“Foi a eleição mais fácil que venci”, escreveu ele
Um prefeito no interior de Minas Gerais foi reeleito no último domingo (6) mesmo sem conseguir falar durante toda a campanha depois de ter tido um câncer nas cordas vocais.
O que aconteceu
Gumercindo Pereira (MDB), de Onça de Pitangui (a 114 km de Belo Horizonte) no estado de Minas Gerais, foi diagnosticado com câncer nas cordas vocais ainda na eleição de 2020. Embora o tumor tenha se espalhado para a laringe, Pereira, 63 anos, conseguiu se comunicar naquela eleição. “Passei a campanha toda fazendo tratamento, mas ganhei”, contou o prefeito a Wanderley Preite Sobrinho, do portal Uol em entrevista pelo WhatsApp.
Mesmo depois de 35 sessões de radioterapia, o tumor voltou mais agressivo no ano seguinte. O médico recomendou ao já prefeito uma cirurgia de traqueostomia total, quando a laringe do paciente é retirada. À época, Pereira pediu ao médico que tentasse preservar sua voz. “Ele me respondeu na lata que o importante era minha vida, e que a voz era o de menos”, conta.
Em abril de 2021, ele passou pela cirurgia para retirar a laringe. Por um ano, não conseguiu falar nada. Apenas em abril de 2022 ele passou por uma cirurgia que lhe devolveria a voz: colocou uma prótese importada que liga a traqueia ao esôfago. “Comecei a falar com um pouco de dificuldade, mas dava para me comunicar”, diz ele sobre o aparelho, que precisa ser trocado de uma a duas vezes por ano. “Custa R$ 6.000, e o procedimento médico custa R$ 3.000”, conta o prefeito.
Em julho deste ano, porém, o prefeito parou de falar às vésperas da campanha de reeleição. “No dia 6, tive que trocar a prótese porque venceu o prazo de validade, só que o aparelho não foi colocado direito. Fiquei sem falar durante toda a campanha deste ano de 2024 por falta de agenda do médico para fazer a troca”, diz. “Estou aguardando o médico agendar, acredito que será neste mês ainda. Sem a prótese, nunca mais vou falar”, escreveu pelo aplicativo de mensagem.
Para falar eu faço assim: primeiro respiro, depois tampo a traqueia, o ar passa pelo esôfago e aí pela boca. A voz fica rouca.
Gumercindo Pereira, prefeito de Onça de Pitangui
“Foi a eleição mais fácil que venci”
Pereira, que já tinha sido prefeito entre 2005 e 2012, diz que se surpreendeu com a vitória por larga diferença. A cidade de 3.440 habitantes lhe deu 1.561 votos, ou 50,6%. Geraldo Tachinha (Avante) recebeu 39,3% dos votos, enquanto João Batista (PL) recebeu 9,96%. “Das três eleições que disputei, essa foi a mais fácil, venci com folga”, comemora o prefeito, que está totalmente curado.
Para se manter competitivo na campanha, o prefeito precisou de ajuda. Enquanto a esposa e os três filhos o apoiavam pelas redes sociais, assessores lhe auxiliavam na comunicação presencial. “Sempre que ia visitar ou fazer reuniões, levava uma pessoa comigo que fazia leitura labial e transmitia as minhas propostas.” No trabalho, a comunicação é escrita. “Repasso para a minha secretária, que já está acostumada”, diz o prefeito.
Eu tinha certeza de que ia ganhar, mas não com um resultados tão elástico. O povo me conheceu falando. Apesar de agora não falar, todos conhecem meu caráter.
Gumercindo Pereira, prefeito de Onça de Pitangui