A menos de uma semana do primeiro turno, a Polícia Federal do Amazonas apreendeu em Manaus uma sacola e uma caixa de papelão contendo malotes de dinheiro, que seriam transportados em um avião fretado. A aeronave partiria do Aeroclube do Amazonas em direção ao município de Jutaí, distante 750 km da capital amazonense. A ação da PF faz parte de uma operação em portos e aeroportos do estado para reprimir práticas de crimes eleitorais na região.
Manaus foi o assunto do primeiro capítulo da série do jornal O Globo sobre os impactos da ação de quadrilhas em disputas eleitorais. Em reportagem publicada neste domingo, foi revelado como o Comando Vermelho veta pedidos de voto nos territórios que domina, barra corpo a corpo de políticos e ordena que moradores retirem propaganda de carros e redes na capital amazonense.
Na Zona Leste, traficantes anunciam acordos com candidatos em troca de obras públicas, como o asfaltamento de vias, e vetam a presença de outros postulantes. Em outras regiões, políticos são obrigados a pagar “pedágios” em dinheiro ou cestas básicas para fazer campanha. O tráfico também impõe seu próprio código eleitoral nas periferias e proíbe moradores de comparecer a eventos políticos ou usar material de campanha e até de declarar voto nas redes em nomes não chancelados.
Além disso, diálogos obtidos pela Secretaria estadual de Segurança no celular de um chefe do tráfico, em 2020, escancaram como funcionam as negociações entre traficantes e candidatos na campanha. Na ocasião, Lenon Oliveira do Carmo, o Bileno, apontado à época como número dois da hierarquia do CV no Amazonas, foi capturado no Ceará e teve seu aparelho apreendido.
Após enumerar condições para apoiar o candidato, o traficante explicou ter sete favelas com cerca de 30 mil eleitores sob seu controle na Zona Leste. Por fim, estipulou um valor para o acordo: “Preciso de um ‘faz me rir’, pede para eles adiantarem 40 (mil reais)”. Bileno prometia ainda que, com o negócio fechado, organizaria caminhadas e carreatas nas comunidades.