Franziska Giffey conversou por 15 minutos com homem que se passava por prefeito de Kiev. Polícia investiga caso de deepfake. Ela não é a primeira autoridade europeia a cair no golpe.A polícia alemã investiga uma videochamada falsa entre um homem que dizia e parecia ser o prefeito de Kiev, Vitali Klitschko, e sua homóloga de Berlim, Franziska Giffey. As autoridades acreditam que o incidente tem motivações políticas.
A videochamada ocorreu na sexta-feira (24). A ligação foi interrompida por Berlim depois de 15 minutos, diante das suspeitas de que o homem que dizia ser Klitschko seria na verdade um impostor.
Segundo a porta-voz de Giffey, Lisa Frerichs, os primeiros 15 minutos de chamada trataram de tópicos já esperados na ligação que havia sido planejada há alguns dias, por exemplo, como a cidade alemã estava lidando com fluxo de refugiados ucranianos e os números.
As suspeitas de fraude surgiram quando o homem começou a abordar tópicos incomuns, entre eles, ucranianos que estariam aplicando golpes para conseguir benefícios sociais na Alemanha, se Berlim poderia ajudar jovens que desejam voltar a Ucrânia para lutar, e se a cidade alemã poderia apoiar Kiev a realizar uma parada gay. “Isso foi mais do que estranho à luz de uma guerra”, disse Frerichs.
A ligação foi então encerrada pelo gabinete da prefeita de Berlim. “Não há nenhum indício de que essa videochamada foi conduzida por uma pessoa de verdade. Aparentemente é uma deepfake”, divulgou posteriormente a prefeitura da capital alemã no Twitter.
Kiev confirma fraude
O embaixador da Ucrânia na Alemanha, Andriy Melnyk, confirmou posteriormente que Klitschko não participou de nenhuma videochamada com a prefeita de Berlim.
“Infelizmente, faz parte da realidade que a guerra está sendo travada em vários meios, inclusive online, para minar a confiança em métodos digitais e desacreditar parceiros e aliados da Ucrânia”, afirmou Giffey.
Ao jornal alemão Bild, Klitschko afirmou que esperar conversar com Giffey em breve por meio dos canais oficiais. “Também não preciso de um tradutor”, disse o ucraniano, que viveu na Alemanha durante anos, em referência a primeira pergunta do impostor.
No início da videochamada, o suposto Klistchko perguntou aos assessores de Giffey se ele poderia falar em russo e ser traduzido simultaneamente.
Giffey não foi a primeira autoridade vítima de deefake desde o início da guerra na Ucrânia. Os prefeitos de Madri, José Luis Martinez-Almeida, e de Viena, Michael Ludwig, também participaram de videochamadas com o suposto Klistchko.
A prefeitura de Madri disse que a conversa foi encerrada antecipadamente, quando os presentes desconfiaram estar sendo vítimas de um golpe. Já Ludwig afirmou que a videochamada decorreu até o final e não percebeu a manipulação. Ele, porém, destacou que não foram abordados temas sensíveis ou secretos na ligação.
O que é deepfake
Deepfake é um termo que descreve arquivos de áudio e vídeo criados com o uso de Inteligência Artificial.
Todos os tipos de deepfakes são possíveis. Trocas de rosto, em que o rosto de uma pessoa é substituído pelo de outra. Sincronização labial, quando a boca de uma pessoa falando pode ser ajustada a uma faixa de áudio diferente da original. Clonagem de voz, em que uma voz é “copiada” para dizer outras coisas.
Rostos e corpos totalmente sintéticos também podem ser gerados, por exemplo, como avatares digitais.
Imagens de uma antiga entrevista de Klitschko teriam sido usadas como base para criar a deepfake, na qual teria ocorrido uma sincronização labial em tempo real.