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terça-feira 5 de maio de 2020 às 17:21h

Pesquisa da Fiocruz indica avanço da covid-19 em cidades do interior

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A pandemia do coronavírus já espalhou casos por 71,5% das regiões brasileiras e avança em direção às cidades do interior, onde há menor oferta de Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs) e respiradores.

A conclusão é de pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro. Eles compararam dados da semana de 27 de março a 23 de abril com os da semana de 17 a 23 de abril e constataram que a doença já é registrada em 100% das regiões mais populosas, e que o número de regiões menores com casos confirmados mais do que triplicou.

A nota técnica com as informações foi divulgada ontem (4) pelo Instituto de Comunicação e Informação em Saúde (Icict/Fiocruz). O estudo usa dados sobre saúde da pesquisa Região de Influência das Cidades (Regic), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que identificou os deslocamentos intermunicipais da população que busca serviços de saúde e agrupou as cidades em regiões.

O vice-diretor do Icict/Fiocruz, Christovam Barcellos, alertou que o Brasil não conseguiu conter a disseminação da doença dos grandes centros para as cidades menores, e isso vai gerar uma pressão sobre os sistemas de saúde.

“Se a gente já tem algumas dessas cidades maiores sobrecarregadas, com a interiorização podem começar a aparecer nelas muitos casos vindos do interior, como uma segunda onda. Por isso, Itália e China tentaram reter o fluxo entre regiões para limitar a epidemia”, disse o pesquisador, lembrando os bloqueios em Wuhan, na China, e na região da Lombardia, na Itália.

Na primeira semana analisada (27/03 a 02/04), a doença havia chegado a 158 regiões brasileiras (20,8%), número que saltou para 542 (71,5%) na segunda semana (17/04 a 23/04). Entre as 76 regiões que somam mais de 500 mil habitantes, 100% já registram casos e 88,2% já contabilizam mortes causadas pela covid-19.

Barcellos adianta que, na semana que vem, deve ser publicada uma nova análise para acompanhar esse movimento em uma terceira semana, mas já é possível identificar que, a partir da expansão nas capitais e cidades maiores, a transmissão da doença avança agora em direção a cidades médias e pequenas.

Entre as regiões que somam 100 mil a 500 mil habitantes, 92,1% já anotam casos, e 39,6%, mortes. Na primeira semana da pesquisa, os percentuais eram de 34,7% e 3%.

A expansão da doença também foi percebida em 68,4% das regiões de 50 mil a 100 mil habitantes, e em 48,4% das que concentram 20 mil a 50 mil habitantes. Antes, só havia casos confirmados em 15,8% e 7,3% dessas regiões, respectivamente.

Nas regiões com até 20 mil habitantes, a presença da doença aumentou de 3,7% para 22,2%. Duas dessas regiões já registraram óbitos, o que representa 3,7% do total.

A nota técnica destaca que 50% das regiões de até 100 mil habitantes não têm leitos de unidades de terapia intensiva (UTI) e, quando considerada a presença de respiradores nos serviços de saúde públicos, as cidades menores também ficam atrás das maiores. A mesma nota considerou os números de respiradores de cada cidade em dezembro de 2019 e comparou com a população contabilizada pelo IBGE naquele período.

Enquanto as regiões com mais de 500 mil habitantes têm, em média, quase 20 respiradores no Sistema Único de Saúde – SUS – para cada 10 mil habitantes, entre as regiões de 20 mil a 100 mil habitantes este número gira em torno da metade.

Nesse grupo, a pesquisa alerta que há regiões com situação alarmante, com menos de três respiradores para 10 mil habitantes. Diante da compra de novos respiradores por autoridades locais, estaduais e nacionais, Barcellos aponta que a distribuição desses equipamentos pode ser orientada pelas carências identificadas na nota técnica.

Outro ponto importante é a necessidade de discutir as medidas de isolamento e afrouxamento de forma conjunta, já que a circulação em uma cidade da mesma região pode fazer com a doença volte a um município.

“Cidades não existem de forma isolada e a avaliação das redes de conexão de cidades deve ser considerada tanto para o planejamento de resposta quanto para definir medidas de relaxamento do isolamento social”, afirma um trecho do documento.

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