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quarta-feira 24 de julho de 2019 às 15:13h

Por que os movimentos de renovação do Congresso provocam a ira dos caciques

DESTAQUE, POLÍTICA


O atual confronto da deputada Tabata Amaral (PDT-SP) com a direção da sua legenda não é apenas mais um caso de insubordinação partidária. A disputa entre os dois lados revela também o choque que existe entre os movimentos de renovação política e as convencionais estruturas dos partidos nacionais. Tabata é vinculada ao Acredito, e sua conexão com o grupo foi questionada pelo ex-presidenciável Ciro Gomes e pelo comandante pedetista Carlos Lupi, que viram no voto “sim” da deputada à reforma da previdência uma deferência ao movimento maior do que a que ela tem para o PDT.

Movimentos como Acredito, Agora!, RenovaBR e outros têm se constituído desde a metade da década atual e viveram na eleição de 2018 seu maior momento. Os grupos elegeram uma bancada considerável no Congresso Nacional, com deputados e senadores pertencentes a todas as regiões do país e a um grupo vasto de partidos, indo da direita à esquerda.

A renovação política é a principal bandeira dos movimentos. Muitos foram fundados com o objetivo de promover uma espécie de “reconciliação” dos brasileiros com a classe política e de trazer, para as disputas eleitorais, cidadãos que têm interesse na política, mas rejeição aos personagens habituais da área. Mas apesar desse intuito comum, os movimentos se diferenciam entre si por ideologias distintas e também pela sua finalidade no cotidiano. Enquanto uns são voltados à reunião de pessoas de ideias similares, outros buscam capacitar os políticos, ainda que entre eles exista grande variação ideológica.

Início forte

Grande parte dos deputados federais e senadores vinculados a movimentos estão em seus primeiros mandatos. O espírito de “nova política” que marca a legislatura atual tem em alguns dos integrantes dos movimentos de renovação os seus protagonistas.

Tabata Amaral, antes da crise com o PDT, havia ganhado notoriedade por enquadrar em uma comissão o então ministro da Educação, Ricardo Vélez. Também deputado, Felipe Rigoni (PSB-ES), do Acredito e do RenovaBR, se destacou em um discurso que motivou um raro silêncio no plenário da Câmara. A bancada do Novo, com dois deputados ligados aos movimentos, mostrou mais empenho para a reforma da previdência do que o próprio PSL de Jair Bolsonaro.

O ex-ministro Marcelo Calero (Cidadania-RJ), deputado federal ligado ao Agora!, ao RenovaBR e ao Livres, obteve destaque com duros discursos contra Bolsonaro e contra o ex-presidente Michel Temer. Joênia Wapichana (Rede-RR), também do Agora!, se tornou a primeira mulher indígena da história da Câmara e tem liderado discussões em torno dos direitos da sua etnia. Kim Kataguiri (DEM-SP) repete no Congresso o perfil ativista que construiu como líder do Movimento Brasil Livre (MBL). E no Senado, Alessandro Vieira (Cidadania-SE) causou impacto logo no início do ano, quando propôs a “CPI da Lava Toga”, com o objetivo de apurar irregularidades no Judiciário.

Com esse cenário de atuações distintas, os conflitos aconteceram em outras ocasiões. A votação da previdência também causou rachas no PSB, que teve 11 deputados declarando aprovação ao projeto. Entre eles, Rigoni, Luiz Flávio Gomes (PSB-SP) e Rodrigo Agostinho (PSB-SP), todos vinculados a movimentos de renovação. Os parlamentares podem até ser expulsos do PSB.

“Vou aguardar a posição do partido em relação a que atitude vai tomar sobre a minha postura. Entendo que o mandato deve ser exercido com independência e coerência. Acredito que eu tomei a melhor decisão no momento, e vou continuar trabalhando e inclusive ajudando outras pessoas para entrarem na política e fazerem de um jeito diferente”, declarou Agostinho, que é ligado à Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (RAPS).

A questão da independência mencionada pelo parlamentar foi um dos pontos-chave no ano passado, quando os membros de movimentos que ainda não estavam filiados a partidos procuraram as siglas tendo em vista a candidatura em outubro. Muitos exigiram das direções partidárias um termo de compromisso que assegurava ao candidato não ser obrigado a seguir todas as determinações das legendas. A “independência combinada” foi o que possibilitou, por exemplo, Kataguiri ter apoiado Marcel van Hattem (Novo-RS) na eleição para a presidência da Câmara, mesmo com seu partido tendo candidato próprio, o vencedor Rodrigo Maia (RJ).

Cidadania, uma exceção

Em meio aos conflitos entre direções partidárias e movimentos, uma legenda parece se posicionar como exceção, abrindo caminho para um convívio pacífico: o Cidadania, antigo PPS. A sigla, desde o início de 2018, se aproximou dos grupos, em especial do Agora!. A aliança teria como ápice a candidatura de Luciano Huck à presidência da República, mas o apresentador acabou abortando os planos. Huck é conectado com o Agora! e também com o RenovaBR.

“O Cidadania foi o maior entusiasta [dos movimentos]. O Roberto Freire [presidente do partido], com muita consciência, firmou uma carta de compromisso entre os dois lados. Há muito respeito ao posicionamento dos movimentos”, declarou Calero.

Alessandro Vieira endossou que o partido “tem as portas abertas” para os movimentos. O senador foi eleito pela Rede mas trocou de partido ainda em 2018, antes de iniciar o seu mandato. “No Cidadania há espaço para integrantes do Acredito, do Agora! e do Livres”, ressaltou.

Esforço constante de capacitação

Um ponto elogiado pelos parlamentares que fazem parte dos movimentos é a rotina de capacitação que os grupos buscam fornecer a seus deputados e senadores. O RenovaBR, por exemplo, faz reuniões temáticas periódicas sobre temas como saneamento, previdência, segurança pública e outros. Houve também cursos específicos sobre o funcionamento do Congresso para os deputados e senadores estreantes.

Ligado ao Livres, Tiago Mitraud aponta a positiva “troca de conteúdo” que ele faz com o movimento. “Eles fornecem insumos para a minha atividade parlamentar e eu também repasso informações que eles repercutem nas redes”, disse. Pelo RenovaBR, o deputado se encontrou com o economista Bernard Appy, autor de uma das propostas de reforma tributária que corre no Congresso.

“Os movimentos são uma oportunidade importante para conhecer outros políticos, e aprender muito com essa rede. São também capazes de induzir a formação de novas lideranças, e lideranças que pensam a política de uma forma diferente”, acrescentou Rodrigo Agostinho.

Crítica a Ciro

Os diferentes partidos, movimentos e vinculações ideológicas não impedem os parlamentares que integram os movimentos de concordarem em um ponto: o de repúdio às declarações de Ciro Gomes que, por conta do imbróglio com Tabata Amaral, chamou os grupos de “partidos clandestinos”.

“Achei a fala dele uma lástima. É triste como alguém com a trajetória do Ciro, de contribuições para o Brasil, possa adotar no seu discurso o coronelismo mais tosco”, atacou Calero. Para Tiago Mitraud, o posicionamento de Ciro é “no mínimo falta de conhecimento. Ou mesmo má fé”.

Já Alessandro Vieira recordou a trajetória do ex-presidenciável: “Ciro sempre reage assim, ofendendo. Por isso que já passou por mais de 10 partidos, sempre com seu projeto personalista”.

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