O início do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva divide as avaliações da comunidade evangélica até aqui. Nesse segmento, que corresponde a mais de um quarto da população, são 31% os que avaliam a gestão petista como boa ou ótima, 32% os que a veem como regular, e 32% os que a classificam como ruim ou péssima. Os dados são da nova pesquisa do Ipec (ex-Ibope), realizada entre 2 e 6 de março, que mostra também que Lula tem 41% de avaliação positiva, supera Bolsonaro, mas não empolga como em outros mandatos.
A desaprovação ao governo é maior nesse estrato do que na população em geral, onde 41% têm percepções positivas, contra 24% que avaliam mal a administração de Lula. Na comparação com os católicos, a diferença é ainda maior: 45% dos seguidores dessa religião aprovam o governo e 21% desaprovam.
A resistência dos evangélicos a Lula reflete ainda efeitos do período eleitoral, quando o ex-presidente Jair Bolsonaro, apoiado por pastores, fez ampla campanha contra o petista entre os fiéis. Bolsonaro deixou a Presidência com alto índice de aprovação da comunidade evangélica: 50% elogiavam sua gestão (11 pontos percentuais acima da média geral), contra 23% que a criticavam (13 pontos abaixo da média).
— É preciso enxergar o copo meio cheio: a avaliação positiva está muito próxima da média geral, não destoou muito. Então é um bom número para o Lula. Acredito que haja aí uma situação de pêndulo, em que por um lado o fato de ser evangélico empurre a pessoa a simpatizar mais com o Bolsonaro, mas sua condição social e a lembrança da bonança nos governos anteriores do Lula a empurre para o atual presidente.
Relação de desconfiança
Os dados do Ipec indicam que, além de aprovar menos a gestão de Lula, os evangélicos também desconfiam mais do presidente. Enquanto 53% da população declara acreditar em Lula, só 39% dos seguidores dessa religião afirmam o mesmo. Mais da metade (58%) dos evangélicos diz não confiar no mandatário.
Em dois meses e meio de governo, Lula fez pouco para buscar reduzir a desconfiança que enfrenta dentro dos templos evangélicos. O plano de criar um um braço do governo que dialogue com pastores de pequenas e médias igrejas chegou a ser discutido na atual gestão, mas acabou deixado de lado devido à resistência de líderes do PT. Tampouco a gestão Lula abriu diálogo com a Frente Parlamentar Evangélica no Congresso.
A falta de acenos por parte do Planalto impede que o outro lado se desarme. A Igreja Universal manteve nos últimos meses publicações críticas a Lula e ao Partido dos Trabalhadores, como num texto divulgado em dezembro pela Folha Universal: “Lula não é novidade. O PT não é novidade. Já conhecemos seu modo de governar, que quebrou o Brasil e foi responsável pelo maior escândalo de corrupção já visto neste país. Não existe razão para pensar que algo seria diferente desta vez. Se temos que esperar alguma coisa para o próximo mandato de Lula, é que o PT se manterá fiel à sua natureza e será ainda mais PT”.
A pesquisa do Ipec foi a campo no período de 2 a 6 de março e realizou entrevistas presenciais com 2 mil pessoas de 16 anos ou mais em 128 municípios do país. A margem de erro é estimada em dois pontos percentuais para mais ou para menos, mas varia quando são analisados recortes menores do universo total pesquisado.