Após pressão do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, o Conselho de Administração do Banco do Nordeste destituiu o presidente da instituição, Romildo Rolim, e nomeou no lugar dele Anderson Possa, que fica no cargo interinamente.
A decisão foi tomada nesta última quinta-feira (30), três dias depois de Valdemar divulgar segundo a Folha de S. Paulo, um vídeo em que pede a exoneração do presidente e de toda a diretoria do banco.
O líder do centrão, que foi condenado no processo do mensalão, indicou uma nova pessoa para ficar efetivo no lugar de Rolim: o engenheiro Ricardo Pinto Pinheiro. O nome está sob análise da Casa Civil, mas a tendência é que a indicação seja efetivada.
Em nota, o Banco do Nordeste informou que Possa, interino à frente da instituição, acumulará a chefia da diretoria de Negócios, a qual já comandava. A instituição tem outros cinco diretores, mas nem todos devem ser trocados.
O imbróglio no banco veio à tona após Valdemar criticar um contrato assinado pelo banco que estava em vigor desde 2003. No vídeo divulgado na segunda (27), o político deixou claro que a indicação da cúpula do órgão é do PL.
Rolim, presidente exonerado, comandava o órgão desde 2018 e se manteve no cargo no ano passado com apadrinhamento do PL, sobretudo do líder do partido na Câmara, Wellington Roberto (PB).
Antes deste episódio, Valdemar havia publicado vídeos nos quais expôs publicamente divergências com outras bandeiras de Bolsonaro.
O líder do centrão divulgou um vídeo na semana passada em que criticou a proposta do governo de fazer leilão para privatizar os aeroportos de Congonhas e Santos Dumont. Antes, fez outro expondo a posição contrária do PL ao voto impresso defendido pelo presidente.
Na votação de agosto que rejeitou a adoção do voto impresso, os dois principais partidos do centrão, PL e PP, foram cruciais para enterrar na Câmara a bandeira bolsonarista.
Apesar de serem aliados do presidente da República, as duas siglas deram apenas 27 votos a favor da medida, um terço de suas bancadas. Outros 36 deputados dessas duas legendas votaram contra e 18 se ausentaram, o que, na prática, contou como voto contário à PEC.
Desta vez, o pedido de exoneração de Rolim e de toda a diretoria do banco teve como pano de fundo a vontade de Valdemar de trocar a cúpula do órgão e uma denúncia de supostas irregularidades recebida pelo governo na gestão de recursos de um instituto contratado pelo BNB.
Bolsonaro recebeu notícias que foram publicadas no Ceará com a denúncia e cobrou explicações de Valdemar. Antecipando-se a uma decisão do Planalto, ele decidiu gravar um vídeo pedindo a demissão de toda a diretoria do banco.
Segundo integrantes do Planalto, com a denúncia, descobriu-se que a Oscip (organização da sociedade civil de interesse público) contratada para gerenciar microcréditos, que fazem o dinheiro chegar à ponta e são estratégicos em momento eleitoral, é gerenciada por uma pessoa filiada ao PT, o que irritou ainda mais o presidente.
O total de operações de crédito do BNB em 2020 foi de R$ 40 bilhões. Desse montante, R$ 15 bilhões foram em operações de microcrédito.
Politicamente, o Planalto avaliou que essa era uma forma de o PT continuar controlando recursos que vão parar nas mãos das populações mais carentes.
A Oscip é o Inec (Instituto Nordeste Cidadania). A entidade tem pessoas ligadas ao PT na gestão do órgão.
O Inec é contratado do banco desde 2003. Em nota, o Banco do Nordeste disse que a contratação do Inec “está em conformidade com a legislação vigente”. O banco também afirmou que “toda a estratégia de operação é definida pelo Banco do Nordeste”, cabendo ao parceiro privado a execução da operacionalização, em campo, pelos agentes de crédito.
“A troca do parceiro não se mostrava vantajosa em virtude do custo da operação e do risco de se perder o investimento feito em profissionalização e do tempo necessário para se percorrer uma nova curva de aprendizado e de ajustes inerentes a uma nova parceria”, justificou o banco em nota.
A instituição afirma que as renovações de contratos seguiram aspectos jurídicos e negociais e que os termos de cooperação entre o BNB e a oscip são “amplamente auditados”.
“Além da conformidade da prestação de contas, feita mensalmente pela área interna de microcrédito do Banco do Nordeste, gestora do termo, são utilizados outros instrumentos de governança”, continuou.