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segunda-feira 27 de maio de 2024 às 15:47h

Por que praticar a gratidão é indispensável, segundo a neurociência

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Antes celebrada em tradições filosóficas e religiosas, a gratidão agora ganhou maior atenção na pesquisa psicológica e neuropsicológica por seu profundo impacto na saúde mental. Do ponto de vista da neuropsicologia, a prática é uma ferramenta poderosa, devido à sua capacidade de engajar e transformar várias funções e processos cerebrais.

Quando expressada e vivenciada regularmente, a gratidão pode alterar a saúde física e psicológica

A seguir, veja dois mecanismos neuropsicológicos que explicam a eficácia da gratidão e por que incorporá-la à sua rotina diária é indispensável.

1. Ativação do sistema de recompensa do cérebro

A gratidão estimula a liberação de dopamina, conhecida como o neurotransmissor do “bem-estar”, em regiões cerebrais como a área tegmental ventral (VTA) e o núcleo accumbens. Essa liberação de dopamina aumenta os sentimentos de alegria e de contentamento e incentiva expressões repetidas de gratidão. O resultado é um ciclo de feedback positivo onde, quanto mais gratidão expressamos, mais nosso cérebro busca situações e comportamentos que gerem esses sentimentos gratificantes. Esse ciclo pode contribuir para uma perspectiva mais positiva da vida.

De acordo com o Centro de Pesquisa de Consciência Plena da UCLA, indivíduos que praticam gratidão exibem uma maior ativação no córtex pré-frontal medial após três meses do início da prática. Isso sugere que o engajamento consistente na gratidão pode induzir mudanças duradouras na função e estrutura cerebral, particularmente no sistema de recompensa do cérebro.

Além disso, a pesquisa sugere que ativar os centros de recompensa do cérebro por meio da gratidão pode aumentar a motivação e o comportamento direcionado a objetivos, o que é especialmente vantajoso para pessoas enfrentando depressão ou ansiedade – condições frequentemente caracterizadas por déficits motivacionais. A gratidão ajuda a interromper o ciclo de inatividade ao amplificar o desejo de buscar atividades gratificantes.

A liberação de dopamina associada à gratidão não apenas eleva o humor, mas também melhora a concentração e a vitalidade, facilitando realizações pessoais e profissionais. Além disso, ela mitiga o viés cognitivo negativo inerente à depressão e à ansiedade, destacando experiências positivas, o que leva a um humor melhorado e uma perspectiva de vida mais equilibrada.

2. Redução do estresse e ansiedade

A prática da gratidão tem mostrado reduzir significativamente os níveis de estresse e de ansiedade, um efeito que pode ser explicado por sua influência no sistema nervoso autônomo e nos centros de regulação emocional do cérebro. Os seguintes mecanismos neuropsicológicos oferecem insights sobre como a gratidão fortalece o bem-estar mental.

Ativação parassimpática:

Práticas de gratidão ativam o sistema nervoso parassimpático (SNP), responsável pelas funções de “descansar e digerir” do corpo. Essa ativação contraria a resposta de “luta ou fuga” gerida pelo sistema nervoso simpático (SNS) durante o estresse. A ativação do SNP induzida pela gratidão leva a uma sensação de relaxamento, reduzindo assim marcadores de estresse como os níveis de cortisol. Esse relaxamento apoia a saúde mental e física ao favorecer funções corporais como a digestão, resposta imune e sono, frequentemente comprometidas durante períodos mais estressantes. Pesquisas pioneiras corroboram a ligação entre gratidão e uma melhor qualidade subjetiva do sono, maior duração, menor latência e menor disfunção diurna, com o sono de qualidade fortalecendo a função imunológica e a resiliência contra doenças físicas.

Além disso, a gratidão está correlacionada com uma melhor variabilidade da frequência cardíaca, o que indica um sistema nervoso autônomo equilibrado, associado a uma melhor gestão do estresse e regulação emocional.

Modulação da amígdala:

A amígdala, crucial para o processamento emocional e para as respostas ao medo, influencia significativamente as reações ao estresse e à ansiedade. Um estudo recente publicado na revista científica “Brain, Behavior and Immunity” sugere que a prática regular da gratidão diminui a reatividade da amígdala a estressores. Consequentemente, indivíduos que expressam gratidão regularmente experimentam reações emocionais menos intensas durante situações desafiadoras, promovendo um estado emocional mais calmo e equilibrado.

Apoiada por evidências de pesquisa, essa regulação emocional aprimorada leva à redução dos níveis de ansiedade e melhora dos mecanismos de enfrentamento do estresse. Isso, em última análise, leva à resiliência emocional, capacitando os indivíduos a enfrentar adversidades com uma perspectiva positiva.

O poder da gratidão vai além do mero pensamento positivo e envolve profundos mecanismos neuropsicológicos que promovem o bem-estar. Compreender esses mecanismos pode ajudar os indivíduos a aproveitar as práticas de gratidão de forma mais eficaz para a resiliência psicológica e o bem-estar geral.

 

Por Mark Travers, ele é colaborador da Forbes USA. Ele é um psicólogo americano formado pela Cornell University e pela University of Colorado em Boulder. 

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