Foi por demandas de reajuste salarial para os militares que o presidente Jair Bolsonaro (PL) ganhou projeção para além da caserna, no final dos anos 1980.
Segundo a jornalista Bárbara Pombo, do jornal Valor, Bolsonaro chegou a ser preso. Depois, foi julgado sob a acusação de elaborar um plano para fragilizar o alto comando do Exército, situação que o levou em seguida a trocar a carreira militar pela política.
Adversários na corrida presencial de 2022 têm afirmado que o atual presidente da República foi expulso das Forças Armadas por mau comportamento. Não é bem assim. Saiba o que aconteceu:
Por que Bolsonaro foi preso?
A prisão aconteceu no dia 2 de setembro de 1986. Enquanto capitão do Exército, Jair Bolsonaro escreveu um artigo de opinião publicado pela revista “Veja” com o título “O salário está baixo”. No texto, ele reclamava da falta de reajustes salariais para a tropa o que, segundo ele, estaria ocasionado desligamentos de alunos da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman).
“Corro risco de ver minha carreira de devoto militar seriamente ameaçada, mas a imposição da crise e da falta de perspectiva que enfrentamos é maior”, diz, em um trecho da publicação, que estampa uma foto 3×4 de Bolsonaro fardado.
A exposição do assunto, sem conhecimento e autorização de seus superiores no Exército, lhe rendeu 15 dias de detenção. Bolsonaro foi enquadrado foi infração disciplinar.
Bombas nos quarteis
Quase um ano depois, em 1987, o então capitão apareceu novamente na revista, desta vez em reportagem que o apontava como um dos autores de um plano para explodir bombas em quartéis e outras unidades militares no Rio de Janeiro.
O plano chamado de “Beco sem saída” seria colocado em prática contra os anúncios de reajustes que viriam do governo de José Sarney e para tentar desestabilizar o ministro do Exército, Leônidas Pires Gonçalves. Bolsonaro negou participação. A revista, então, publicou um esboço do plano que, segundo a reportagem, teria sido feito à mão por Bolsonaro.
O caso foi investigado e o capitão julgado por uma comissão do Exército que decidiu, por unanimidade, pela expulsão dele do Exército. O Superior Tribunal Militar (STM), porém, em sessão secreta de quase dez horas, considerou as provas juntadas ao processo insuficientes e decidiu, em 16 de junho de 1988, pelo não afastamento do capitão.
“Considerando as profundas contradições existentes nos quatro exames grafotécnicos constantes dos autos, dos quais dois não apontam a autoria dos croquis enquanto outros dois atribuem-na ao justificante [Bolsonaro] – havendo, inclusive, opiniões diversas de dois peritos, que se manifestaram ora a favor e ora contra o acusado – este tribunal não encontrou, nos autos, elementos de convicção bastantes para imputar ao justificante, sem sombra de dúvida, a autoria dos citados croquis”, diz trecho da decisão do STM, reproduzida no livro “O Cadete e o Capitão, do jornalista Luiz Maklouf Carvalho (Todavia, 2019).
Bolsonaro foi expulso do exército?
Os fatos deram projeção a Bolsonaro, e não levaram a expulsão dele do Exército por mau comportamento.
Bolsonaro passou para a reserva em 1988 quando foi eleito vereador na cidade do Rio de Janeiro pelo Partido Democrata Cristão (PDC).