De olho em abreviar o prazo para definição de candidaturas às eleições municipais e, assim, evitar que disputas internas se arrastassem até meados de 2024, o PT acabou abrindo, desde já conforme registra Bernardo Mello, do jornal O Globo, divergências entre lideranças petistas e com partidos aliados. A estratégia de escolha acelerada dos nomes que concorrerão às prefeituras virou foco de insatisfação em capitais como Belo Horizonte, Fortaleza, Porto Alegre e Salvador.
Pela legislação eleitoral, os partidos só precisam definir candidatos nas convenções, em geral, cerca de três meses antes da eleição. No caso do PT, uma resolução publicada pelo diretório nacional em setembro determinou que as instâncias municipais busquem consensos até este mês. Onde não houver unanimidade ou apoio de no mínimo dois terços do diretório local a um nome, o partido orientou ou que se faça prévias ou se resolva com algum tipo de votação interna. O prazo-limite para a votação final, nesse caso, é 15 de abril do ano que vem.
Dirigentes petistas argumentam que a antecipação do calendário é necessária porque o PT precisará entrar em acordo, depois, com PCdoB e PV, partidos com os quais forma uma federação. Por outro lado, a presidente da sigla, Gleisi Hoffmann, já declarou em encontros com correligionários que gostaria de evitar debates partidários acalorados e prolongados neste início de governo Lula, para impedir que o partido transmita uma imagem de divisão e fragilidade. Com esse argumento, a legenda adiou para 2025 as eleições de seus diretórios nacional e estaduais, que seriam realizadas até o fim deste ano.
Em Porto Alegre, sete dos 11 deputados estaduais do PT divulgaram um manifesto no último dia 28 pedindo a realização de prévias entre a deputada federal Maria do Rosário e a deputada estadual Sofia Cavedon, além de incluir nos debates partidos federados, como o PCdoB, e aliados, como PSOL e Rede. Em reação, Maria do Rosário, considerada o nome com mais força interna, disse que só aceita concorrer se for por consenso, sem votação partidária.
Frente de esquerda
A divergência virou obstáculo para a tentativa de montar uma frente de esquerda contra o atual prefeito Sebastião Melo (MDB), que tem o apoio do PL, do ex-presidente Jair Bolsonaro. Lideranças gaúchas de PT, PCdoB e PSOL vinham trabalhando com o horizonte de definir, pela primeira vez, um nome em conjunto.
— Diferentemente de 2020, quando chegamos ao segundo turno com a Manuela (D’Ávila, do PCdoB) e perdemos por uma margem estreita, a unidade (de esquerda) agora é ponto de partida, já que a eleição caminha para ser uma disputa plebiscitária — afirmou o deputado estadual Miguel Rossetto (PT-RS), um dos signatários do pedido de prévias.
Em Fortaleza, onde há vários pré-candidatos petistas, o governador Elmano de Freitas (PT) pediu que o partido adie a definição para 2024. Ele é historicamente aliado da ex-prefeita Luizianne Lins, que deseja concorrer, mas chegou ao governo com apoio do ministro da Educação, Camilo Santana, que trabalha por outra candidatura.
Luizianne tradicionalmente tem maioria no diretório municipal. Camilo, por outro lado, já manifestou interesse em filiar ao PT o presidente da Assembleia Legislativa, Evandro Leitão, que conseguiu liberação para deixar o PDT.
Segundo o presidente do diretório petista em Fortaleza, Guilherme Sampaio, que também é pré-candidato, o partido vem realizando encontros numa tentativa de chegar ao consenso até o fim deste mês:
— A recomendação do diretório nacional é que se evite as prévias, por ser algo politicamente custoso e difícil.
Em Belo Horizonte, foi apresentada a pré-candidatura à prefeitura do deputado federal Rogério Correia. A escolha foi chancelada em encontro com Gleisi e com representantes do diretório estadual, mas não caiu bem entre todos os caciques petistas.
Ausente no encontro, o deputado federal Reginaldo Lopes (PT-MG), ligado à cúpula do diretório estadual, vem fazendo acenos ao atual prefeito Fuad Noman (PSD), a quem chama de “aliado de Lula”. Lopes e Correia têm um histórico de embates internos.
Em Salvador e Cuiabá, a resolução do diretório nacional petista foi um convite para a apresentação de pré-candidaturas próprias, o que gerou ruídos. O ex-ministro Geddel Vieira Lima (MDB), que defende a candidatura do vice-governador Geraldo Jr. (MDB) à prefeitura de Salvador, reclamou do apoio do senador Jaques Wagner (PT) ao deputado Robinson Almeida, também petista.
Já o prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro (MDB), que apoia a candidatura de seu vice, José Roberto Stopa (PV), pela federação petista, foi alvo de críticas de dirigentes do PT no Mato Grosso. Em encontro municipal no mês passado, o partido garantiu que terá candidatura própria, embora ainda sem nome definido, e aproveitou para cutucar Pinheiro, dizendo fazer oposição à sua gestão. O prefeito, no entanto, abriu palanque para Lula em 2022, esperando reciprocidade na sucessão municipal.