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terça-feira 15 de junho de 2021 às 18:33h

Por que os EUA estão perdendo imigrantes empreendedores para outros países

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Ele queria estar perto de seus clientes norte-americanos, como Yahoo, Reddit e Headspace, ter acesso ao capital de risco do Vale do Silício, contratar engenheiros norte-americanos e ampliar sua empresa aqui. Obteve facilmente um visto L-1, destinado a executivos estrangeiros não imigrantes, já que havia aberto o negócio na Coreia do Sul; entretanto, em 2019, ele tinha apenas uma extensão restante. Ele se candidatou a um green card para obter residência permanente legal – e recebeu uma carta dizendo que provavelmente o pedido seria negado. “O aviso de intenção de negar significa: ‘Vamos expulsá-lo; mude de ideia’”, diz ele. “Tínhamos arrecadado mais de US$ 100 milhões em financiamento, tínhamos uma receita real de dezenas de milhões de dólares, estávamos gerando empregos. Foi um tapa na cara, sem dúvida.”

No fim das contas, Kim – cuja empresa hoje vale mais de US$ 1 bilhão e conta com a SoftBank e a Tiger Global entre os investidores – teve sorte. Passados dois meses, após discutir planos de contingência com seu CFO e seu diretor de recursos humanos e preencher pilhas de documentos adicionais, inclusive traduções das regras do serviço militar sul-coreano, ele obteve seu green card. Ele ainda se sente traumatizado com a experiência. “Você quer construir uma empresa, e não ser expulso”, diz Kim, que tem 40 anos e mora em São Francisco com a esposa e os dois filhos. “É como um anjo da morte pairando sobre você, quando não é cidadão.”

Antigamente um foco de empreendedorismo e fonte de esperança para os imigrantes, os Estados Unidos são hoje conhecidos por uma política de imigração complicada e altamente politizada que coloca obstáculos no caminho dos fundadores de empresas nascidos no exterior. O resultado, há anos, é que os imigrantes que querem abrir negócios no país se contorcem para se encaixar em uma das categorias de visto, como E-2 (destinado a investidores de países que têm tratados com os EUA) ou O-1 (voltado a pessoas com capacidade extraordinária), ou tentam improvisar algo com meia dúzia de outras categorias – nenhuma das quais foi realmente concebida para eles. A hostilidade escancarada do ex-presidente Donald Trump para com os imigrantes não está sendo repetida pelo atual governo, mas nem o presidente Joe Biden nem o novo Congresso tomaram as medidas necessárias para tornar os Estados Unidos um lugar mais acolhedor para recém-chegados altamente qualificados.

© Fornecido por Forbes Brasil

O problema básico é que os Estados Unidos não têm um visto de startup especificamente para fundadores, apesar de mais de uma década de tentativas de criá-lo. Durante anos, os Estados Unidos atraíram os melhores e mais brilhantes. Agora, no entanto, os empreendedores de todo o mundo têm opções em maior quantidade – e mais fáceis. Cerca de 25 países, entre os quais Singapura e o Reino Unido, estão cortejando empreendedores com vistos de startup criados na última década. “Não foram eles que tiveram a ideia. É uma ideia norte-americana que deixamos de pôr em prática”, explica Jeff Farrah, conselheiro geral da Associação Nacional de Capital de Risco (NVCA, na sigla em inglês).

“Há uma batalha mundial pelos talentos”, afirma Steve Case, o bilionário cofundador da AOL e da firma de investimentos Revolution, que tem falado abertamente sobre a importância de um visto de startup. “Queremos as melhores pessoas com as melhores ideias que queiram vir aos Estados Unidos, ficar nos Estados Unidos e montar sua empresa nos Estados Unidos. Caso contrário, corremos o risco de perder nossa liderança como nação mais inovadora e empreendedora do mundo.” Segundo ele, além de os imigrantes fundadores gerarem empregos em suas próprias empresas, existe um efeito cascata que leva a empregos adicionais na comunidade como um todo. “Sei que a imigração tem seus desafios, mas não vamos continuar sendo a nação mais inovadora se seguirmos tratando a imigração de forma difícil, caótica, irregular e cambaleante, sobretudo no que se refere aos empreendedores.”

