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terça-feira 7 de março de 2023 às 09:57h

Polícia Civil e Interpol fazem operação para prender seis em Lisboa por esquema internacional de fraude com criptomoedas

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A Polícia Civil no Distrito Federal realiza na manhã desta terça-feira (7) conforme Blog do Fausto Macedo, a operação Difusão Vermelha, junto da Interpol (Polícia Internacional), para prender em Portugal seis líderes de uma suposta organização criminosa que aplica golpes envolvendo criptomoedas. A corporação já identificou 945 vítimas da quadrilha no País – algumas delas perderam economias de toda uma vida. Os alvos da ofensiva foram indiciados por fraude eletrônica, organização criminosa, lavagem de dinheiro e evasão de divisas, cujas penas, somadas podem ultrapassar 50 anos de prisão.

As ordens foram expedidas pela 10ª Vara Federal da Seção Judiciária de Brasília que também determinou o bloqueio de contas bancárias dos investigados, assim como de exchanges internacionais de criptomoedas. Além disso, foi ordenada a derrubada de websites usado para a aplicação dos golpes. Agora, quando os endereços são acessados há o redirecionamento para uma página da Polícia Civil no DF, com um alerta sobre a quadrilha.

Com relação às prisões executadas na ofensiva, tratam-se de preventivas – quando a custódia não tem data para acabar. O alvo principal da ofensiva, líder da quadrilha, foi localizado no aeroporto de Frankfurt, ‘quando pensava ter escapado’, segundo a Polícia Civil no DF. A corporação destacou que o adido alemão no Brasil, representante da Bundeskriminalamt (BKA) – agência federal daquele país – foi ‘decisivo’ para a captura.

A Polícia Civil indica que os nomes dos investigados foram incluídos na chamada Lista Vermelha da Interpol, com autorização de captura dos alvos em qualquer País conveniado. “Trata-se do primeiro pedido dessa espécie deferido pela Justiça brasileira à Polícia Civil, estando a organização criminosa em funcionamento”, indica o delegado Erick Sallum, responsável pela operação.

A ofensiva visa desarticular o braço da quadrilha sediado em Lisboa, que aplica golpes em brasileiros, mas os investigadores apontam que o grupo sob suspeita ainda mantém escritórios em Praga, Tel Aviv, Dubai, Londres e Madrid. Tais unidades miram vítimas no México, Argentina, Uruguai e Chile, dia a Polícia Civil. Foi solicitado o compartilhamento de provas da investigação com a Interpol, para a remessa de informações aos respectivos países.

A investigação que culminou na operação aberta nesta manhã teve início no início de 2022 e identificou que a quadrilha sob suspeita opera há pelo menos quatro anos. De acordo com a Polícia Civil, as estratégias lançadas pelo grupo pareciam ‘enredo de filme’, tendo início com a montagem, por um homem tcheco que vivia em Portugal, de uma empresa de publicidade de fachada. No entanto, o escritório operava vendendo falsos investimentos na bolsa de valores por meio de empresas fantasmas de corretagem, dizem os investigadores.

Para angariar vítimas, a organização criminosa mantinha um call center com quatro sedes diferentes e empregava ‘centenas’ de brasileiros. Estes eram responsáveis para ligar por vítimas no País e oferecer opções de investimento – Day Trade e FOREX (Foreign Exchange Market – mercado de moeda estrangeira).

“As vítimas enganadas passavam a investir nas ações indicadas pelos criminosos, mas diferente do prometido, sempre perdiam tudo investido. Tomados pelo desespero das perdas, eram incentivados a fazer novos investimentos com esperança de reverter o prejuízo. Ocorre que os novos investimentos também geravam outras perdas, alimentando uma bola de neve. Depois de perderem todas suas economias e se endividarem ainda mais em bancos, quando as vítimas não tinham mais um centavo para aplicar, os criminosos cortavam os contatos telefônicos e elas ficavam sem a quem recorrer”, explicou o delegado Erick Sallum.

O responsável pela operação diz ainda que as apurações levantaram provas sobre um ‘ambiente sociopático dentro da empresa’. “A figura de Jordan Belfort (O Lobo de Wall Street) era venerada. Em festas da empresa havia premiações aos melhores “vendedores” e grande ostentação de riqueza. Nos grupos de WhatsApp da empresa os “gerentes” incentivavam os “vendedores” a ver o filme protagonizado por Leonardo Di Caprio e eram sistematicamente induzidos ao mesmo comportamento. O lema na empresa era: “Pensem em vocês e em suas famílias, esqueçam as vítimas”, indicou.

A Polícia Civil explicou ainda que, para dar ‘ar de legalidade’ ao golpe, os investigados montaram sites de empresas fictícias – Paxton Trade, Ipromarkets, Ventus Inc, Glastrox, Fgmarkets, 555 Markets, ZetaTraders. As vítimas faziam cadastros nesses endereços e usavam um aplicativo para poder fazer os supostos investimentos – mas eles nunca chegavam ao mercado de valores, tratando-se de uma simulação, diz a Polícia Civil.

Os valores eram desviados para contas pessoais dos criminosos, enquanto as vítimas pensavam que tinham perdido tudo na bolsa de valores. O delegado Erick Sallum afirma que foram identificadas vítimas que perderam R$ 1,5 milhão, assim como outras que gastaram dinheiro que seria usado para tratamento de câncer de familiares e até mesmo todo o montante recebido de heranças.

Os investigadores apontam que a operação criminosa foi estruturada ‘propositalmente direcionada a atacar vítimas somente no Brasil’. “Uma vez que eles estavam sediados em Portugal e todas as vítimas estavam localizadas apenas no Brasil, as autoridades portuguesas ficavam de mãos atadas, pois sem vítimas para comprovar as alegações, a investigação ficava obstaculizada”, explica a Polícia Civil. A corporação destaca a cooperação internacional com a Polícia de Segurança Pública de Portugal.

Durante o inquérito, a Polícia Civil lançou mão de diferentes diligências, inclusive utilizando tática da quadrilha para intimar os investigados a prestar depoimentos no bojo da apuração. Segundo a Polícia, a quadrilha usava aplicativos para mascarar números internacionais, simulando chamadas com o código de área de Brasília (61).

Os policiais usaram a mesma estratégia e simularam números portugueses para ligar para os investigados. Quando os funcionários da empresa atendiam, eram prontamente intimados. “Sem terem como alegar que não sabiam da intimação, eram forçados a comparecer e prestar esclarecimentos via videoconferência com o Delegado. A partir destas informações, a PCDF montou o quebra-cabeça”, narrou a corporação.

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