O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, pediu nesta sexta-feira (25) para o Kremlin ir para a mesa de negociações em dois pronunciamentos diferentes. Em um deles, o líder ucraniano afirmou que seu país pode adotar um “status neutro” — o que, na prática, significaria o abandono da ambição de entrar na Otan.
Em um discurso na televisão depois da meia-noite de sexta-feira em Kiev — poucas horas antes, portanto, do começo do ataque à capital, que começou às 4h locais—, Zelensky disse estar disposto a negociar sobre qualquer assunto:
— Não temos medo de falar sobre nada. Sobre garantias de segurança para nosso país. Não temos medo de falar sobre o status neutro, e não estamos na Otan no momento — afirmou, antes de ressaltar que essa condição tornaria seu país vulnerável a futuras agressões. — Mas que garantias e, mais importante, quais países específicos nos dariam [garantias]?
Um país neutro é um Estado que se mantém neutro em relação a conflitos, e evita entrar em alianças militares como a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). O termo, no entanto, é ambíguo, e diferentes países interpretam a neutralidade de forma diferente.
Nem todos os países neutros evitam qualquer aliança estrangeira, pois Áustria, Irlanda, Finlândia e Suécia, que se descrevem desta maneira, participam de uma aliança política na União Europeia e integram forças ativas de manutenção da paz da ONU.
Em outro pronunciamento na tarde de sexta-feira em Kiev, em uma mensagem de vídeo divulgada na internet, o presidente ucraniano pediu negociações, desta vez sem citar o status neutro:
— Eu quero mais uma vez fazer um apelo ao presidente da Federação Russa. Vamos sentar na mesa de negociações e parar as mortes.
Assim como ocorre com frequência desde o início da crise, o Kremlin respondeu de forma ambígua, com mensagens com sinais em duas direções contraditórias.
Primeiro, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse que Putin considera a declaração de Zelesnky “um movimento numa direção positiva” e prometeu “analisá-lo”.
Minutos depois, no entanto, o chanceler russo, Sergei Lavrov, disse que a Ucrânia “perdeu a oportunidade das negociações de segurança” e está “simplesmente mentindo” ao mostrar disposição para discutir um status neutro.
— O presidente Zelensky não disse a verdade, ele simplesmente os enganou — disse Lavrov. — Zelensky está mentindo quando diz quer discutir o status neutro da Ucrânia. Ele perdeu a oportunidade das negociações de segurança.
Lavrov afirmou que a diplomacia só terá lugar quando a Ucrânia depuser armas — isto é, se render.
— Estamos prontos para negociações, a qualquer momento, assim que as Forças Armadas ucranianas ouvirem nosso chamado e depuserem suas armas — disse o chanceler. — Ninguém irá atacá-los, ninguém irá feri-los, poderão voltar para suas famílias.
Entenda: Em três mapas, por que a posição da Ucrânia é estratégica
Há meses Moscou exige garantias de que a Ucrânia nunca se juntaria à Otan, o que é um objetivo do país declarado em sua Constituição, e nem permitiria que o bloco instalasse tropas e armas em território ucraniano.
A Rússia lançou sua invasão por terra, ar e mar na quinta-feira após uma declaração de guerra do presidente Vladimir Putin, no maior ataque lançado por um Estado a outro na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.
Em seus dois pronunciamentos, Zelensky criticou os países ocidentais, que, em sua opinião, não fazem o bastante para defendê-lo.
No primeiro pronunciamento, Zelensky disse que conversou com muitos líderes ocidentais, acrescentando que perguntou a alguns se eles admitiriam a Ucrânia na Otan.
— Todo mundo está com medo. Eles não respondem — disse ele. — Mas não temos medo. Não temos medo de nada. Não temos medo de defender nosso país. Não temos medo da Rússia.
A ofensiva russa avança rapidamente. O líder ucraniano acusou a Rússia de atacar alvos civis:
— Eles estão matando pessoas e transformando cidades em alvos militares — disse. — Isso é uma maldade e nunca será perdoado.
Já o chanceler russo também disse que Moscou não queria que “neonazistas” governassem a Ucrânia, uma mentira que tem sido propagada pelo Kremlin desde a invasão — Zelensky é judeu.