O deputado Rui Falcão (SP) lançou nesta quarta-feira (12) uma carta sobre a eleição do PT, o que sinaliza a possibilidade de sua entrada na disputa pelo comando do partido com o ex-prefeito de Araraquara Edinho Silva, nome preferido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
No texto, Falcão faz acenos às correntes de esquerda, que podem se unir em torno de seu nome. “A companheira Gleisi Hoffmann, ao me suceder na presidência do PT, a partir de 2017, conduziu com coragem a resistência à extrema direita e a preparação de nosso partido para a sucessão presidencial de 2022. Após a vitória, sempre foi uma referência no enfrentamento ao reacionarismo e no fortalecimento da esquerda dentro do próprio governo”, diz.
O deputado, da corrente minoritária Novo Rumo, presidiu o PT com o apoio da corrente majoritária, Construindo Um Novo Brasil (CNB), entre 2011 e 2017. A CNB, porém, agora tem Edinho como possível candidato. A expectativa é que Falcão tenha o apoio das correntes de esquerda na eleição marcada para 6 de julho. “O processo eleitoral interno que está sendo inaugurado nestes dias é uma chance para elevarmos o PT a um novo patamar, em um cenário interno e externo de conturbações extremas. Desse desafio depende, em grande medida, a reeleição do presidente Lula e a continuidade de nosso projeto histórico. A valentia, a generosidade e a integração de toda a militância é essencial, em mais essa hora da verdade”, afirmou o deputado.
Racha na eleição
O racha do PT veio a público com o vazamento de conversas de um encontro ocorrido na quinta-feira, no apartamento da nova ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann. Na reunião, Lula foi pressionado a não apoiar Edinho para a presidência do partido. De acordo com os relatos, revelados pelo colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo, o grupo disse ao presidente da República que o ex-prefeito não seria eleito por não contar com apoio integral da principal corrente petista, a Construindo um Novo Brasil (CNB), da qual o próprio Edinho faz parte.
Hoje, o PT é comandado pelo senador Humberto Costa (PT-PE), que exerce um mandato-tampão até julho, já que Gleisi, a antecessora, teve que se afastar do cargo para ingressar no governo. Edinho enfrenta resistências também entre outras correntes internas do PT, como a Democracia Socialista (DS).
Na terça-feira, houve uma conversa de Gleisi com Edinho, com o objetivo foi esfriar os ânimos. A nova ministra já defendeu um nome do Nordeste para presidir o PT.
Durante a tarde, a CNB divulgou uma nota sobre a reunião da semana passada. No texto, defendeu a necessidade de “unidade partidária”, o que foi lido como um recado para que Edinho trabalhe para vencer as objeções a seu nome. Aliados do postulante, por sua vez, encararam o comunicado como uma trégua.
Edinho é o nome preferido de Lula para a eleição interna marcada para julho. Estiveram no encontro da discórdia os integrantes da CNB que fazem parte da executiva nacional. No mesma ocasião, Humberto Costa foi escolhido para o mandato-tampão.
A corrente admite que houve discussões sobre a sucessão de julho. “Também foram feitas considerações sobre o perfil da futura direção, que seja capaz de conduzir o partido com unidade na defesa do governo Lula e das conquistas para a população, como foi durante toda a presidência de Gleisi Hoffmann”, diz a nota.
No domingo, em evento em Matão, no interior de São Paulo, Edinho manifestou a sua insatisfação com o vazamento, o que elevou a temperatura interna do PT. O ex-prefeito disse estar “indignado com o que aconteceu, da forma como aconteceu”.
Já o vice-presidente do PT, Washington Quaquá, um dos integrantes da ala que se opõe à eleição de Edinho, disse à colunista Malu Gaspar, do O Globo, que não há apoio de Lula, neste momento, ao nome de Edinho.
— Eu acho que quando o presidente Lula quer alguém, ele fala. Ninguém ouviu do Lula essa defesa do Edinho até agora — diz. — O Edinho usa um pretenso apoio para impor uma candidatura que não tem apoio da base, nem do comando dos principais estados.