Manifestantes promovem passeatas em diversas cidades no Dia da Independência. País enfrenta grave crise econômica, com taxa de inflação que supera os 60%. O presidente da Argentina, Alberto Fernández, pediu neste último sábado (9) conforme a DW, unidade em um dia de protestos devido à crise que atravessa o país, com inflação galopante, e diante de pressões de militantes da ala mais à esquerda da sua coalizão de governo, que querem mais gastos públicos para aliviar o crescimento da pobreza.
Milhares de pessoas marcharam em diversas cidades da Argentina. As manifestações começaram por volta das 16h (hora local) sob o slogan “Vamos defender a República”, diante do Obelisco de Buenos Aires, monumento histórico da capital.
“Argentina sem Cristina” foi um dos slogans entoados pelos manifestantes, em alusão à vice-presidente Cristina Kirchner, líder de um setor de centro-esquerda do governo do presidente peronista Alberto Fernández.
A vice-presidente do país, chefe do Senado e ex-presidente duas vezes, entre 2007 e 2015, mantém uma disputa com Fernández, que é apoiado por setores de centro-direita do peronismo e governadores provinciais.
As divergências levaram à renúncia do ministro da Economia, Martín Guzmán, no último sábado. Ele entregou o cargo após constantes confrontos com a ala militante da coalizão governista leal à vice-presidente, que desaprovava sua política fiscal mais rígida.
Depois, um grupo de manifestantes se dirigiu à Casa Rosada, sede do Executivo do país, onde as tensões entre os participantes da marcha e a polícia se intensificaram.
Houve passeatas também em cidades como Mar del Plata, Rosário, La Plata, Mendoza e Santa Fé.
Convocados através das redes sociais, os argentinos escolheram o 9 de julho, Dia da Independência, para denunciar a situação política, num momento de plena crise na economia argentina, com inflação acima de 60%, déficit fiscal alto, e temores crescentes de inadimplência, da perda de credibilidade do peso argentino e de sua desvalorização.
“País precisa de responsabilidade econômica”
Em discurso para marcar a data, o presidente argentino pediu “unidade” e que diferentes facções trabalhem para isso.
“A história nos ensina que é um valor que devemos preservar nos momentos mais difíceis”, disse, acrescentando que o país precisa de responsabilidade econômica, diante das baixas reservas em moeda estrangeira e o aumento da inflação global “prejudicando seriamente” a economia local. “Devemos trilhar o caminho para o equilíbrio fiscal e estabilizar a moeda”, disse Fernández.
Com a inflação em alta e a sangria das reservas em moeda estrangeira devido aos altos custos de importação de energia, os investidores estão questionando a capacidade do país de honrar seus compromissos de dívida. Os retornos dos títulos do governo estão entre os mais altos do mundo, demonstrando a falta de confiança dos investidores.
A Argentina teve calote da dívida pública nove vezes desde sua independência da Espanha em 1816, e três vezes neste século, tendo o maior ocorrido no fim de 2001.
O país fechou no início deste ano um acordo de reestruturação de dívida de 44 bilhões de dólares com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Muitos culpam o FMI pelas políticas econômicas mais rígidas.
“Há uma crise monumental em nosso país”, disse Juan Carlos Giordano, um legislador socialista que se juntou à passeatas deste sábado. “A Argentina é uma semi-colônia capitalista acorrentada no FMI. Hoje estamos aqui para dizer que precisamos de uma segunda independência. A Argentina deve romper seus laços com o FMI que é o império espanhol do século 21.”