Partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e responsável pelo maior número de ministérios do atual governo, o PT está disposto a ceder cadeiras que controla na Esplanada para abrigar os indicados do PP e Republicanos, em nome da governabilidade. Até agora, contudo, as duas siglas do Centrão não chegaram a um consenso com o Palácio do Planalto sobre quais pastas vão comandar. Elas pleiteiam postos com visibilidade e orçamento robusto, mas que não coincidem com os espaços que o Executivo está desenhando no momento.
O ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e parlamentares aliados vêm estudando possíveis configurações para acomodar as duas forças do Centrão. Os cenários de mudança que estão em discussão serão levados nos próximos dias a Lula. A ideia é ter um modelo de alterações em cascata, em que um ministro pode ser deslocado de uma pasta para outra, para dar lugar a dois nomes dos neoaliados. Nesse cenário, alguém perderá espaço.
A presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), afirmou em entrevista à colunista Bela Megale, do O Globo, que a legenda aceitaria abrir mão de parte dos dez ministérios que comanda para melhorar a relação com o Congresso. Ela admite que, passados setes meses, o governo ainda não construiu uma base sólida.
— Teve gente que disse que o PT ficou com muitas pastas. Não é verdade. Não gostaríamos de perder espaço no governo, porém, se isso for necessário para a governabilidade, o PT não faltará ao presidente — adiantou.
Fora dos holofotes até o momento, o Ministério da Gestão, comandado por Esther Dweck, ligada ao PT, pode acabar incluído na reforma de Lula, que visa dar mais tranquilidade ao governo em votações no Congresso a partir do segundo semestre. A eventual saída de Esther do primeiro escalão não enfrentaria grande resistência entre os petistas. A ministra, apesar de afinada com o partido, é considerada um quadro técnico.
Tropa de Lira
A pasta, entretanto, não desperta interesse do PP. Nos bastidores, ao tentarem justificar sua cobiça por pastas de maior capilaridade, caciques do partido afirmam que a bancada de 49 deputados vem entregando votos para o governo em projetos importantes desde a transição. Até aqui, a grande maioria desses congressistas, porém, demonstra fidelidade às orientações do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), não ao Planalto.
Em um dos desenhos feitos por auxiliares e levado para ser analisado por Lula, o Ministério da Gestão seria entregue ao deputado André Fufuca (MA), indicado pelo PP para compor o primeiro escalão. Caso o presidente Lula ofereça o cargo e consiga desarmar as resistências, Esther pode tanto ser deslocada para uma outra pasta como passar a ocupar a direção de uma estatal.
Na avaliação do Planalto, a pasta seria atrativa por ter sob seu guarda-chuva a Dataprev, empresa que processa dados previdenciários, e a Secretaria de Patrimônio da União (SPU), responsável por administrar imóveis do governo, além de outras seis secretarias. Pelo arranjo imaginado pelo Centrão, Silvio Costa Filho (Republicanos-PE) poderia ficaria com a pasta hoje ocupada por Ana Moser (Esporte). Uma alternativa seria o Ministério da Ciência e Tecnologia. Nesse caso, a atual titular Luciana Santos, que é do PCdoB, pode ser transferida para o Ministério das Mulheres, sacrificando a ministra petista Cida Gonçalves.
Ao apresentar o pedido de participação no governo no início do mês, o PP reivindicou o Desenvolvimento Social, do petista Wellington Dias, responsável pelo Bolsa Família. A ideia era que Fufuca pudesse ocupar a vaga, mas Lula foi enfático na recusa da negociação.
Entre os colegas de partido de Arthur Lira (PP-AL), caso a indicação para o comando da pasta não vá adiante, Integração Nacional e Minas e Energia poderiam entrar na roda de discussão. As pastas, porém, são ocupadas por indicações, respectivamente, de União Brasil e PSD. O Planalto evita fazer uma alteração como essa, já que pode desagradar partidos ainda em fase de conquista e, assim, tumultuar a relação do com o Legislativo.
— Eu entendo que o Partido Progressista é estratégico, até pela qualidade dos seus quadros, tem a presidência da Câmara. O governo deveria ter feito esse acordo já na transição, para ter governabilidade— afirma o vice-líder do bloco do Centrão da Câmara, Fausto Pinato (PP-SP).
Para o PP, é importante ter uma vitrine que possa render dividendos eleitorais. Do contrário, não valeria a pena contrariar o presidente da legenda, senador Ciro Nogueira (PI), para entrar no primeiro escalão. Ele é ex-ministro de Jair Bolsonaro e oposição declarada a Lula. A negociação do PP com o governo está sendo conduzida pela bancada de deputados, com a coordenação de Lira.
No PT, há compreensão de que a discussão para a reforma deve ser ampla. A legenda, contudo, não quer ser a única prejudicada.
— Não tem sentido ajudar na governabilidade no plenário e não estarem presentes na Esplanada. E, para isso, será necessário mexer no tabuleiro da Esplanada. PP e Republicanos têm sido colaborativos desde a PEC da Transição, ajudaram muito na Reforma Tributária, é uma questão de razoabilidade ajudarem no governo _ afirma o deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), que era líder do PT na Câmara durante a votação da PEC da Transição e coordenador do Grupo de Trabalho sobre a Reforma Tributária.
Um pé em cada canoa
A direção do Republicanos já dá como certo o nome do deputado Silvio Costa Filho como aquele que irá preencher a cota do partido. Integrantes da cúpula da sigla, que não querem se indispor com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, afirmam que ele é o “único que tem ligação com Lula”. Apesar de o partido ter votado majoritariamente na Câmara a favor de pautas importantes para o governo, como a Reforma Tributária, o arcabouço fiscal e a MP que reestruturou os Ministérios, o presidente do Republicanos, deputado Marcos Pereira (SP), afirma que o partido é independente e que continuará assim mesmo que um dos seus assuma uma pasta na Esplanada.
O partido mirava o Ministério do Esporte. Como mostrou O O Globo, em conversas internas Lula garantiu a Ana Moser a sua permanência na pasta.
Na semana passada, Lula também afirmou que o Ministério do Desenvolvimento Social não entraria nas negociações. Mas uma ala do Planalto ainda vê possibilidade de o presidente abrir mão da pasta do Bolsa Família, cobiçada tanto por PP quanto por integrantes do Republicanos. Esses aliados defendem que, mesmo se a pasta sair do domínio do PT, o presidente não perderá a marca do programa, uma vez que nem Bolsonaro conseguiu atrair para si a autoria do Auxílio Brasil.