“HÁ OUTROS LUGARES NO MUNDO INTEIRO ONDE O EMPREENDEDORISMO DECOLOU… PORTANTO, OS FUNDADORES TÊM MAIS OPÇÕES. E, NA MEDIDA EM QUE NOSSAS POLÍTICAS DE IMIGRAÇÃO NÃO SÃO MUITO RECEPTIVAS, AS PESSOAS NÃO QUEREM VIR.”br /strongJERRY YANG (TAIWAN)/strong: Patrimônio líquido de US$ 2,4 bilhões, Yahoo
“HÁ OUTROS LUGARES NO MUNDO INTEIRO ONDE O EMPREENDEDORISMO DECOLOU… PORTANTO, OS FUNDADORES TÊM MAIS OPÇÕES. E, NA MEDIDA EM QUE NOSSAS POLÍTICAS DE IMIGRAÇÃO NÃO SÃO MUITO RECEPTIVAS, AS PESSOAS NÃO QUEREM VIR.”br /strongJERRY YANG (TAIWAN)/strong: Patrimônio líquido de US$ 2,4 bilhões, Yahoo

Os empreendedores nascidos no exterior são o segredo do sucesso desta nação. Cerca de 3,2 milhões deles operam empresas nos Estados Unidos, o que representa 22% do total de imigrantes; a título de comparação, apenas 14% da população em geral é formada por donos de empresas. Eles detêm um número desproporcional de patentes de novas tecnologias, empregam 8 milhões de pessoas e estão representados como fundadores em mais da metade de todos os unicórnios financiado por capital de risco, inclusive a Databricks. Uma análise da lista de bilionários da Forbes encontrou 77 empresários estrangeiros que criaram empresas norte-americanas que, em conjunto, têm faturamento superior a US$ 528 bilhões e geram mais de 775 mil empregos. Entre os pesos-pesados corporativos com fundadores imigrantes estão Google, Tesla e Yahoo. “Se eu tivesse que me preocupar com visto, talvez o Yahoo não tivesse surgido”, diz Jerry Yang, o bilionário cofundador do Yahoo, que emigrou de Taiwan quando criança e era cidadão naturalizado na época em que abriu a empresa.

Continuar atraindo e mantendo todos esses talentos é primordial para o futuro dos Estados Unidos. Em seus últimos dias, o governo Obama preparou um novo programa denominado Regra do Empreendedor Internacional, o qual permitiria que fundadores estrangeiros com pelo menos US$ 250 mil em financiamento permanecessem nos Estados Unidos sem visto – mas o programa foi engavetado no governo Trump. Em maio, o governo Biden anunciou que está trazendo a regra de volta, mas ela continua sendo uma medida paliativa, sem um caminho claro para a residência permanente ou a cidadania.

Some-se a tudo isso as políticas anti-imigração dos anos Trump e o tempo de espera cada vez mais longo para obter um green card com base em um emprego – superior a cinco anos, em média, e ainda mais para pessoas de países como a Índia, que tem muitos candidatos, mas nenhuma vaga adicional alocada –, e os EUA correm o risco de perder seu status de lugar certo para abrir uma empresa. Nos primeiros três anos do mandato de Trump, até 2019 (os dados de 2020 ainda não estão disponíveis), o número de empresários imigrantes cresceu um total de 4,1%, em comparação com um salto de 11,3% nos três anos anteriores, de acordo com dados da New American Economy, um grupo de pesquisa e defesa da imigração, com base na Pesquisa sobre a Comunidade Norte-Americana do Departamento do Censo. Em 2019, o número de empresários nascidos no exterior diminuiu em 4,4 mil no país, a única queda anual desde o ano 2000.

