Projeto no Senado
A proibição de pesquisas autofinanciadas é um dos pontos do projeto que trata do Código Eleitoral, já aprovado na Câmara dos Deputados, mas ainda sem consenso no Senado. O relator, senador Marcelo Castro (MDB-PI), defende acabar com essa modalidade.
— O que um instituto ganha em fazer a pesquisa de um candidato? É como se fosse uma loja que não vende as suas mercadorias. Isso serve para esconder quem o contratou, geralmente com dinheiro vivo — disse Marcelo Castro.
Em fevereiro, o TSE aprovou uma resolução para dar mais transparência às pesquisas autofinanciadas. Neste ano, as empresas são obrigadas a mandar à Corte o Demonstrativo de Resultado de Exercício (DRE) do ano anterior para comprovar que tem capacidade financeira para custear os seus próprios levantamentos.
Especialistas em eleições e representantes de empresas do setor também atribuem a alta à popularização dos métodos de coletas de dados. Se antes os levantamentos eram feitos pessoalmente, hoje, com processos automatizados, é possível enviar uma série de perguntas somente com uma base de e-mails ou telefones.
Maurício Moura, presidente do Instituto Big Data, avalia que a proliferação dos institutos de pesquisas permite que os levantamentos não fiquem restritos aos grandes centros urbanos.
— O mercado começa dialogar com mercados com mais oferta e competição como Europa, México e Estados Unidos. Nesses países o grau de especialização local e regional explica a maior oferta de institutos. Isso vem acontecendo no país. Estamos saindo de um regime duopolista e ampliando oferta de institutos — afirmou Moura.
Pesquisas contratadas
Parte dos levantamentos é contratada pelos próprios partidos políticos, que testam o potencial eleitoral de seus quadros antes de oficializar as candidaturas. A sigla que mais gastou até agora com pesquisas foi o PL, do ex-presidente Jair Bolsonaro, que investiu R$ 199 mil em municípios nos quais pretende disputar a prefeitura. A legenda, por exemplo, contratou dois levantamentos, em Santos (SP) e em Londrina (PR), cada um por R$ 40 mil.
Na cidade do litoral paulista, a legenda avalia lançar a deputada federal Rosana Valle. Já na cidade do norte paranaense, ainda não há consenso se o nome da urna será o do deputado Filipe Barros ou o do presidente da Companhia de Habitação (Cohab), Bruno Ubiratan.
A segunda legenda que mais gastou com pesquisas foi o PSD, 18 ao todo, apenas em cidades do interior do Piauí. O custo total foi de R$ 66,5 mil — cada levantamento variou entre R$ 3,5 mil a R$ 5,5 mil — financiados por meio do Fundo Partidário da sigla comandada por Gilberto Kassab. O Republicanos piauiense também contratou quatro pesquisas, três delas na capital, Teresina, gastando ao todo R$ 34 mil. Já o PT, partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, registrou apenas uma sondagem, em São João do Arraial, também no interior do Piauí.
O estado que mais teve pesquisas registradas, contudo, foi Goiás, com 157 levantamentos até o momento. A de maior valor foi contratada pelo PL, que vive um racha na definição de quem será candidato na capital, Goiânia. O partido gastou R$ 34 mil para checar a viabilidade do deputado Gustavo Gayer (PL-GO), que já se lançou como pré-candidato, mas enfrenta resistências internas.
Para o cientista político Carlos Pereira, da Fundação Getulio Vargas (FGV), com a polarização eleitoral das últimas disputas, houve uma corrida para que os candidatos testem quais são suas chances.
— A pesquisa não determina o voto do eleitor, mas influencia principalmente na sua decisão de votar de acordo com suas convicções políticas e ideológicas (voto sincero) ou estrategicamente (voto útil) — afirmou.
Há ainda uma percepção de que os pré-candidatos precisam gerar constantemente conteúdo para as suas redes sociais — e uma pesquisa favorável serve de material para ele divulgar ao seu eleitor.
— Uma parte da luta política hoje é feita por meio de convencimento da opinião pública. Isso é uma consequência das redes sociais e da ampliação da circulação dessas informações e da maneira como elas impactam o debate político — afirmou Rafael Cortez, do Instituto de Direito Público (IDP).