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domingo 9 de fevereiro de 2025 às 15:42h

Prestes a ser comandado por João Campos, PSB vê desafios para se modernizar

ELEIÇÕES 2026, NOTÍCIAS, POLÍTICA


Nas últimas décadas, o PSB vislumbrou em duas oportunidades a possibilidade real de conquistar a Presidência da República. Primeiro, com o então governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). Em 2014, ele era apontado como o principal adversário de Dilma Rousseff, que concorria à reeleição. O governador de Pernambuco, porém, morreu num acidente aéreo a dois meses da eleição. Depois disso, em 2018, o partido apostou na popularidade alcançada pelo ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa como relator do processo do mensalão, um dos raros casos em que corruptos e corruptores foram condenados à prisão e cumpriram suas penas. Na pré-campanha, o ex-juiz aparecia bem situado nas pesquisas de intenção de voto, mas desistiu de concorrer sem dar maiores explicações. O fato é que havia divergências entre ele e os dirigentes do partido, particularmente em relação ao programa de governo. Barbosa era favorável à privatização de setores considerados não estratégicos. O PSB, por sua vez, pregava — como prega até hoje — a “gradual e progressiva socialização dos meios de produção”.

Quase oitenta anos depois de sua fundação e vislumbrando uma terceira oportunidade de conquistar o poder, o PSB está se preparando para debater a conveniência de promover uma mudança histórica. Em maio, o partido vai eleger uma nova diretoria. Se nenhuma reviravolta acontecer, a legenda passará a ser presidida pelo prefeito João Campos, de Recife, filho de Eduardo Campos. Aos 31 anos, ele é considerado uma estrela em ascensão, ao ponto de seus aliados já traçarem ambiciosos planos políticos para o futuro. O prefeito foi reeleito no ano passado em primeiro turno. Em 2026, deve disputar o governo de Pernambuco e, dependendo das circunstâncias, o partido quer tê-lo como presidenciável em 2030. Para viabilizar esse projeto, uma ala do PSB está propondo que se faça uma revisão do programa da legenda, eliminando algumas barreiras que estariam impedindo novas filiações, afastando potenciais eleitores e dificultando a consolidação de lideranças em alguns estados. A ideia é remover as referências programáticas ao socialismo, inclusive trocando o nome do partido. O “S” de socialista passaria a ser “S” de sociedade. O PSB seria o Partido da Sociedade Brasileira.

A proposta ainda não foi formalizada. O principal entusiasta dela é o deputado estadual Caio França (SP). Filho do ex-governador Márcio França, atual ministro do governo Lula, ele é amigo de João Campos e da namorada dele, a deputada federal Tabata Amaral. O parlamentar vai apresentar o pacote de sugestões ao futuro presidente do partido na próxima semana. Além de mudar o nome e de abolir o socialismo, essa ala mais jovem do PSB também vai propor mudar a identidade visual da legenda, deixando de lado o vermelho, uma cor tradicionalmente associada às legendas de esquerda. “Esse movimento encabeçado por algumas lideranças do nosso partido tem o objetivo de criar condições para que a gente consiga uma penetração maior no eleitorado de centro”, explica o deputado federal Jonas Donizette (PSB-­SP), outro entusiasta da ideia. Segundo ele, a manutenção de bandeiras históricas, embora importante, tem sido prejudicial do ponto de vista eleitoral. “Isso tem servido apenas para dar munição a ataques da direita”, afirma.

VISUAL - Logotipo do partido: proposta de abolir cores associadas à esquerda, principalmente o vermelho
VISUAL - Logotipo do partido: proposta de abolir cores associadas à esquerda, principalmente o vermelho (./Divulgação)

Não é a primeira vez que lideranças do PSB tentam suavizar o programa do partido. Vale lembrar também que a inspiração socialista do PSB é apenas retórica. Em 2020, já articulando uma aliança com o PT para derrotar Jair Bolsonaro, o partido passou a defender institucionalmente o respeito a várias formas de propriedade e meios de produção. Mesmo assim, o programa oficial do PSB ainda cita 54 vezes a palavra “socialismo”. A ideia agora é reduzir a zero.

Com o novo ganho de roupa na legenda, os entusiastas do projeto acham que finalmente o partido pode conquistar algo maior, firmando-se como uma referência de esquerda moderna ou uma sigla de centro-esquerda. Desde a redemocratização, o PSB disputou e perdeu duas eleições presidenciais com candidaturas próprias. Em ambas, nem sequer avançou ao segundo turno. Em 2002, quando Lula foi eleito pela primeira vez, o ex-governador Anthony Garotinho amargou o terceiro lugar. Em 2014, Marina Silva, atual ministra do Meio Ambiente, substituiu Eduardo Campos e chegou a ver no horizonte a possibilidade de desbancar Dilma Rousseff. Ela, porém, foi fulminada por uma bem-sucedida campanha de desinformação patrocinada pela petista.

A nova estratégia para tentar fazer o PSB chegar ao Palácio do Planalto já divide os dirigentes. Para alguns, é um erro abandonar ou negar as raízes socialistas. Para outros, a legenda deve mesmo priorizar o pragmatismo. “Em certos lugares do Brasil, como em São Paulo, o partido perde voto por isso. Em algumas regiões, o ambiente está contaminado por uma discussão ideológica rasa, que chega até a comparar os ideais do PSB com o que existe na Venezuela ou em Cuba. E isso não é verdade”, ressalta Jonas Donizette. O deputado não esconde que há um interesse muito particular da bancada paulista nessas mudanças diante da possibilidade de ter o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, como candidato ao governo de São Paulo em 2026. O estado tem o maior colégio eleitoral do Brasil e é um lugar onde a esquerda historicamente sofre grande resistência. Apesar disso, a “modernização” vai enfrentar resistências. O atual presidente do PSB, Carlos Siqueira, por exemplo, não gostou do que ouviu: “Não vejo sentido nisso, não vai nos levar a lugar algum, não vai vingar”.

Assessores do próprio vice-presidente têm restrições à ideia. Ex-governador do Distrito Federal e atual secretário de Alckmin no Ministério do Desenvolvimento, Rodrigo Rollemberg prega mudanças, mas ressalta que elas devem apontar em outra direção. “Precisamos renovar a forma de implementar as políticas públicas, manifestar empatia e oferecer alternativas para resolver os problemas das pessoas. O nome do partido é o que menos importa”, afirma. Procurado pela Veja, João Campos não quis comentar a polêmica. O irmão dele, o deputado federal Pedro Campos, atual líder do PSB na Câmara dos Deputados, disse que o assunto não está em discussão. “O que constitui a imagem de um partido são as ideias que ele defende, o que o partido faz e quem faz parte desse partido. Não a sua identidade visual ou seu nome”, afirma. Nas últimas décadas, o PSB teve uma trajetória política errante. Se comportou como uma força auxiliar do governo Lula desde o primeiro mandato, votou pelo impeachment de Dilma Rousseff e participou do governo de Michel Temer. Para a ala mais jovem, é hora de pensar em voar por conta própria, mas, antes disso, seriam necessários certos ajustes na bússola do tempo. Sai socialismo, entra sociedade. Só falta agora combinar com os “russos”.

Publicado pela revista Veja no dia 7 de fevereiro de 2025, edição nº 2930

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