“Os Estados Unidos perdem competitividade gradativamente. É como um pneu vazando ar”, explica Vivek Wadhwa, que é pesquisador na Faculdade de Direito de Harvard e autor do livro “The Immigrant Exodus: Why America Is Losing the Global Race to Capture Entrepreneurial Talent”, publicado em 2012. “O fato é que os melhores e mais brilhantes não vêm mais para cá.”

Ou vêm, mas não se incomodam em abrir empresas. “Conheço muitos doutores por Stanford que querem abrir empresa, mas não têm o status”, diz Xiaoyin Qu, imigrante chinês que já esteve na lista 30 Under 30 da Forbes. Ele recebeu um green card quando trabalhava no Facebook e saiu da empresa para fundar a Run the World, que promove eventos virtuais. “Conheço pelo menos 20 pessoas do Facebook que querem abrir empresa, mas não podem porque não têm visto.”

Os EUA não estão facilitando nada. Em conversas com mais de duas dezenas de fundadores estrangeiros, eles falaram dos problemas que enfrentaram e das decisões difíceis que tiveram de tomar. Alguns esperaram anos para abrir empresa por causa de seu status de imigração; outros se mudaram para o exterior devido a dificuldades com o visto no país.

Depois de concluir um mestrado em Carnegie Mellon, Genia Trofimova, hoje com 35 anos, voltou para a Estônia, país favorável às startups, e fundou a plataforma de coaching virtual Introwise. Dois anos depois, criou uma entidade nos Estados Unidos para poder participar de uma temporada na aceleradora Techstars, em Seattle. Ela está de volta à Estônia, mas dá um pulo na empresa norte-americana quando pode. Em sua última viagem aos Estados Unidos, Trofimova, que viaja com visto temporário de negócios B-1 (que não permite ao detentor trabalhar nos Estados Unidos), conta que ficou detida no aeroporto por cinco horas: “Eles me disseram que eu não parecia uma fundadora”.

Peyman Salehian, um iraniano de 34 anos, pensou em ir aos Estados Unidos para fazer pós-graduação depois de fundar sua primeira empresa, mas foi atraído pela Universidade Nacional de Singapura. Depois de concluir o doutorado lá em engenharia química e biomolecular, ele fundou a empresa de biologia sintética Allozymes com um amigo no fim de 2019. Pensou em se mudar para os EUA e recebeu ofertas de capital para startup, mas decidiu ficar em Singapura e obter financiamento de um grande investidor local. A Allozymes ainda está no começo, tendo levantado um quarto de milhão de dólares. “O investidor interessado em nós [nos EUA] queria que fôssemos aos Estados Unidos imediatamente e constituíssemos a empresa lá, mas não podíamos fazer isso”, lembra Salehian. “Conversamos com os advogados, mas não há [uma versão norte-americana do] EntrePass [visto de trabalho de Singapura para empresários estrangeiros], e qualquer outro tipo de visto leva mais tempo.”

Enquanto isso, Nilay Parikh, de 30 anos, chegou da Índia nove anos atrás para fazer mestrado em engenharia aeroespacial na Universidade do Sul da Califórnia e hoje trabalha em uma empresa de software de Chicago com um visto H-1B, o principal visto de três anos para funcionários de grandes empresas. Parikh teve a ideia de abrir uma startup que usaria inteligência artificial para aumentar a segurança das fábricas, mas não pôde fazer isso nos Estados Unidos devido às regras de imigração e não quis esperar até conseguir um green card. Sua solução: ele manteve o emprego nos Estados Unidos, mas constituiu a empresa, chamada Be Global Safety, na Holanda.

“Definitivamente, é muito complicado”, diz ele. “Eu estava cogitando Canadá, Dubai, Alemanha e Holanda.” Esta última venceu, segundo ele, porque oferece recursos para empresas de IA e porque Roterdã, cidade que ele ainda não visitou devido às restrições às viagens referentes à pandemia, é um polo aeroespacial e dispõe de um porto importante.

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