste, onde estão os três maiores colégios eleitorais do país — São Paulo, Rio e Belo Horizonte.
A avaliação na cúpula da sigla, que tem como meta eleger 1.500 prefeitos em outubro, é que o bom desempenho de Bolsonaro no estado de São Paulo vai ajudar a sigla a avançar no número de cidades governadas. O ex-presidente venceu em 547 das 645 cidades paulistas em 2022.
Nomes ligados ao bolsonarismo, como o deputado Filipe Barros, pré-candidato em Londrina (PR), e o deputado estadual Bruno Engler, em Belo Horizonte, também fazem parte da estratégia da legenda. Ao mesmo tempo, o partido avançou ao filiar prefeitos eleitos por outros partidos, como Luiz Fernando Machado, de Jundiaí (SP), e agora trabalhará para reelegê-los.
Por outro lado, alianças em algumas cidades, como na capital paulista, têm dividido o PL, que ainda negocia a indicação de um nome para vice de Nunes. A indefinição atrasa os planos da sigla para lançar pré-candidatos em alguns municípios. Dos 30 com mais de 200 mil eleitores no estado de São Paulo, por exemplo, o PL deve disputar com nome próprio em apenas dez.
Partidos que formavam a base de apoio do governo Bolsonaro, PP e Republicanos decidiram não esperar e passaram a traçar estratégias próprias.
O Republicanos, por exemplo, deve disputar contra o PL a prefeitura de Santos, no litoral paulista. O atual prefeito, Rogério Santos (Republicanos), terá a deputada federal Rosana Valle (PL) como adversária para se reeleger.
— O partido se fortaleceu muito nos últimos anos e tem capacidade de apostar alto em outubro. Temos metas ambiciosas no país inteiro. Em São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo, vemos potencial para eleger e reeleger candidatos em cidades estratégicas — afirma o presidente do Republicanos, Marcos Pereira.
A mesma estratégia é adotada pelo PP, que priorizará a reeleição de prefeitos como João Saud, em Taubaté (SP), e Antonio Francisco Neto, em Volta Redonda (RJ).
Também no campo da direita, o Novo terá o mesmo número de candidaturas do PT, 48, numa estratégia para ampliar a visibilidade da sigla.
Lógica própria
O cientista político Murilo Medeiros, da Universidade de Brasília (UnB), avalia que, apesar da polarização nacional entre PT e PL, as eleições municipais costumam ter uma lógica própria, que gira em torno de questões locais.
Por isso, segundo ele, muitas vezes é mais vantajoso às siglas que dominam o debate nacional abrir mão de ter candidato para apostar em um nome com mais chance de vitória em alguma cidade específica.
— As direções do PT e do PL perceberam que sozinhos não conseguem caminhar e verbalizar suas pautas. Em muitos casos, abriram mão de candidaturas em municípios estratégicos para compor, prevendo aliança para 2026 e para impulsionar os candidatos de agora que estão com mais potencial de vitória — afirmou o cientista político.
Um estudo de Medeiros avaliou que em mais da metade das grandes cidades o potencial eleitoral de pré-candidatos de centro é maior do que do PT ou do PL.