Atual presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), o deputado federal Pedro Lupion (PP-PR) tem conversado com outros integrantes da bancada ruralista e empresários do setor para alterar o estatuto do grupo e se reeleger para mais um mandato, segundo apurou o Valor. O pano de fundo desse movimento é manter a postura de mais oposição ao governo Lula e evitar uma aproximação com o petista.
Tradicionalmente, o vice-presidente da frente é eleito para suceder o presidente após um mandato de dois anos. O atual vice é o deputado Arnaldo Jardim (Cidadania-SP), que se declara de “centro” e é próximo do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB). Jardim foi relator de projetos importantes do Executivo, como o combustível do futuro, autor do Programa de Aceleração da Transição Energética (Paten) e presidente da comissão do marco legal do hidrogênio de baixo carbono. Em todos, buscou diálogo com o governo para aprovação.
Lupion tem argumentado a seus colegas, segundo relatos obtidos pelo Valor, que Jardim seria muito governista para exercer a presidência da frente e não contaria com a maioria dos integrantes para essa eleição. O agro, tem ressaltado nesses encontros, é “de direita” e exige postura mais combativa contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), como para enfrentar a permissividade com as invasões de terra.
Um dos exemplos citados por quem defende a postura mais “comedida” foi o cancelamento de reunião com o secretário do Ministério da Fazenda Bernard Appy sobre a regulamentação da reforma tributária na terça-feira para que a frente recebesse o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Lupion argumenta que foi comunicado em cima da hora da visita pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e que preferiu remarcar o debate para esta terça-feira (28).
A discussão em torno da sucessão foi precipitada por um discurso do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, em evento com produtores de etanol em abril. “Parabéns, Pedro, por liderar a frente. Aqui faço quase uma convocação: chegou a hora de planejarmos a sua sucessão e estamos diante do Arnaldo Jardim, que não pode fugir dessa missão, tem que ser o próximo presidente da FPA”, disse Fávaro na ocasião.
O movimento para alterar o estatuto e reeleger Lupion já estava no radar de aliados do deputado do PP, mas a fala antecipou e intensificou as conversas. A visão deles é que Fávaro busca maior influência no grupo e, com isso, se fortalecer no ministério. Mas a ala bolsonarista da frente rejeita qualquer mínima relação com o governo Lula. E parte das entidades que patrocinam o Instituto Pensar Agro (IPA), mantenedor da frente, também “não está à vontade” com uma aproximação.
“É necessário ser combativo nesse governo. Se não fosse a FPA juntar os parlamentares, não sei onde estaríamos. Estaríamos indo ladeira bem abaixo”, discursou o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Sementes de Soja (Abrass), Gladir Tomazelli, em evento do setor em Foz do Iguaçu (PR) na sexta-feira, ao fazer elogios a Lupion.
É necessário ser combativo nesse governo”
— Gladir Tomazelli
O parlamentar respondeu que tem “a honra de ser presidente em um dos momentos mais difíceis” para o agro. “Todos os dias eles [o governo] nos dão motivo para brigar, para reclamar. Infelizmente, nossa FPA deixou, por necessidade, de ser uma frente que era estritamente propositiva, pois tínhamos um governo aliado, para ser frente parlamentar que joga na defensiva, e somos obrigados a fazer isso o tempo todo”, afirmou no evento. Ele ressaltou que é preciso ter pontes com o governo e conversar para resolver problemas para a política agrícola, mas que a esquerda faz “oposição a nós” e que a bancada tem conseguido avançar suas pautas ao “vencer no voto”.
De outro lado, há um grupo dentro da bancada que defende o diálogo com todos os campos políticos com independência. Ex-presidente da frente, o deputado Alceu Moreira (MDB-RS) deu um “puxão de orelha” em Lupion durante jantar em Brasília recentemente e afirmou que o paranaense “tem seus arroubos” à direita, mas que “o caminho é o centro”.
Procurado pelo Valor, Jardim não quis comentar a sucessão, mas rejeitou a pecha de governista, ressaltou que é de “centro” e que não possui cargos no governo. “A FPA tem na defesa do produtor rural e do setor agro a sua razão de ser. E deve fazer isso prevalecer acima de qualquer circunstância política ou ideológica”, pontuou.
Já Lupion negou que esteja em conversas para se reeleger. Disse que Arnaldo Jardim é um dos “melhores” da bancada e seria “um excepcional presidente”. “Só falarei em sucessão na FPA no momento correto. Meu mandato só termina em fevereiro de 2025”, afirmou. Ele também rebateu as críticas de que colocaria a ideologia acima dos interesses do setor e afirmou que a unidade da bancada “foi comprovada novamente” na semana passada com a aprovação de projeto para proibir o pagamento de auxílios do governo a quem invadir propriedades, do qual foi relator.
A cúpula da frente trabalha para negociar um acordo entre os dois deputados e seus grupos. A estratégia é reeleger Lupion, que continuaria no comando nos dois últimos anos do governo Lula, mas oferecer uma “alternativa” para Jardim, como a relatoria de projetos no Congresso e continuar na vice-presidência. O plano mais ambicioso é que ele troque o Cidadania pelo PSD e assuma o lugar de Fávaro no Ministério da Agricultura com a promessa de melhorar a interlocução do governo com o setor. A troca é discutida desde o ano passado, mas Fávaro se manteve no cargo com apoio de Lula.