Uma onda de protestos no Peru deve chegar à capital, Lima, nesta quinta-feira (19/01).
Até agora, a cidade de Lima não teve incidentes tão intensos e violentos como os que ocorreram em outras partes do país, onde já há 52 mortos e mais de mil feridos.
Mas isso pode mudar nesta quinta-feira com o apelo à “tomada de Lima”, lançado por diversas organizações e grupos que exigem a renúncia da presidente Dina Boluarte e a convocação imediata de eleições para renovar o Executivo e o Congresso.
Manifestantes de diferentes partes do país já estão se reunindo em diferentes partes de Lima, principalmente na praça San Martín, na praça Dos de Mayo e no campus da Universidad Nacional Mayor de San Marcos, onde recebem abrigo, alimentação e outras assistências.
O clima na cidade é tenso e já na véspera houve confrontos entre a polícia e manifestantes no centro.
Aulas de muitas universidades foram suspensas e o governo recomendou às empresas que facilitem o trabalho remoto ao longo do dia.
Além disso, o Ministério da Saúde colocou todos os postos de saúde do país em alerta vermelho, antecipando que os protestos na capital possam ser replicados em outras localidades.
O que causou os protestos até aqui?
A crise começou com a cassação e a prisão de Pedro Castillo em 7 de dezembro.
O então presidente foi preso e posteriormente destituído pelo Congresso após anunciar na televisão sua dissolução e a instauração de um governo de emergência no Peru.
Em conformidade com a Constituição, assumiu então sua vice-presidente, Dina Boluarte, e logo surgiram manifestações de protesto.
Vários Departamentos (Estados) do país, principalmente no sul, foram afetados por bloqueios de estradas e houve ataques a prédios públicos e tentativas de tomada de aeroportos.
A violência se espalhou para o sul, especialmente no Departamento de Puno, onde 19 pessoas foram mortas na cidade de Juliaca em 10 de janeiro.
As denúncias de que a polícia teria usado munição letal indiscriminadamente contra os manifestantes aumentaram a indignação e fizeram com que muitos decidissem transferir o protesto para a capital, apesar de as autoridades alegarem ter agido em legítima defesa e de forma proporcional.
Na verdade, o slogan da “tomada de Lima” foi usado em outras ocasiões para promover mobilizações na capital peruana que depois não tiveram muito impacto.
Desta vez, foi levantada pelos diferentes grupos do sul do país que decidiram marchar até a capital para exigir a renúncia de Boluarte.
O que inicialmente surgiu como uma iniciativa de comunidades indígenas, grupos de bairro e estudantis do sul do país, posteriormente se juntou a estudantes da Universidad Nacional Mayor de San Marcos e da Confederação Geral de Trabalhadores do Peru, um dos principais sindicatos do país, que convocou uma greve nacional nesta quinta-feira para coincidir com a “tomada de Lima”.
Nesta quarta-feira, na sede do sindicato em Lima, onde já se reuniram numerosos manifestantes, eles se apresentaram aos principais meios de comunicação de organizações locais que vieram dos departamentos de Huánuco, Ancash, Lambayeque, Tacna, La Libertad, Moquegua, Apurímac, o Vraem, Arequipa, Loreto, Cajamarca e Junín.
Eles prometeram que não deixarão Lima até que tenham alcançado seus objetivos de conseguir a renúncia da presidente, dissolver o Congresso e convocar eleições.
“O povo e as comunidades camponesas se mobilizam. Como é possível que tenhamos que vir a Lima para que entendam nossa agenda? Este governo está deslegitimado desde o primeiro dia”, disse Leonela Labra, representante de Cusco.
Caravanas de veículos com destino a Lima partiram de diferentes partes do país nos últimos dias, recebendo apoio em alguns pontos do caminho.
Em uma mobilização tão heterogênea há vários pedidos e reivindicações, mas os objetivos comuns são a demissão da presidente, a dissolução do Congresso e a convocação imediata de eleições.
Alguns também clamam por uma nova Constituição para o Peru e pela libertação do ex-presidente Castillo.
Eles acusam o governo das mortes nos protestos e afirmam que a ação policial violou os direitos humanos.
O que o governo diz
A presidente Boluarte reiterou que não pretende renunciar. “Meu compromisso é com o Peru, não com esse pequeno grupo que está fazendo o país sangrar”, afirmou.
Boluarte convidou os descontentes a se manifestarem em Lima, mas pediu que o façam de forma pacífica.
Também ofereceu diálogo, mas excluiu explicitamente a abordagem de aspectos como a dissolução do Congresso ou a reforma constitucional por estarem fora dos poderes presidenciais.
O governo prometeu que todas as mortes serão investigadas e o Ministério Público abriu um processo preliminar contra a presidente e seu primeiro-ministro, Alberto Otárola.
Pouco depois de suceder a Castillo, Boluarte afirmou que seu plano era encerrar o mandato de seu antecessor e permanecer no cargo até 2026.
Mas após a primeira onda de protestos, ela propôs antecipar as eleições e um acordo preliminar foi votado no Congresso para que elas sejam realizadas em abril de 2024.